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Diagramas de Basbaum / O artista plástico Ricardo Basbaum falará sobre Diagramas na última palestra do ciclo "Limites Incertos", amanhã, quarta-feira, às 18:30, no auditório Anchieta da PUC-Rio (R. Mq de S Vicente, 225, Gávea).
 
O ciclo é organizado pelo Programa de Pós-graduação em Arquitetura e pelo Curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio.

Posto 11 / nov 14

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Welcome to Rocinha / O chaveiro foi comprado por 7,50 Reais na “souvenir house” de uma das maiores e mais densas favelas do Rio. A loja está instalada há um mês no pavimento superior de um pequeno prédio da rua 1, principal via de circulação de pessoas, veículos e mercadorias da Rocinha. É preciso ter fôlego e pernas pra vencer a escadinha pra lá de íngreme, revestida de um porcelanato cuja alvura não deve ser fácil manter, diante do lixo amontoado na calçada.
Pela janela, a vista do mar de São Conrado, lá embaixo, é deslumbrante. Nas prateleiras, todas aquelas bugingangas coloridas de plástico e alumínio vendidas aos montes nos pontos mais turísticos da cidade: camisetas, chapéus, bolsas, canetas, copos que provavelmente ninguém compraria se não fossem estampados com a imagem do Cristo Redentor, o Pão de Açúcar ou o calçadão de Copacabana.
Mas entre essas lembrancinhas “típicas do Rio” encontramos também imagens de casas construídas precariamente em encostas. E aqui e ali um “Rocinha” gravado numa bolsa ou chaveiro (made in China ou no Largo dos Boiadeiros?). Pelo tamanho da loja, a quantidade de mercadorias expostas e o grau de investimento no espaço, percebe-se que um bom número de turistas é esperado por aqui. E de várias partes do mundo, ou os chaveirinhos não dariam boas vindas em português, espanhol e inglês.
A vendedora pergunta se sou guia turístico. Quando digo que não ela me olha com um pouco de espanto, como quem pergunta “então o que você está fazendo aqui?” Penso em esclarecer mas o troco vem errado, com uma moeda de 5 em vez de 50 centavos. Percebo que ela fica um pouco constrangida e me calo. Em todo caso preciso descer e voltar pra rua, onde me esperam.
Lá fora, o carro de som continua irradiando poemas de Drummond, numa celebração insólita do seu aniversário que aos poucos vai provocando as reações mais surpreendentes - "eu queria saber ler pra poder ler este livro", diz um rapaz de cerca de 30 anos que não se deixa filmar.
Faz um calor infernal e procuro um canto qualquer pra me sentar. Mas no meio do caminho tem muitas pedras, motos, caixas d’água, flores, 12 salgadinhos por 1 Real, pilhas de tijolos, fuzis, crianças. E grupos de turistas. Todos estrangeiros, claramente. Passam por mim em direção à souvenir house, mas o motoboy parado na minha frente não me deixa ver se ela já está incorporada ao roteiro traçado pelas agências que oferecem um "favela tour" de jeep pela Rocinha, a cerca de 80 Reais por cabeça.
Não há dúvida de que a identidade em construção aqui passa por um tipo de turismo que tem crescido sensivelmente com a instalação das UPPs. Mas até que ponto esse movimento turístico impulsiona de fato o desenvolvimento sócio-econômico da favela, e até que ponto confirma apenas, mais uma vez, o potencial de atração da cidade pelo viés da exploração da miséria, da desigualdade e do exotismo selvagem?
Uma placa já anuncia uma “guest house” a poucos metros da “souvenir house”. E pode ser que ninguém nos dê atenção, se não voltarmos no ano que vem com Drummond em inglês: In the middle of the road there was a stone / there was a stone in the middle of the road / there was a stone / in the middle of the road there was a stone.