5 
 + Bienal / Alguns ecos na mídia, recolhidos em meio a avalanche dos últimos dias:

Folha de S.Paulo (texto dos curadores):
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2013/10/1351801-as-cidades-em-processo.shtml


Globonews:
http://g1.globo.com/globo-news/jornal-das-dez/videos/t/todos-os-videos/v/bienal-de-arquitetura-de-sao-paulo-ocupa-varios-pontos-da-cidade/2885663

Metrópolis, TV Cultura:
http://www.youtube.com/watch?v=MTG-LXMNZJk&feature=c4-overview&list=UUjOJvvYe6tyEHY21OD33h8A
(nesta, destaque para a maquete feita por alunos do CAU/PUC-Rio de um dos "Bairros Verticais" que Sergio Bernardes propôs para o Rio, em 1965, e pode ser vista agora em escala 1:125, no Centro Cultural São Paulo)



 
4











3
Dia 10, quinta-feira: palestra de Francesco Careri, " Walkscapes. O caminhar como pratica estetica" , 14 hs, auditorio FB8, ed. Frings, PUC-Rio.


2

Educação /  "O professor é meu amigo. Mexeu com ele, mexeu comigo."
Pilotis da PUC aceso em debate sobre a greve dos professores da rede pública (estadual e municipal) do Rio de Janeiro e os violentos confrontos com a polícia nos últimos dias. 

Posto 10 / 13


1
Nem tudo são flores / Eu não vi o filme "Flores raras e banalíssimas", mas também fiquei pasma quando soube como alguns dos nossos maiores arquitetos foram simplesmente ignorados - quando não tiveram suas melhores obras (uma casa premiada na Bienal de São Paulo, inclusive) intercambiadas por obras de outros arquitetos, simplesmente.

Identificar os projetos e papéis de cada um (Sergio Bernardes, Affonso Eduardo Reidy, Roberto Burle Marx, entre outros) não desmereceria em nada o valor extraordinário de Lota. Pelo contrário, mostraria como ela foi capaz de construir e coordenar uma equipe notável, composta por grandes profissionais, em prol da realização de um dos espaços públicos mais extraordinários do Rio e do mundo: um parque de 6km de extensão à beira-mar, onde antes eram só pistas expressas.

Isso também ajudaria a colocar em foco muitas das tensões e conflitos próprios da arquitetura e da sociedade brasileira - que, pelo que se vê, ainda há quem insista em continuar a varrer para debaixo do tapete.

3


Walkscapes / O arquiteto Francesco Careri, professor da Università degli Studi Roma Tre, estará na PUC dia 10 de outubro apresentando seu livro "Walkscapes: o caminhar como prática estética", um trabalho de referência que discute a expansão do campo disciplinar da arquitetura e a crise das suas categorias interpretativas tradicionais a partir do caminhar como ato primário de transformação do território e construção da paisagem, ação estética e intervenção urbana.
O evento é uma iniciativa do Programa de Pós-graduação em Arquitetura da PUC-Rio, realizado em parceria com o Departamento de Artes e Design, o Curso de Arquitetura e Urbanismo e o Instituto de Estudos Avançados em Humanidades da universidade. 
A palestra será no auditório FB8 (edifício da Amizade, ala Frings, oitavo andar, com acesso pelo sexto andar), em espanhol. 
O livro, já publicado em inglês e espanhol com prefácio de Gilles A. Tiberghien, está sendo lançado agora pela editora Gustavo Gili em português. A apresentação da edição brasileira, escrita pela profa. Paola Berenstein Jacques, está aqui:
E o trabalho no qual Careri está envolvido - que inclui "walkshops" por várias cidades do mundo, e tem origem no grupo nômade Stalker, formado originalmente por jovens estudantes de arquitetura italianos - pode ser visto aqui:
http://www.osservatorionomade.net/


(na imagem acima, uma das muitas versões da New Babylon, a cidade-nômade de Constant - litografia, 1963)
2
Vida e Morte na Amazônia / No caderno "Ilustríssima" da Folha de S.Paulo de ontem, um belo artigo sobre Thiago de Mello abre uma discussão importante sobre o estado de conservação de obras pouco conhecidas de Lúcio Costa na Amazônia: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2013/09/1347835-o-poeta-e-a-floresta.shtml

O autor, jornalista Claudio Leal, esteve recentemente nas casas projetadas por Lúcio Costa para o poeta e documentou seu estado atual. As fotos não foram publicadas no jornal, mas estão aqui, por gentileza do autor. E como estou citada na matéria, reproduzo abaixo também as respostas que dei às suas perguntas, na íntegra:

Casa em Porantim do Bom Socorro - primeiro projeto de Lucio Costa para Thiago de Mello, anos 70 (única incluída pelo próprio Lucio Costa em seu livro, "Registro de uma vivência")


Casa em Paraná do Ramos, segundo projeto de Lucio Costa para Thiago de Mello, anos 90


Casa em Porantim do Bom Socorro



Torreão, Porantim do Bom Socorro


Casa em Porantim do Bom Socorro

Casa na Freguesia do Andirá, terceiro projeto de Lucio Costa para Thiago de Mello, anos 90 (residência atual do poeta, que está bem conservada e não se inclui no contexto das casas de Porantim do Bom Socorro e Paraná do Ramos)
- Qual a importância arquitetônica das casas de Thiago de Mello em Barreirinha, projetadas por Lúcio Costa?
As casas são exemplares raros de inflexão da linguagem arquitetônica moderna - em seu caráter por princípio universalizante - a uma situação muito específica, do ponto de vista cultural, climático etc. E tem, por isso mesmo, um valor inestimável para o quadro da arquitetura no Brasil. Se Lucio Costa já havia trabalhado com procedimentos semelhantes num projeto dos anos 1940 - o Park Hotel de Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, também com estrutura de madeira - aqui o contexto amazônico é determinante, e se soma ao fato da casa ter sido projetada para um poeta - ou seja, trata-se também de um produto do encontro de dois raros artistas brasileiros, e ao mesmo tempo um testemunho extraordinário do pensamento de Lucio Costa e do modo de habitar de Thiago de Mello.
- É válido o pleito do poeta amazonense de querer que os imóveis sejam tombados, pelo seu valor histórico e arquitetônico?
Mais que o tombamento, deve-se garantir a preservação das obras. O tombamento é um instrumento extremo, que por si só não garante a preservação da obra em sua integridade - como se vê pelo estado lastimável em que se encontram várias obras tombadas, constantemente ameaçadas pelo descaso e a má conservação, a começar pela própria obra máxima da arquitetura moderna no Brasil, o Ministério da Educação e Saúde (atual Palácio Capanema), no Rio de Janeiro, projeto em que a presença de Lucio Costa foi fundamental.
O que pode contribuir para a preservação das casas é o uso permanente e adequado às suas características arquitetônicas. Uma casa viva não morre. Além disso, sua valorização decorre também de uma consciência maior do valor cultural de uma obra como a de Lucio Costa, que por sua própria discrição e interioridade, não teve ainda o amplo reconhecimento que merece.

Posto 9 / 13

1
Modos de Usar a Cidade
 
Foto: Fotografe modos inovadores e provocadores de usar a cidade, compartilhe no Instagram usando as hashtags #modosdeusaracidade e #projetoencontros.
As fotos postadas até 27 de setembro serão selecionadas pelas equipes da Bienal e do Projeto Encontros e expostas na estação Paraíso durante a X Bienal de Arquitetura. Serão aceitas fotos de qualquer cidade.
 
Fotografe modos inovadores e provocadores de usar a cidade e compartilhe no Instagram usando as hashtags #modosdeusaracidade e #projetoencontros.

As fotos postadas até 27 de setembro serão selecionadas pelas equipes da Bienal e do Projeto Encontros e expostas na estação Paraíso do metrô paulistano durante a X Bienal de Arquitetura (12 de out a 1 de dez). Serão aceitas fotos de qualquer cidade - Rio também, claro.
11
 
Em breve estarão abertas as inscrições para a segunda turma do Mestrado em Arquitetura da PUC-Rio, com início das aulas em março de 2014.

O Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, vinculado ao Departamento de Artes & Design da PUC-Rio, possui uma Área de Concentração - Projeto de Arquitetura - e duas Linhas de Pesquisa: Teoria e História do Projeto e Métodos e Processos de Projeto.
As informações sobre o Curso estão aqui:
http://www.puc-rio.br/ensinopesq/ccpg/progarq.html
10
Cidade Nova? / Passando pela Cidade Nova recentemente, fiquei surpresa com a quantidade de edifícios novos por ali. Essa área histórica e muito próxima à área portuária, que foi continuamente vitimada por obras viárias e ficou marcada por um longo processo de degradação, está num acelerado processo de adensamento e transformação urbana, com uma concentração de edifícios administrativos que incluem agora, além do Centro de Convenções Sul-América e da própria Prefeitura, a sede do Comitê Olímpico e da Empresa Olímpica Municipal, o Centro de Operações da Prefeitura e o Pavilhão Olímpico.
 
Pela concentração dessas instalações numa área tão central e valiosa, em todos os sentidos, e pela oportunidade indiscutível que novos investimentos como esses representam para a cidade neste momento, seria de se esperar que os projetos apresentassem alguma qualidade, do ponto de vista arquitetônico e urbanístico. Mas o que se vê, mais uma vez, é nenhuma arquitetura: caixas inertes seladas por vidros espelhados, que não se comunicam entre si nem com a rua, nem mostram qualquer compromisso com a construção do espaço público.

 
 
 
Nas ruas cheias de gente, na hora do almoço, caminho com dificuldade até um pequeno conjunto comercial que, junto com o casario revitalizado contíguo, me parece o que há de melhor por ali. Há um tecido urbano, numa escala meio doméstica, que vai se recuperando. Mas a diversidade de usos, que desde os anos 60, com Jane Jacobs, tornou-se uma chave fundamental para garantir a vitalidade da cidade, não parece ter chegado até aqui. Em termos de habitação, o empreendimento mais próximo é o conjunto do Minha Casa, Minha Vida que está sendo erguido no lugar do antigo presídio da Frei Caneca, e já se parece com um nova prisão.
 
Mas nada espanta mais que o Pavilhão Olímpico, prestes a ser inaugurado ao lado da Prefeitura.



Não consegui saber até agora de quem é o projeto. Mas no site "Cidade Olímpica" encontrei este vídeo, que abre com imagens de Barcelona e fala em "oferecer à cidade um equipamento o mais moderno possível". Parece que em breve uma grande maquete digital da cidade estará disponível ali. Mas se este é o modelo que estamos seguindo, sinceramente, não sei o que nos resta.
 
 
 
9
Ônibus / E lá vou eu, de novo, de táxi. Ok, mas então volto de ônibus, pelo menos.  É, mas como? Que ônibus passa aqui?

https://www.facebook.com/QueOnibusPassaAqui
 
7
Arquitetura da insurreição / A produção do programa "Minha Casa, Minha Vida" - que só no Rio, já conta com mais de 60.000 unidades construídas - mostra o quanto a política habitacional no Brasil permanece longe de produzir um avanço significativo, em termos de qualidade arquitetônica e urbanística. Mas curiosamente, o tema da habitação, de uma maneira geral, não tem emergido com a força que seria de se esperar nas manifestações recentes - a não ser no que diz respeito às remoções forçadas em função de grandes eventos como a Copa e as Olimpíadas (que mesmo assim, ao que parece, ainda não ganharam a atenção pública necessária).
 
Não seria hora de recuperar a "arquitetura insurrecional" do arquiteto francês Jean-Louis Chaneác (1931-1993)?




Uma de suas "células parasitas" - que aliás antecedem em poucos anos a Casa Bola de Eduardo Longo, em São Paulo - chegou a ser instalada clandestinamente, durante a noite, num conjunto habitacional em Genebra, em 1971, por um morador que precisou ampliar o apartamento devido ao nascimento de uma filha, como mostra o vídeo abaixo:

 



 
6


Copacabana ontem.
 
4
Para Dilma, presidente, de Toledo, arquiteto /
"Presidenta, eu era mais ou menos como a senhora, não tinha muita paciência para escutar e, quando o fazia, não sabia ouvir. Precisei ficar um ano e meio enfiado num escritório na Rocinha, pertinho da curva do “S”, para compreender o que os moradores queriam de mim. Foi um aprendizado tenso e difícil, fiquei doente de tanto stress,  mesmo assim valeu a pena, tornei-me uma pessoa melhor e, como arquiteto, produzi, com meus companheiros de equipe e com a população, um lindo trabalho, o Plano Sócio Espacial da Rocinha, até hoje bandeira agitada pela comunidade para se proteger dos desmandos dos nossos governantes.
Não sinto nenhuma animosidade em relação à senhora, pelo contrário, nunca esquecerei seu papel corajoso e abnegado contra a ditadura, mas que a senhora precisa aprender a ouvir, isso precisa.
Refiro-me a interpretação que a senhora deu ao que escutou dos jovens e coroas como eu, nas magníficas passeatas que tomaram o Brasil de ponta a ponta e nas redes sociais e, principalmente, à sua resposta tão equivocada como precipitada.
Presidenta, segure firme, deixe de lado os conselhos desses puxa-sacos que  a cercam, eu levei mais de ano para compreender o que os moradores da Rocinha queriam de mim, sei que a senhora é muito mais inteligente do que eu e, certamente, não levará tanto para compreender o que nós estamos querendo, pegue seu neto e se tranque num lugar agradável, não receba ninguém, respire..., relaxe... e, só então, se considere pronta para ouvir além de simplesmente escutar nossos gritos.
Preste atenção nas vozes do povo brasileiro, ouça as palavras de ordem, leia os cartazes e faixas e só então dê a resposta que todos nós queremos ouvir.
Deixe a reforma política conosco, em 2014 trataremos disso sem a sua ajuda e se concentre no que estamos pedindo: Educação, Saúde, Mobilidade, Moradia Digna Menos Inflação e trabalho, muito trabalho dos políticos e governantes, porque nós, Presidenta, já damos um duro danado para sobreviver e pagar nossos impostos.
Ah, ia me esquecendo, demita todos os seus ministros e o seu marqueteiro, eles não fazem bem à senhora.
Luiz Carlos Toledo
Arquiteto"
Notas:
1. Luiz Carlos Toledo coordenou o projeto de urbanização da Rocinha e é responsável por pesquisa sobre o programa Minha Casa, Minha Vida que estará na X Bienal de Arquitetura de São Paulo.
2. abaixo, o panfleto distribuído em passeata  organizada recentemente por moradores da Rocinha em repudio ao teleférico cuja instalação foi anunciada pela presidente Dilma em maio último, com recursos do PAC 2. O teleférico está previsto para ter 6 estações, divididas em 2 linhas. O sistema é semelhante ao instalado em 2011 no Complexo do Alemão, mas as estações tem projeto distinto.
3. enquanto isso, Amarildo - morador da Rocinha levado para "verificação" por policiais da UPP no dia 14 último - continua desaparecido.

3
Porto Olímpico, Porto Vida / Em meio a tudo, passou quase desapercebida a abertura do cadastramento de servidores interessados em adquirir um apartamento no Porto Vida, o primeiro residencial da área portuária (localizado próximo à av Francisco Bicalho, entre a atual rodoviária e a estação Leopoldina, atrás das futuras Trump Towers).

O conjunto - que servirá como hospedagem da mídia não-credenciada e dos árbitros durante as Olimpíadas - é desdobramento de parte do projeto vencedor do polêmico concurso publico do Porto Olímpico, cujo resultado chegou a ser anulado pelo Ministerio Publico estadual no ano passado.

Do projeto inicial, também desenvolvido pela Blac/Backheuser e Leonidio Arquitetura e Cidade, e Alonso Balaguer Brasil Arquitetos Associados, foi mantido o uso misto (comércio nos primeiros pavimentos e residência nas torres), e a solução de dispor as torres sobre uma plataforma elevada. Mas o vazio entre os prédios, originalmente pensado como uma praça comunicante com a rua, acabou enrijecido com a disposição perimetral dos blocos e tornou-se uma área de lazer típica dos condomínios fechados, tomada por piscinas, quadras etc. A pressão imobiliária não impediu, no entanto, a criação de sete "sky lounges" - termo infeliz para descrever uma espécie de varanda comunitária, de dimensões amplas e pé-direito alto, que rompe aqui e ali com o padrão das fachadas.
 
Por ora, a prioridade de compra é dos servidores municipais, que desde o dia 20 de maio já podem fazer um pré-cadastro  na Internet, para disputar 1000 das 1333 unidades do conjunto, divididas em apartamentos de 2 e 3 quartos (com área entre 65 e 89 m2), em 7 blocos. O lançamento para o público em geral - das 333 unidades restantes - será em outubro, mas a pré-reserva também já pode ser feita na Internet.

A obra está a cargo das empresas Odebrecht, OAS, Rex e Carioca, e a entrega está prevista para janeiro de 2017.
Plantas e mais aqui: www.portovidaservidor.com.br













2
Eu sou ninguém / Hoje, na "Folha de S.Paulo":

Peter Pál Pelbart
 
"Anota aí: eu sou ninguém"

Slavoj Zizek reconheceu no "Roda Viva" que é mais fácil saber o que quer uma mulher, brincando com a "boutade" freudiana, do que entender o Occupy Wall Street.
Não é diferente conosco. Em vez de perguntar o que "eles", os manifestantes brasileiros, querem, talvez fosse o caso de perguntar o que a nova cena política pode desencadear. Pois não se trata apenas de um deslocamento de palco --do palácio para a rua--, mas de afeto, de contaminação, de potência coletiva. A imaginação política se destravou e produziu um corte no tempo político.
A melhor maneira de matar um acontecimento que provocou inflexão na sensibilidade coletiva é reinseri-lo no cálculo das causas e efeitos. Tudo será tachado de ingenuidade ou espontaneismo, a menos que dê "resultados concretos".
Como se a vivência de milhões de pessoas ocupando as ruas, afetadas no corpo a corpo por outros milhões, atravessados todos pela energia multitudinária, enfrentando embates concretos com a truculência policial e militar, inventando uma nova coreografia, recusando os carros de som, os líderes, mas ao mesmo tempo acuando o Congresso, colocando de joelhos as prefeituras, embaralhando o roteiro dos partidos --como se tudo isso não fosse "concreto" e não pudesse incitar processos inauditos, instituintes!
Como supor que tal movimentação não reata a multidão com sua capacidade de sondar possibilidades? É um fenômeno de vidência coletiva --enxerga-se o que antes parecia opaco ou impossível.
E a pergunta retorna: afinal, o que quer a multidão? Mais saúde e educação? Ou isso e algo ainda mais radical: um outro modo de pensar a própria relação entre a libido social e o poder, numa chave da horizontalidade, em consonância com a forma mesma dos protestos?
O Movimento Passe Livre, com sua pauta restrita, teve uma sabedoria política inigualável. Soube até como driblar as ciladas policialescas de repórteres que queriam escarafunchar a identidade pessoal de seus membros ("Anota aí: eu sou ninguém", dizia uma militante, com a malícia de Odisseu, mostrando como certa dessubjetivação é condição para a política hoje. Agamben já o dizia, os poderes não sabem o que fazer com a "singularidade qualquer").
Mas quando arrombaram a porteira da rua, muitos outros desejos se manifestaram. Falamos de desejos e não de reivindicações, porque estas podem ser satisfeitas. O desejo coletivo implica imenso prazer em descer à rua, sentir a pulsação multitudinária, cruzar a diversidade de vozes e corpos, sexos e tipos e apreender um "comum" que tem a ver com as redes, com as redes sociais, com a inteligência coletiva.
Tem a ver com a certeza de que o transporte deveria ser um bem comum, assim como o verde da praça Taksim, assim como a água, a terra, a internet, os códigos, os saberes, a cidade, e de que toda espécie de "enclosure" é um atentado às condições da produção contemporânea, que requer cada vez mais o livre compartilhamento do comum.
Tornar cada vez mais comum o que é comum --outrora chamaram isso de comunismo. Um comunismo do desejo. A expressão soa hoje como um atentado ao pudor. Mas é a expropriação do comum pelos mecanismos de poder que ataca e depaupera capilarmente aquilo que é a fonte e a matéria mesma do contemporâneo --a vida (em) comum.
Talvez uma outra subjetividade política e coletiva esteja (re)nascendo, aqui e em outros pontos do planeta, para a qual carecemos de categorias. Mais insurreta, de movimento mais do que de partido, de fluxo mais do que de disciplina, de impulso mais do que de finalidades, com um poder de convocação incomum, sem que isso garanta nada, muito menos que ela se torne o novo sujeito da história.
Mas não se deve subestimar a potência psicopolítica da multidão, que se dá o direito de não saber de antemão tudo o que quer, mesmo quando enxameia o país e ocupa os jardins do palácio, pois suspeita que não temos fórmulas para saciar nosso desejo ou apaziguar nossa aflição.
Como diz Deleuze, falam sempre do futuro da revolução, mas ignoram o devir revolucionário das pessoas. 

18

2x0 / Maracanã, hoje.


Aqui, em vídeo: http://youtu.be/LEfhFgloZDs
17
Posto 12 / Ao voltar ao Posto 12 ontem, encontrei toda uma nova configuração: é incrível como a organização espacial e social mudou completamente em uma semana. A ocupação é visivelmente menos permeável, mais densa e auto-protegida. Encontro novas barracas, novas pessoas e novos cartazes, onde as palavras que registrei e até ajudei a escrever, sábado passado, foram substituídas por outras, já não tão espontâneas (até a cor parece que se foi, junto com as canetas e cartolinas agora substituídas por faixas e bandeiras feitas para durar mais). Do outro lado da rua, a praia cheia ignora solenemente a ocupação: o mesmo mate, o mesmo vôlei, os mesmos biquínis. Os carros que passam também já não buzinam na mesma proporção. E sequer a polícia parece dar maior atenção aos manifestantes, que foram deslocados para uma faixa bem delimitada e protegida por cones e grades, que já não bloqueia o tráfego nem incomoda muito a ninguém. Ainda que o número de barracas e colchonetes tenha aumentado, e seja maior a sombra que dá abrigo aos manifestantes, a ocupação tornou-se melancólica e perdeu seu viço como expressão - ainda que discutível - de ação política. Depois da farsa a que assistimos no Palácio Guanabara, denunciada nas matérias de jornal pregadas a alguns postes vizinhos, desconfio que o risco que a ocupação corre agora é de se tornar mais uma atração na orla da zona sul.
16
Oportunidade perdida / "O Brasil perdeu uma oportunidade com a Copa do Mundo", diz o prefeito do Rio, em entrevista publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo. E acrescenta: "As ruas não disseram que são contra a Copa ou a Olimpíada. Dizem: somos contra a forma como se fez a Copa."  
 
E as Olimpíadas?
 
Segue a íntegra da entrevista:
"O Brasil e o Rio bateram muito bumbo pela conquista de grandes eventos. No fim do primeiro, a imagem que fica é de manifestações nas ruas, de violência. Isso o preocupa?
Obviamente. Acho que o Brasil perdeu uma oportunidade com a Copa do Mundo. As ruas não disseram que são contra a Copa ou a Olimpíada. Dizem: somos contra a forma como se fez a Copa.
O que fez o Brasil perder essa oportunidade?
Um conjunto de coisas. A Fifa não se preocupa com legado, mas com o estádio.
Não cabe ao governante esta preocupação?
Começa pela Fifa. O governo federal, quando fez o PAC da Mobilidade da Copa, talvez tenha demorado a perceber que era uma oportunidade de novos investimentos que não guardam relação direta com a Copa.
O governo federal errou?
Os governos em seus diversos níveis erraram ao não perceber que esse evento tem muito mais que futebol.
A Copa foi um bom negócio?
Acho que sim. Não exploramos [a oportunidade], mas ainda há tempo. Não estou preocupado porque a imagem é de manifestação. Vamos parar com essa mania do Brasil ficar se mostrando um país perfeitinho. Nós não somos. Mas ninguém aqui está lutando por liberdades, direitos para mulheres, voto. Isso aqui não é primavera árabe. É uma democracia consolidada, que se manifesta. Não tem que achar que o gringo vai olhar e dizer: "Olha, eles fazem manifestação". Nós somos democratas. Anos atrás não se podia fazer manifestação. Aí era para ter vergonha.
As cenas de quebra-quebra na cidade, operação policial com nove mortos no Complexo da Maré não assustam?
Operação com nove mortos na Maré era toda semana.
Mas ocorrer durante a Copa das Confederações...
Não é o melhor dos mundos. O ideal é que a gente vivesse num país com características suíças. Se bem que eu ia achar um saco. É o Brasil.
O sr. acha que se o país buscasse hoje sediar uma Copa, teria que haver plebiscito?
Isso não é tema de plebiscito. Nas pesquisas, havia uma aprovação absurda para a Copa e a Olimpíada. Há uma clara posição de que querem ser mais ouvidos.
O carioca tem motivos para sair às ruas em protesto?
O Rio melhorou, as pessoas reconhecem. O que o país diz é: "Vamos parar de curtir que viramos democracia, que tiramos 40 milhões da pobreza, que temos pleno emprego, e vamos avançar mais?" Em determinado momento, a classe política deitou em berço esplêndido.
Os partidos estão em crise?
As pessoas não rejeitaram os partidos, rejeitam os políticos, os personagens. Essa é uma crise de todos nós.
O seu partido, o PMDB, tem uma imagem negativa...
[Interrompe] Que partido tem imagem boa? Só os que estão por nascer. Único partido com imagem boa é a Rede [de Marina Silva] porque ainda não nasceu.
O PMDB deveria mudar alguma coisa para melhorar?
Deixo com você a resposta.
O sr. fez a primeira licitação de ônibus para a cidade, mas ela acabou mantendo os mesmos empresários. Não parece um jogo de cartas marcadas?
Quando faz um processo licitatório com essas características, quem tem 50 garagens estabelecidas pela cidade, 10 mil ônibus, sai naturalmente com vantagem.
O episódio da briga que o sr. teve com um carioca pode lhe trazer prejuízos políticos?
Me arrependo, como homem público, de ter perdido a cabeça. Tive uma reação que não deveria ser a reação do prefeito. Se fosse um cidadão normal, teria sido natural. Mas não sou esse super-homem. Gosto de sair, ir para a rua, tomar uma cervejinha. Mas não fico satisfeito de jantar com a minha mulher e um sujeito ficar xingando a minha quinta geração. Bêbado. "
15
Depois de aguentar 6 dias de acampamento na esquina da sua casa, o governador Sergio Cabral recebeu 5 manifestantes no Palácio Guanabara hoje. Conversou com eles a portas fechadas por quase 2 horas. Só que o grupo que está acampado no Posto 12 desde sexta é outro. Ou seja, ou ele recebeu o grupo errado, ou tem qualquer coisa de errado aí.
 
 
14
Maré / São 9 ou 13 os que morreram na operação do BOPE ontem na favela da Maré? Não se sabe ou já não importa?
12
Levante / Acordo com a foto de Pedro no jornal, que conheci sábado na ocupação da Delfim Moreira, no Posto 12. Em seguida recebo um telefonema seu, dizendo que deixou o grupo porque ficou assustado com ameaças feitas por um desconhecido ontem. Leio seu relato no facebook e saio me fazendo perguntas no almoço. Encontro o pilotis da PUC lotado, onde ouço Marcelo Burgos definir as manifestações dos últimos dias como um "levante" - palavra que é sinônimo de motim, mas também significa "lugar onde nasce o sol". Me animo. Mas no final da tarde, o relato volta a ser de terror: alunos encurralados por bombas de gás lacrimogêneo na  Lapa, às 9 e meia da noite de uma quinta-feira.  Parece também que taxistas pararam Copacabana hoje e há novos protestos no centro da cidade e até na porta da rede Globo, no Jardim Botânico. E agora chegando em casa, esta notícia: após reunião com Dilma em Brasília, representantes do Movimento Passe Livre declararam que a Presidente está "despreparada".

Tudo isso chacoalha na minha cabeça enquanto penso no que dizer na mesa-redonda sobre manifestações populares e conflitos recentes no Rio que o núcleo carioca da Bienal organiza esta quarta-feira no Curso de Arquitetura da PUC. Com Carlos Vainer (IPPUR/UFRJ), Marcelo Burgos (Sociologia, PUC-Rio), Fabio Lopez (Design, PUC-Rio), Pedro Duarte Andrade (Filosofia, UNIRIO) e eu. No IMA, às 19 horas, aberta a todos.
11
Carta Aberta / Do Movimento Passe Livre à Presidenta Dilma Rousseff, hoje:
"O transporte só pode ser público de verdade se for acessível a todas e todos, ou seja, entendido como um direito universal. A injustiça da tarifa fica mais evidente a cada aumento, a cada vez que mais gente deixa de ter dinheiro para pagar a passagem. Questionar os aumentos é questionar a própria lógica da política tarifária, que submete o transporte ao lucro dos empresários, e não às necessidades da população. Pagar pela circulação na cidade significa tratar a mobilidade não como direito, mas como mercadoria. Isso coloca todos os outros direitos em xeque: ir até a escola, até o hospital, até o parque passa a ter um preço que nem todos podem pagar. O transporte fica limitado ao ir e vir do trabalho, fechando as portas da cidade para seus moradores. É para abri-las que defendemos a tarifa zero."
10
Posto 12, hoje à noite /  Ocupação do asfalto à beira-mar, a uma quadra da casa do governador Sergio Cabral, numa rua bloqueada pela polícia militar. Desde sexta-feira, pacificamente.
 





 

 Bolha fervente 
foto rio de janeiro manifestacao

"As cidades se reconhecem pelo andar, como as pessoas. Abrindo os olhos, o recém-chegado deduziria o mesmo da vibração do movimento nas ruas, muito antes que de qualquer detalhe típico. Ainda que fosse só imaginação, não importa. A supervalorização da pergunta: onde estou? vem do tempo dos nômades, em que era preciso registrar os locais de pastagem. Seria importante saber por que, ao falarmos de um nariz vermelho, nos contentamos que seja vermelho, sem nos importarmos com o tom especial de vermelho, embora este possa ser descrito com exatidão em micromilímetros, pela frequência das ondas. Mas numa ocasião tão mais complexa como a cidade em que nos encontramos, sempre gostaríamos de saber exatamente que cidade é. Isso nos distrai de pontos mais importantes.

Portanto, não se dê valor maior ao nome da cidade. Como todas as cidades grandes, era feita de irregularidade, mudança, avanço, passo desigual, choque de coisas e acontecimentos, e, no meio disso tudo, pontos de silêncio, sem fundo; era feita de caminhos e descaminhos, de um grande pulsar rítmico e do eterno desencontro e dissonância de todos os ritmos, como uma bolha fervente pousada num recipiente feito da substância duradoura das casas, leis, ordens e tradições históricas."

Robert Musil, O homem sem qualidades, 1930
(obrigada, Bruno)

fonte da foto: http://www.grunz.com.br/fotos-incriveis-do-protesto-em-sao-paulo-em-tempo-real/
8
O Movimento Passe Livre convoca para manifestações hoje em várias cidades: Natal, Recife, Campinas, Florianópolis, Pelotas, Volta Redonda, Goiânia, Vitória, Niterói, Campos, Belém...no Rio, a manifestação será às 17 hs, na Candelária. 
7
Passe Livre / O Movimento Passe Livre de São Paulo convoca nova manifestação amanhã, segunda (17/6), às 17 hs no Largo do Batata. E o programa Roda Viva (que na semana passada entrevistou o arq Paulo Mendes da Rocha) anuncia para o mesmo dia a presença de dois representantes do movimento: uma estudante e um professor. A pauta é a onda de protestos contra o aumento da tarifa de ônibus e a situação do transporte público no Brasil, que culminou com os violentos confrontos no centro de São Paulo, nos últimos dias. O  programa vai ao ar às 22h, ao vivo, na TV Cultura.
 
O Passe Livre é um movimento social autônomo e apartidário, de abrangência nacional, que nasceu oficialmente em 2005, no V Fórum Social Mundial, depois dos protestos pedindo a redução das tarifas de ônibus que paralisaram Salvador e Florianópolis. A reivindicação básica é uma só:  "transporte público gratuito e de qualidade, sem catracas e sem tarifa". Uma reivindicação pertinente que vai muito além da simples redução do valor das tarifas de ônibus e diz respeito ao direito à mobilidade urbana - ponto nevrálgico da discussão contemporânea sobre a cidade no mundo todo - e à crise do sistema de transportes urbanos que atinge e faz sofrer, sem dó, a maior parte das grandes cidades brasileiras.
 
Face do grupo paulista: https://pt-br.facebook.com/passelivresp
 

6
Choque / Acompanho de longe, entre relatos e imagens que vou juntando, os confrontos recentes nas ruas do centro de São Paulo e Istambul. Duas cidades distantes e por motivos diferentes ligadas à minha história pessoal. Em São Paulo, o estopim dos protestos foi o aumento de 20 centavos das tarifas de ônibus; em Istambul, o projeto de construção de um shopping no lugar de um parque. Pode parecer pouco. Mas não é. O que os confrontos mostram é a explosão da insatisfação com o transporte público, num caso, e com a truculência do processo de transformações urbanas de uma cidade que começa a se preparar para as Olimpíadas, de outro.

Reconheço na foto acima o trecho de uma rua que me é tão familiar. Mas a imagem, extraída de um site qualquer, poderia ser de qualquer uma das cidades (ou de tantas outras). De um lado vejo os mesmos homens de preto, tropa de choque, capacete, spray de pimenta, balas de borracha; de outro, pessoas que, pelo menos de relance, sempre se parecem um pouco comigo. Assim, de modo muito duro, a violência urbana distante me assalta e não me deixa dormir. E para quem ainda insiste em definir espaço público como lugar de encontro, meu corpo ferido não deixa esquecer o quanto ele pode também ser um campo de batalha brutal e sangrento.

(fonte da foto: http://noticias.r7.com/sao-paulo/sp-aumento-de-r-020-na-passagem-foi-so-a-gota-dagua-para-protestos-avaliam-especialistas-15062013)
 
5
Novo prazo para envio propostas para a Bienal / Em função do interesse suscitado pelo tema da X Bienal de Arquitetura de São Paulo, o prazo de inscrições para a Chamada Aberta de trabalhos foi prorrogado para o dia 21 de junho, sexta próxima. O edital está aqui: http://iabsp.org.br/?agenda=x-bienal-de-arquitetura-de-sao-Paulo
 
Importante lembrar que o único limite para as propostas é que elas tenham alguma relação com o tema da Bienal: "Cidade, Modos de fazer, modos de usar". Fora isso, não há limitações programáticas nem disciplinares. Ou seja, em princípio, vale qualquer tipo de proposta, projeto, trabalho, prática, ação...e não só ligada à esfera arquitetônica e/ou urbanística, mas também artística, política, de design...

Informações atualizadas sobre a Bienal podem ser encontradas no facebook: https://www.facebook.com/xbienaldearquitetura

4
Segre e o Ministério / A tristeza pela morte inesperada e brutal do professor e historiador Roberto Segre (FAU-UFRJ), em março último, se aplaca um pouco com a notícia do lançamento amanhã (segunda, dia 10), do seu último e mais aguardado livro: "Ministério da Educação e Saúde, ícone urbano da modernidade brasileira (1935-1945)". O livro é produto do fôlego invejável deste pesquisador cuja trajetória intelectual atravessa a Argentina, Itália, Cuba e Brasil. O evento, que será também uma homenagem a Segre, contará com mesa redonda com as presenças de Abilio Guerra (editor do livro), Sylvia Fisher, Raquel Coutinho, Denise Pinheiro Machado, Sérgio Magalhães, Cêça Guimaraens, José Barki, Pablo Benetti, Margareth Pereira e José Kós. No Palácio Gustavo Capanema, às 17h30.


3
A segunda palestra do ciclo "Grandes eventos e transformações urbanas no Rio" será hoje, terça, às 19 hs, no edifício IMA da PUC, com o engenheiro inglês Ed McCann (Expedition Engineering). Ele vai focar sua apresentação no projeto do velódromo e na estratégia de águas para o Parque Olímpico de Londres, experiência fundamental para o plano de recursos hídricos para o Parque Olímpico do Rio que se encontra em desenvolvimento, também sob sua responsabilidade.