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Choque / Acompanho de longe, entre relatos e imagens que vou juntando, os confrontos recentes nas ruas do centro de São Paulo e Istambul. Duas cidades distantes e por motivos diferentes ligadas à minha história pessoal. Em São Paulo, o estopim dos protestos foi o aumento de 20 centavos das tarifas de ônibus; em Istambul, o projeto de construção de um shopping no lugar de um parque. Pode parecer pouco. Mas não é. O que os confrontos mostram é a explosão da insatisfação com o transporte público, num caso, e com a truculência do processo de transformações urbanas de uma cidade que começa a se preparar para as Olimpíadas, de outro.

Reconheço na foto acima o trecho de uma rua que me é tão familiar. Mas a imagem, extraída de um site qualquer, poderia ser de qualquer uma das cidades (ou de tantas outras). De um lado vejo os mesmos homens de preto, tropa de choque, capacete, spray de pimenta, balas de borracha; de outro, pessoas que, pelo menos de relance, sempre se parecem um pouco comigo. Assim, de modo muito duro, a violência urbana distante me assalta e não me deixa dormir. E para quem ainda insiste em definir espaço público como lugar de encontro, meu corpo ferido não deixa esquecer o quanto ele pode também ser um campo de batalha brutal e sangrento.

(fonte da foto: http://noticias.r7.com/sao-paulo/sp-aumento-de-r-020-na-passagem-foi-so-a-gota-dagua-para-protestos-avaliam-especialistas-15062013)

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