Posto 11 / nov 09

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Estética Central / Até 13 de novembro, a Central do Brasil torna-se um núcleo de produção de curta metragens feitos com celular ou câmera digital. Uma equipe de monitores encontra-se a postos de segunda a sábado, das 8 às 20 horas, no estande do festival "Estética Central", montado dentro da estação para ensinar os recursos básicos para a produção de um vídeo digital, desde a captação até a edição de imagens.

Os melhores filmes serão exibidos em janeiro no site do festival e em projeções no Oi Futuro, Parque Lage e na própria Central do Brasil. Podem participar do festival jovens entre 16 e 24 anos, cadastrados no site (http://www.esteticacentral.com.br/v2/index.php) ou no próprio estande. Os vídeos devem ter entre 15 e 90 segundos e versar sobre a região da Central do Brasil.

Um deles é este, feito pela Cintia.



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Alguma coisa acontece no Pedregulho, obra-prima do centenário Reidy: http://pedregulhoresidenciaartistica.wordpress.com/2009/10/21/sobre-o-projeto/

(A foto foi colhida da bela galeria de Kymtyr, no flickr).
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Um minuto de silêncio, por favor. Acaba de ser aprovado na Câmara dos Vereadores o principal projeto de lei do "Porto Maravilha" (PLC 25), que modifica o Plano Diretor e os parâmetros urbanísticos da área portuária e autoriza a Operação Urbana Consorciada.
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Está aí, agora, o projeto de lei do PEU das Vargens:
http://spl.camara.rj.gov.br/spl/spl_tramit_proj_assunto.jsp?tipo=Lei+Complementar&numero=33&ano=2009
Soube que a segunda votação está prevista para ocorrer ainda hoje, no final do dia.
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Parece mentira, mas a tramitação na Câmara do PEU das Vargens (Projeto de Lei Complementar 33/2009) está sendo ainda mais meteórica que a do "Porto Maravilha". O projeto foi criado na quinta passada, dia 22, apresentado no dia 23, publicado no Diário Oficial no dia 27 e votado no mesmo dia. A partir daí, deve voltar em segunda discussão após um intervalo de 48 horas. Sim, amanhã. Curiosamente, o texto do projeto de lei não está disponibilizado no Sistema do Processamento Legislativo, onde todas as leis em tramitação na Câmara deveriam encontrar-se acessíveis publicamente.
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Mais um projeto goela abaixo? Com relação ao projeto de lei complementar que cria um novo PEU das Vargens - alterando vários parâmetros urbanísticos da região - a Secretaria de Urbanismo informou, através de sua assessoria de imprensa, que "os esclarecimentos à opinião pública só serão dados após a aprovação do projeto" (cf O Globo de hoje).
E o Secretário de Urbanismo? Agora nem a O Globo ele atende mais.

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O jornalista da Folha de S.Paulo me liga no meio da tarde para saber minha posição sobre o projeto para Vargem Grande, votado ontem em sessão extraordinária na Câmara dos Vereadores e publicado hoje n' O Globo. Também só conheço o pouco que saiu no jornal, respondo. E lamento dizê-lo, mas isso tem sido o Rio. São dezenas, centenas de projetos que pipocam a cada dia na imprensa, sem autoria, sem qualquer conexão entre si e sem nenhuma concepção de cidade como fundamento.

Este altera o chamado PEU/Projeto de Estruturação Urbana das Vargens, redefinido os parâmetros urbanísticos de boa parte da Zona Oeste (Vargem Grande, Vargem Pequena, Recreio dos Bandeirantes, Camorim e parte de Jacarepaguá), onde devem ser instaladas a futura sede da CBF, o Museu do Futebol e a Vila Olímpica, entre outros equipamentos ligados à Copa e às Olimpíadas.

Depois de tanta gritaria, parece que alguns vereadores estão mais atentos. Mesmo assim o projeto foi aprovado em primeira discussão, por 36 votos a 8.


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Então, de repente, no meio desse turbilhão, alguém me dá uma boa notícia: a eleição do IAB carioca tem chapa única, composta por um grupo de arquitetos que se mobilizou nos últimos 5 dias com o objetivo de revitalizar a instituição neste momento de tantos embates e tão crucial para a cidade.

A chapa é presidida por Sergio Magalhães (ex-Secretário Municipal de Habitação) e inclui nomes como Flavio Ferreira, Otavio Leonidio, João Pedro Backheuser, Alfredo Britto, Ceça Guimaraes, Pedro da Luz, Fabiana Izaga, Gustavo Martins, Celio Diniz, Pedro Rivera e outros. A votação será no próximo mês. Até eu, que estou afastada do IAB há uns 20 anos, vou votar.
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O boletim de outubro do CEDES/ Centro de Estudos Direito e Sociedade, associado ao IUPERJ, traz um bom relato do debate público sobre a área portuária realizado na PUC na semana passada, junto com um artigo meu e outro de Maria Alice Rezende de Carvalho, professora do Departamento de Sociologia e Política da PUC: http://cedes.iuperj.br/
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Isto é o Secretário de Urbanismo do Rio de Janeiro: http://www.sergiomdias.com.br/
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Virada / Estou acompanhando, a quilômetros de distância, a movimentação em curso pelo lançamento de uma chapa de renovação do IAB carioca. O candidato a presidente é Sergio Magalhães. O clima é tenso, pelo que sei. Mas o apoio é grande. Meu também, como não poderia deixar de ser.

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Foi um final de semana doloroso, em que a euforia olímpica se viu forçada a confrontar-se com o luto coletivo provocado pela violência e pela ignorância. Mas o debate de ontem na PUC deu novo fôlego à discussão sobre a cidade, e de certo modo contribuiu para espantar a depressão que assola o urbanismo carioca, como tem dito Helia Nacif. De novo, um auditório lotado abrigou mais de 4 horas ininterruptas de discussão, encerradas mais por conta do horário do que por falta de ânimo.

Muitas questões foram levantadas: Por que os projetos da área portuária estão sendo votados antes - e à revelia - do Plano Diretor? Por que os arquitetos, e a sociedade civil como um todo, mal tem sido ouvidos? Por que a Prefeitura não apresentou ainda um plano de massas da área portuária? Por que o Rio não é capaz de aprender com os erros e acertos das experiências já realizadas noutras cidades brasileiras, com relação às Operações Urbanas Consorciadas? A localização das Olimpíadas pode ou não ser mudada? O Rio deve aceitar o argumento - supostamente definido pelo COI - de que o projeto aprovado não pode ser alterado, mesmo que em benefício da cidade? O Rio é uma cidade monocêntrica ou policêntrica? Qual o papel de cada um de nós nesse processo?

Só é lamentável que em meio a um público tão amplo (arquitetos, urbanistas, sociólogos, políticos, historiadores, artistas plásticos, professores e estudantes), não houvesse nenhum representante da Secretaria de Urbanismo. Nem do IAB.

Em breve a cobertura do evento estará no site do IUPERJ. E já há um comentário abaixo, da Helia Nacif.
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Vão participar do debate público sobre a revitalização da área portuária amanhã (segunda, dia 19), na PUC, os arquitetos-urbanistas Sergio Magalhães e Nina Rabha, e os vereadores Aspásia Camargo e Eliomar Coelho. Às 15 horas, no auditório do RDC (R. Marquês de S. Vicente, 225).




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Acervo Helio Oiticica, 17 de outubro de 2009





















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Oiticica em chamas / A casa fica na rua Eng. Alfredo Duarte, no alto do Jardim Botânico. Vamos, agora.
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Oiticica incendiado / Grito de dor. Um incêndio ontem à noite destruiu quase toda a obra de Helio Oiticica. "Sinto que fracassei porque minha missão era cuidar da obra dele", disse César Oiticica, irmão do artista plástico, que mantinha o acervo em sua casa no Jardim Botânico e se negava a conceder a guarda ao Centro de Arte Helio Oiticica, criado pela Prefeitura nos anos 90 para abrigar a obra do artista brasileiro.
Segundo a Folha online, o fogo destruiu 90% da obra de Oiticica. As perdas são inestimáveis e incluem documentos, telas, filmes e obras como Bólides e Parangolés.
Não bastou o incêndio do MAM, nos anos 70, para proteger a arte brasileira do fogo e da miséria.
Neste momento, mais do que nunca, vale a pena reler a discussão pública entre Luiz Camillo Osório (atual curador do MAM) e Cesar Oiticica, em 2007: http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/001502.html

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O debate no IAB ontem lotou o auditório e se estendeu até a meia-noite. Foram quase 5 horas ininterruptas de discussão sobre o Porto, as Olimpíadas etc. Arquitetos e urbanistas questionaram a ausência de concursos públicos, a postura do IAB e sobretudo a maneira fragmentada e desarticulada como a cidade está sendo pensada. Representantes da Prefeitura disseram que o projeto aprovado pelo Comitê Olímpico Internacional não pode ser modificado, e portanto a concentração das instalações na área portuária é inviável. Também foi anunciado para hoje o início das obras do Pier Mauá (pela OAS, empresa vencedora da licitação).
A discussão deve ser ampliada no debate de segunda na PUC, do qual participarão o arquiteto Sergio Magalhães e os vereadores Aspásia Camargo e Eliomar Coelho. Às 15 horas, no auditório do RDC (R. Marquês de S. Vicente, 225, Gávea).
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Em tempo: do debate de hoje à noite, no IAB, participam também os arquitetos Flavio Ferreira (UFRJ), Ricardo Villar e Washington Fajardo (Prefeitura).

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Porto em Debate / O Curso de Arquitetura e Urbanismo, o Departamento de Sociologia e Política e o Departamento de Serviço Social organizam um debate público sobre o Projeto de Revitalização da Área Portuária na PUC, na próxima segunda, dia 19, às 15 horas (Rua Marquês de São Vicente, 225, Gávea, auditório do RDC). A mesa será composta por dois vereadores - Aspásia Camargo (socióloga e presidente da Comissão do Plano Diretor) e Eliomar Coelho (engenheiro) - e um representante da Prefeitura (cujo nome ainda não foi confirmado).

É uma oportunidade única para ampliar o fórum de discussão sobre a cidade, e em particular discutir o projeto do Porto - e sua relação com o Plano Diretor, também em tramitação na Câmara - com dois dos representantes do Poder Legislativo mais envolvidos com o assunto, cujas visões são, em muitos aspectos, bem distintas.

O debate na PUC será precedido da apresentação amanhã, dia 15, às 19 horas, no IAB (R. do Pinheiro, 10, Flamengo), do projeto "Porto Maravilha" pelo arquiteto Antonio Correa, da Secretaria Municipal de Urbanismo.
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Alguns comentários que recebi depois da última postagem merecem ser destacados:

João Pedro Backheuser diz que erro ao vincular a licitação por técnica e preço a uma dependência ou submissão dos projetistas às construtoras. E esclarece: "Se a licitação for para projeto executivo, quando a construtora entra o projeto está pronto e só será alterado com o aval da fiscalização, o que muitas vezes acontece. O melhor seria os arquitetos serem contratados para a fiscalização. O que tem acontecido muito, não sei se é o caso do Porto, é da contratação pela prefeitura ser apenas para projeto básico, ficando o executivo por conta da construtora. Aí sim o projeto sofre riscos."

Ele também indica o site dos arquitetos - mineiros - responsáveis pelos projetos das Olimpíadas:
http://www.bcmfarquitetos.com/dinamico/index.html.

Já a Adriana Sansão diz que o projeto da Cidade do Samba não é do Paulo Casé, mas "de um indivíduo que se chama Victor Wanderley".
Waaal! Isso é que é quebra-cabeça!

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Projeto, Técnica e Preço / Pelo que pude apurar até aqui, são estes os autores dos principais projetos aprovados para a área portuária:

. Pier Mauá: eng. Sergio Dias (Secretário Municipal de Urbanismo)
. Restauração do Palacete D.Pedro II, na Praça Mauá: arq. Alcides Horácio Azevedo
. AquaRio: arq. Alcides Horácio Azevedo
. Reurbanização da Praça Mauá: arq. Paulo Casé e Ambiental
. Reurbanização do Morro da Conceição: arq. Flávio Ferreira
. Ciclovia MAM/Praça Mauá: Archi 5
. Reurbanização ruas Sacadura Cabral e Livramento: Fábrica Arquitetura
. Ligação viária Porto/Presidente Vargas e urbanização Santo Cristo/Gamboa: Mayerhofer & Toledo
. Nova Estação de Passageiros e reconversão dos Armazéns 4, 3, 2 , 1, atual prédio da ESMAPA e prédio do Touring: Toledo & Associados
. Reurbanização dos Morros da Saúde, Gamboa, Livramento e Morro do Pinto: Mayerhofer & Toledo (Livramento), Archi 5 (Saúde e Gamboa) e Arquitraço (Pinto).
. Reurbanização das ruas Senador Pompeu, Barão de São Felix, Acre e Leandro Martins: Fábrica Arquitetura (Senador Pompeu e Barão de São Felix) e Lopes Santos e Ferreira Gomes Arquitetos ( Rua do Acre e Leandro Martins)

Além disso, já encontram-se em funcionamento:
. a reconversão do Armazém Pedro II, ocupado pela Ação da Cidadania: arq. Hélio Pellegrino.
. a Cidade do Samba, no antigo Pátio da Estação Marítima da RFFSA (um dos maiores terrenos da região, adquirido pela Prefeitura em 2002): arq. Paulo Casé.

Há ainda projetos desenvolvidos pela equipe do Instituto Pereira Passos e obras já inauguradas cujos autores desconheço, como a Vila Olímpica da Gamboa. E é possível também que eu tenha esquecido qualquer coisa.

Até onde eu sei, à parte o primeiro, os demais projetos foram herdados do tempo em que o atual vereador Alfredo Sirkis foi Secretário de Urbanismo, entre 2001 e 2005. Nenhum dos projetos de intervenção pública foi objeto de licitação dentro da modalidade de concurso público (aberto, no caso, a qualquer arquiteto e/ou escritório de arquitetura com registro profissional em dia). A maioria resultou de processo licitatório de tipo "técnica e preço" (também regulado pela lei federal n° 8.666/93, porém destinado a escolher a proposta mais "vantajosa" para a administração pública com base na maior média ponderada, considerando-se as notas obtidas nas propostas de preço e de técnica. O que, a rigor, não tem nada de ilegal nem de anti-ético, embora signifique, na prática, limitação da participação dos arquitetos e urbanistas e submissão de seus projetos à ordem das empreiteiras e construtoras.)

A única exceção, pelo que sei, foi um concurso de idéias realizado há cinco anos para o tratamento acústico e paisagístico da Perimetral, vencido por Ricardo Shiniti Kawamoto - e depois engavetado.

Por favor me corrijam (e me perdoem) se houver qualquer erro. Neste momento, é preciso recolher informações dispersas e juntar as peças pacientemente, como num quebra-cabeças de milhares e milhares de peças que parece nunca ter fim.

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Quem segue aos seus... / Lido hoje, parece um tanto premonitório o artigo que Otavio Leonidio escreveu em dezembro passado, pouco antes que o prefeito recém-eleito anunciasse o nome do novo Secretário de Urbanismo: http://www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc241/mc241.asp
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Não, não é do Paulo Casé o projeto do Pier Mauá, com seu arco triunfal e jeitão de pracinha do interior. O autor é o próprio Secretário Municipal de Urbanismo, engenheiro Sergio Dias, cujo currículo de projetos inclui a Vila do Pan e o shopping Via Parque, ambos na Barra da Tijuca, além do Rio Orla e do Parque da Xuxa.
A informação foi dada pelo arquiteto Antonio Correia, Coordenador Geral de Projetos Especiais da Secretaria Municipal de Urbanismo, no primeiro debate sobre o "Porto Maravilha" na PUC, terça-passada, diante de uma platéia atônita.
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Para quem ainda não viu, esta aí o filme oficial de apresentação do "Porto Maravilha".


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A cara do Rio / A prefeitura, o Comitê Organizador da Rio 2016 e o Instituto de Arquitetos do Brasil assinaram convênio hoje para a escolha do "Marco Olímpico do Rio", que deve ser objeto de concurso internacional a ser lançado até o final do ano. O júri será composto por membros do IAB e da prefeitura e deve escolher o símbolo "que melhor representa o espírito olímpico e que tenha a cara do Rio". É o primeiro e único concurso anunciado pela prefeitura até agora.
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Porto, Pós, Para onde? / Ele diz que eu sou modernista, eu digo que ele é pós-modernista. Nosso ponto de discórdia fundamental está na leitura que fazemos da arquitetura moderna. Mas a verdade é que conheço poucos arquitetos, no Rio, que têm um olhar para a cidade como Flavio Ferreira. E que são abertos ao debate como ele. Sua crítica ao atual projeto de revitalização da área portuária foi uma contribuição importante para o seminário "Porto do Rio: Para Onde?", realizado no Curso de Arquitetura da PUC na terça passada, em que se discutiu o projeto "Porto Maravilha" (apresentado pelo arquiteto Antonio Correia, da Secretaria de Urbanismo, depois de um histórico da área feito pelo arq. Augusto Ivan Freitas Pinheiro). Passados dois dias, recebo o texto abaixo, que resume o teor das críticas de Flavio ao projeto. Penso que ele tem razão sobretudo no que diz respeito à defesa da preservação da paisagem natural, tão emblemática do Rio.

"PORTO DO RIO: O PESADO E O LEVE / Flavio Ferreira

Dos anos vinte aos anos setenta do século passado prevaleceu entre os urbanistas o entendimento de que as cidades existentes eram todas erradas e consequentemente, deveriam ser gradativamente demolidas e reconstruídas a partir do zero, seguindo as prescrições da época do que seria uma boa cidade: um grande gramado sobre o qual pairavam, sobre pilotis, edifícios altos, brancos como a neve...

O projeto de Le Corbusier para o centro de Paris, o Plan Voisin de 1925, felizmente não construído, é um dos primeiros exemplos desta atitude. A segunda melhor solução era abandonar a cidade existente ao léu e construir expansões gigantescas com os edifícios altos sobre o verde. O projeto de Lucio Costa para Barra da Tijuca, dos anos 60, é um bom exemplo desta atitude.

No mundo inteiro “a cidade alta no parque” mostrou-se desagregadora, sem lugares de convívio, favorecendo a exclusão e não a inclusão, a alienação e a delinqüência e não a cultura, a monotonia e não a diversidade.
Além disso, era cara de se construir e difícil de se manter.
As cidades dos Estados Unidos, que tem recursos para corrigir grandes erros, tem demolidos seus trechos de “cidade alta no parque”. A partir dos anos 70, em todo o mundo, este paradigma foi refutado.

Descobre-se que a cidade existente, embora cheia de problemas, tem suas qualidades e suas grandezas e os urbanistas voltam-se para ela e, delicadamente, a reformam, a restauram, dão-lhe mais vida. Retoma-se a pequena escala.

São exemplos no Rio dessa atitude frente às cidades, a de intervenção de pequena escala: o Corredor Cultural de Augusto Ivan e seus companheiros; a melhoria das ruas tradicionais que no Rio se denominaram Projetos Rio-Cidade, desencadeados por Luiz Paulo Conde; as melhorias em áreas carentes aqui designadas Projetos Favela-Bairro, liderados por Sergio Magalhães; a adaptação de edifícios antigos como o Centro Cultural Banco do Brasil e a sede dos Correios; o retrofit de diversos grandes edifícios de escritório no centro da cidade como a antiga sede da Sul América na Rua da Quitanda, de Fernando Monte e da antiga sede da Esso na Avenida Presidente Wilson de Davino Pontual e Paulo Pires; o cuidadoso restauro de diversos palácios, como o da antiga sede da Casa da Moeda para o Arquivo Nacional de Alfredo Britto, o último sendo o restauro do Palácio Imperial na Quinta da Boa Vista. Esses exemplos indicam o muito que se pode fazer seguindo essa vertente predominante do urbanismo e da arquitetura contemporânea.

Não é que agora, em 2009, o projeto “Porto Maravilha” da Prefeitura volta atrás 40 anos e propõe para a área do Porto um plano que leva à destruição da maioria do volume edificado na área e sua reposição por edifícios e altos?

Faz isso ao legislar, quarteirão a quarteirão, a construção de edifícios enormes, os maiores podendo ter 12 vezes a área do terreno, e com altura de até 50 andares. Com esta legislação esses terrenos serão vendidos em hasta pública para a iniciativa privada.

Alem de destruir a maior parte das construções existentes no Porto, os novos edifícios escondem o perfil dos pequenos morros que separam o Porto da Avenida Presidente Vargas e, mais grave, a bela paisagem da grande cordilheira da qual o Corcovado é o elemento mais importante.

Quando viemos da Zona Norte, do interior ou do Galeão, nos sentimos no coração do Rio quando, junto ao Gasômetro, contemplamos de perto o Cristo e o perfil de toda a sua cordilheira. Com o “Porto Maravilha” esta experiência visual maravilhosa estará perdida para sempre.

Legislar muito denso e muito alto tem um outro grave inconveniente: atrasa a consolidação da área. Não há economia urbana suficiente para construir os edifícios grandes de pronto. Terá que haver especulação os terrenos ficarão desocupados por décadas e enquanto isso o Porto continuará vazio.

O projeto deveria enfatizar a reforma, o retrofit, o restauro do existente. Com um olhar contemporâneo lá se vê uma infinidade de oportunidades para este tipo de aproveitamento. O Porto se consolidaria rapidamente e ficaria, já agora, muito mais interessante e vivo. Os melhores exemplos de projetos bem sucedidos hoje são os que enfatizam a preservação e não a demolição e construção de edifícios altos, principalmente nas áreas portuárias.

O primeiro projeto de renovação portuária, no Haymarket em Boston e o Porto Madero em Buenos Aires são disso um bom precedente. No Rio já há alguns exemplos de projetos desse tipo: o pioneiro uso de armazéns do Porto para sede de uma empresa, a Xerox, um retrofit feito nos anos 70 por Pontual Associados; o Parque das Ruínas em Santa Teresa, elegante conjunção entre o velho e o novo, do impecável veterano Ernani Freire; o Museu do Telefone no Flamengo, que preserva seu exterior e revoluciona os seus interiores, do jovem arquiteto Gustavo Martins e seus sócios; a Galeria Progetti na Travessa do Comércio, que cria, com maestria, um pequeno espaço em planta mas altíssimo, do jovem arquiteto Pedro Rivera, são pequenas amostras do que pode ser feito em grande no Porto.

O Porto necessita do talento desses e de outros arquitetos cariocas. Tanto dos muito jovens já com experiência, quanto dos poucos veteranos que compreendem a contemporaneidade.

Com a corretíssima transferência dos principais equipamentos olímpicos para a área do porto como a Vila Olímpica, o “Porto Maravilha” terá que ser reformulado. É um bom momento para refazê-lo leve, coerente com a contemporaneidade e não como um pesado Brucutu do meio do século passado.

Para induzir o retrofit basta que o volume legislado seja igual ao volume já construído e preservados os alinhamentos de fachada existentes. Pode e deve haver exceções, como torres finas e altas, mas de forma que não interfiram na bela paisagem. O Urbanismo é tridimensional: é necessário que se façam planos de massa e simulações tridimensionais do novo e do todo. Em seguida vendem-se os imóveis em hasta pública. Nisso o “Porto Maravilha” está certo: a venda dos imóveis e a conseqüente e indispensável participação da iniciativa privada."
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Olimpíadas sim, mas onde? / Faz sentido pulverizar as instalações olímpicas pela cidade e implantar boa parte delas na zona oeste, enquanto a própria prefeitura anuncia como prioritária a revitalização da área portuária? A discussão vem ganhando fôlego nos últimos dias, desde que o arquiteto Sergio Magalhães publicou um artigo (Folha de S. Paulo), seguido de uma entrevista (O Globo), propondo a concentração dos investimentos na área central. Ele argumenta que, sob vários aspectos, é mais apropriado concentrar os investimentos numa área só do que espalhar equipamentos pela cidade, como prevê a proposta apresenta ao COI. E lembra que quando a proposta olímpica foi apresentada não havia como garantir o aproveitamento dos terrenos públicos ociosos localizados na área portuária, o que se tornou possível agora com o alinhamento - inédito, para o Rio - entre as três esferas de governo. É um argumento forte, a ser considerado com a seriedade que o momento exige. Em todo caso, a área portuária pode e deve ser mais do que apenas um cais para navios-hotéis flutuantes (com 8.500 quartos), conforme prevê o projeto olímpico original.

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Uma oportunidade, muitos desafios / Será a primeira Olimpíada a ser realizada na América do Sul, o que para muitos já é motivo suficiente para comemoração. Mas o Rio também sediará a abertura dos jogos da Copa do Mundo, em 2014, o que explica a onda de otimismo - e mesmo euforia - que vem tomando a cidade desde sexta-feira passada.

Somados a outros projetos urbanísticos propostos ou já em andamento – como a revitalização da zona portuária, numa área central que compreende cerca de 5 milhões de m2 – a realização quase simultânea dos dois eventos esportivos deverá de fato definir uma transformação profunda da cidade nos próximos anos, capaz de reverter a enorme degradação que o Rio vem sofrendo nos últimos 50 anos, desde que a capital foi transferida para Brasília.

Não resta dúvida, portanto, de que estamos diante de uma oportunidade única. O que dizer, no entanto, do modo como projetos de tamanho impacto – em termos urbanísticos, econômicos, sociais e ambientais – vem sendo tratados? Por que motivo todas essas operações tem se caracterizado, por ora, tanto pela imposição de projetos altamente questionáveis, do ponto de vista da sua contribuição arquitetônica e urbanística, quanto pela ausência de diálogo com a maior parte da população direta ou indiretamente afetada? Com relação às Olimpíadas, mais uma vez não foi anunciado, nem sequer cogitado qualquer concurso público de projetos. Pelo contrário. As imagens que seguem enchendo as páginas dos jornais só mostram propostas medíocres, feitas claramente a toque de caixa, quase sempre anônimas ou assinadas por arquitetos cujo currículo sequer justifica o encargo. De acordo com o dossiê apresentado a imprensa pelo Comitê de Candidatura do Rio às Olimpíadas, quem assina o projeto da Vila Olímpica, por exemplo, é uma das maiores construtoras cariocas. Ora, como é que uma cidade marcada por tantos exemplares arquitetônicos reconhecidos internacionalmente permite que grandes projetos como esse sejam apócrifos? E pior: entregues a grandes empresas do ramo imobiliário que surgiram e se firmaram nas últimas décadas multiplicando empreendimentos de nenhuma qualidade arquitetônica e urbanística pela cidade?

Que venham as Olimpíadas, então. E com elas a reativação econômica da cidade, a reversão do esvaziamento do centro, a despoluição da Baía de Guanabara, o freio no desmatamento da Mata Atlântica e no crescimento das favelas, o equacionamento dos problemas de transporte, lixo e violência urbana. Mas também a valorização e a recuperação da arquitetura e do urbanismo de qualidade. Não pode ser muito esperar que as Olimpíadas deixem como legado, afinal, também a revitalização da arquitetura carioca, que já foi tão vigorosa – com Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Sergio Bernardes e muitos outros - mas hoje encontra-se em estado terminal.
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Experiência / "Um dos expoentes da arquitetura brasileira" e um "dos melhores arquitetos deste século, segundo enquete realizada pelo Jornal Gazeta do Povo do Paraná." Assim o arquiteto Paulo Casé se apresenta em seu site, em texto intitulado "Experiência" (http://paulocase.com.br/). E eu ainda me pergunto porquê ele assina tantos projetos importantes para a cidade, inclusive a reurbanização da Praça Mauá, na área portuária.


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Olimpíadas / Ganhamos! E agora? Que Rio teremos, daqui a 7 anos? Que Rio queremos, daqui a 7 anos?

Posto 10 / out 09

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Porto urgente 9 / Parece que os vereadores estão acordando. A segunda votação dos 3 projetos de lei do "Porto Maravilha", que deveria ter ocorrido na terça, foi adiada por falta de quórum. E no dia seguinte (ontem) surgiu uma enxurrada de novas emendas ao projeto (mais de 50!). O vereador Paulo Messina (PV), propôs, por exemplo, a criação de um "Circuito Histórico Cultural", que inclui, entre outras coisas, a recuperação dos pontos históricos da região e a construção de um espaço físico para atividades culturais diversas, com recursos da ordem de 3% dos CEPACs.

Tudo continua um tanto obscuro, mas com um pouco de paciência é possível acompanhar o calendário da tramitação dos projetos: