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Sergio Bernardes, Futuro próximo / Boa notícia: finalmente o acervo de Sergio Bernardes será catalogado para fins de pesquisa. Todo o material - desenhos, fotos, maquetes, filmes, documentos - foi transferido esta semana para o NPD/Núcleo de Pesquisa e Documentação da FAU-UFRJ, sob a coordenação da profa. Elizabeth Martins.

Entre as preciosidades do acervo há vários projetos de grande escala para o Rio, compreendendo áreas e problemas que hoje estão justamente no centro do processo de transformação da cidade. Entre eles, a Arena Quinta da Boa Vista - um projeto de requalificação urbana de uma vasta área, abrangendo do Maracanã ao Cais do Porto, estruturado a partir da proposta de transformação do Pavilhão de São Cristovão (também projetado por Bernardes, na década de 1950) em uma arena multiuso com capacidade para 20.000 espectadores.

O projeto - encomendado na década de 1990, pelo então prefeito Luis Paulo Conde - foi desenvolvido em parceria com o arquiteto Rolf Hüther e o escritório Millet, Biosca & Associats, de Barcelona (encabeçado pelo arquiteto Lluís Millet e responsável pelo anteprojeto da candidatura de Barcelona para os jogos olímpicos de 1992, e do Rio, para 2004). O estudo de viabilidade indicava claramente o propósito do projeto: "não parece ser um prognóstico temerário afirmar que o Rio será uma cidade olímpica em um futuro próximo. A construção de uma nova Arena representa uma aposta nesse sentido".



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Blogsfera / Começei o Posto 12 em 2009, pensando nos meus alunos e prevendo uma duração de 12 meses. Mas a blogsfera foi se mostrando um espaço deflagrador de debate, resistência e reivindicação cada vez mais imprescindível, que só vem se expandindo e ganhando sentido diante da aceleração do processo de transformações urbanas que vamos vivendo em várias partes no Brasil, e da nossa visível incapacidade de acompanhá-lo (seja como críticos, arquitetos, alunos, jornalistas ou cidadãos, simplesmente). Evidentemente a opção pelo blog não é excludente; não exclui nem reduz o texto crítico, de um lado, nem o trabalho jornalístico, de outro, mas abre possibilidades para o alargamento e aprofundamento de uma reflexão coletiva que já não pode esperar, nem ficar restrita a uma esfera local.


Chega como uma ótima notícia, portanto, a criação recente de um blog por Renato Anelli, arquiteto e professor da USP-São Carlos, para acompanhar especificamente os problemas de infraestrutura e desenvolvimento urbano relacionados com a Copa em São Paulo: http://copasaopaulo.wordpress.com/


E tem outro blog que descobri recentemente, feito por Christopher Gaffney, professor visitante do programa de pós-graduação em arquitetura e urbanismo da UFF, que foca nos impactos sociais e urbanos da Copa e das Olimpíadas no Brasil: http://www.geostadia.com/

Bem-vindos.

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HU / Estréia amanhã, sábado, o documentário 'HU', dirigido por Pedro Urano em parceria com a artista visual Joana Traub Csekö. O filme de 75 min foi realizado no então apenas parcialmente ocupado edifício modernista do Hospital Universitário da UFRJ, projetado por Jorge Machado Moreira na década de 1950, e cuja chamada "perna seca" foi finalmente implodida em dezembro passado (ver posts anteriores: http://posto12.blogspot.com/search?q=implos%C3%A3o+hospital).


É um belíssimo ensaio audiovisual, que estréia a tempo de contribuir para a discussão que vem se alargando sobre os grandes investimentos em infra-estrutura realizados em todo o país por conta da Copa e das Olimpíadas.




O filme passa às 18h, no Arteplex Botafogo, com uma conversa com os diretores após a sessão. O trailer está aqui: http://vimeo.com/29902358

E tem mais informações no blog do filme: http://www.enigmahu.blogspot.com/

(A foto acima é da Yasmin Martins, aluna do Curso de Arquitetura da PUC-Rio, que também filmou o impressionante momento da implosão do hospital: http://www.youtube.com/watch?v=w7bzF3dDaAE )

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Novo Maracanã / Nova cobertura, novas arquibancadas, novos camarotes, quatro novos conjuntos de rampas, lounges e torcedores engravatados: é isso?





"Dá até uma dor no peito", foi o comentário de Romário em visita ao canteiro esta semana. Ver aqui: http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2011/10/quarto-artilheiro-romario-lamenta-aspecto-do-maracana-dor-no-peito.html





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Maraca /
"Mas o Maracanã não é o estádio mais importante do Brasil"? Ele me olha incrédulo, na mesa do simpático "El Rincón", onde sentamos para tomar um vinho depois da minha apresentação em Buenos Aires. Para alguém que não está seguindo de perto o acelerado processo de transformação pelo qual o Rio está passando, custa a crer que o Maracanã - sim, o estádio mais importante do Brasil, e também o único tombado a nível federal - esteja sendo completamente desfigurado, segundo um projeto que ninguém sabe bem como é, nem quanto vai custar.


E se a Copa fosse na Argentina, será que alguém ousaria "modernizar" o La Bombonera (foto), o inacreditável estádio/caixa de bombons do Boca Juniors - por mais que suas arquibancadas, empilhadas verticalmente, sejam obviamente inadequadas para os padrões atuais da Fifa, e ele esteja visivelmente apertado ali, "como um peru num pires"? Ou será que sua imperfeição seria ainda considerada o ponto culminante das atrações daquela região já bem folclórica e cheia de souvernirs mas ainda carregada das imprecisões e qualidades que fazem do bairro portuário de La Boca o reverso do ambiente fashion de Puerto Madero? Penso nisso no avião de volta pro Rio, enquanto acompanho Beatriz Sarlo em seu trânsito por Buenos Aires, sobre o fundo das transformações culturais e urbanas que marcaram a Argentina nos últimos anos ("La Ciudad vista, mercancias y cultura urbana", 2009).


E quando chego em casa encontro uma petição pública exigindo transparência nas obras do Maracanã. É que o movimento "MeuRio" está colhendo assinaturas para cobrar do poder público a divulgação de vários documentos relativos à obra, entre eles os projetos básico e executivo, o estudo de impacto da vizinhança, laudos técnicos e alternativas para a derrubada da marquise. A idéia é entregar a petição, com pelo menos 2000 assinaturas, nas mãos do governador durante o SoccerEx, megaevento de negócios de futebol que acontece no Rio agora em novembro.


1324 pessoas já assinaram:



O assunto também está em pauta no jornal "O Dia" de hoje. "Quem passa por ali fica até com medo de olhar direito: praticamente não sobrou pedra sobre pedra e poucos têm idéia do que vai surgir ali." diz o economista André Urani. Ficções de Borges?


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RioNow / Levo 23 projetos comigo para a Bienal de Buenos Aires, que começa amanhã. Todos concebidos nos útimos 10 anos para o Rio, por arquitetos de várias gerações e partes do mundo. Alguns já construídos, outros em obras, um não desenvolvido, e vários concursos. Minha apresentação - "RioNow. Notes on a changing city" - abre com a Cidade da Música, de Christian de Portzamparc, e inclui, entre outras coisas, uma série de museus (como o MIS, de Diller Scofidio + Renfro), um hospital (Sarah-Rio, de Lelé), algumas instalações esportivas (como o Centro Nacional de Tiro Esportivo, BCMF - na foto acima) e obras de infra-estrutura (como o teleférico do Complexo do Alemão, de Jorge Mario Jauregui). Com exceção da casa em Santa Teresa, de Angelo Bucci, todos são projetos públicos ou de uso público. E enquanto organizava a apresentação, me dei conta de que é a primeira vez que falo de arquitetura contemporânea...no Rio. É um dado e tanto, sem dúvida. Mas o melhor é que o trabalho de seleção no qual me envolvi nas últimas semanas também me colocou diante de um material farto para discussão - que inclui alguns projetos de grande qualidade (agradeço a todos que coloboraram de algum modo com o envio de imagens e informações).



PS: Minha leitura de bordo inclui a entrevista de Rem Koolhaas em S.Paulo, publicada na edição de outubro da revista Bamboo (que encontrei hoje na banca Piauí, no Leblon).
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Maracanã, Marina, Brahma, Ministério... / O que será do Maracanã e da Marina da Glória depois da Copa e das Olimpíadas? Ambos são tombados a nível federal e guardam uma relação indiscutivelmente forte com a paisagem, a cultura e a história da cidade. Mas as informações disponíveis sobre os projetos de reestruturação dos dois espaços, até agora, são tão vagas que quase nada se sabe além do pouco que tem sido noticiado na imprensa. Daí a importância dos dois estudos produzidos recentemente pela arquiteta Claudia Girão, do IPHAN, que foi atrás dos projetos e dedicou-se a examiná-los em profundidade.

Segundo ela, as reformas em andamento (do Maracanã, segundo projeto do arquiteto paulista Daniel Fernandes), ou em vias de serem iniciadas (da Marina, segundo projeto do arquiteto Luis Eduardo Índio da Costa) desconsideram claramente os critérios de tombamento vigentes e envolvem sérios riscos de uma descaracterização irreversível.

Alguém dirá que é alarmismo. Mas a marquise do Maracanã, por exemplo, já está sendo demolida para ser substituída por um cobertura de lona supostamente exigida pela FIFA - e isso, apesar dos protestos públicos dos arquitetos Nestor Goulart Reis Filho e Italo Campofiorito, que participaram do processo de tombamento deste que é o único estádio brasileiro tombado pelo IPHAN.

Já no caso da Marina - cujo anteprojeto recebeu uma autorização preliminar do Conselho Consultivo do IPHAN em maio deste ano – há, segundo Claudia, a previsão de um imenso estacionamento de quase 60 mil m2, que não só vai gerar um enorme movimento de terra no parque projetado por Burle Marx como também um movimento de veículos indiscutivelmente perturbador para o parque.

No entanto, essa informação, aparentemente, não foi comunicada ao Conselho do IPHAN, que sequer recebeu qualquer parecer técnico ou pranchas do anteprojeto; apenas um dossiê A4 encadernado, sem plantas, cortes e fachadas, e áreas construídas. Assim, ao que tudo indica, algumas informações básicas ainda não foram passadas ao Conselho, como a indicação do deck de 12 mil metros quadrados que se pretende cravar sobre estacas na enseada da Glória, e deverá ser encimado por uma construção de 5,50m de altura. É verdade que o projeto executivo ainda deve ser submetido ao Conselho (que, por ora, exigiu da EBX um Termo de Compromisso garantindo o acesso público ao espaço). Mas motivos de apreensão não faltam.

Basta lembrar o caso recente da fábrica da Brahma, no Catumbi, que foi destombada pelo próprio governador do Rio, Sérgio Cabral. E para que? Para permitir obras de ampliação do Sambódromo visando a construção de equipamentos olímpicos no local, que envolveram a negociação, com uma empresa privada, de índices de construção ampliados para o terreno da antiga cervejaria - implodida em junho deste ano. (ver post anterior: http://posto12.blogspot.com/search?q=%C3%A1ureo)

Também convém lembrar o alerta insistente da arquiteta Maria Elisa Costa sobre as obras de “retrofit” que ameaçam o Palácio Gustavo Capanema (antigo Ministério da Educação), monumento máximo da arquitetura moderna no Brasil, também tombado pelo IPHAN. (ver post anterior: http://posto12.blogspot.com/2011/07/posto-07-jul-11.html)

Enfim, eu gostaria que os dois estudos da arquiteta Claudia Girão estivessem errados. Mas eles resultam da análise mais cuidadosa que vi até agora dos projetos em questão, incluindo um precioso histórico de projetos anteriores e dos respectivos processos de tombamento, sem deixar muita margem para dúvida. É só ver aqui:














Posto 10 / out 11

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Rem in Rio / A carta para Koolhaas conta até agora com cerca de duas dezenas de assinaturas. Até segunda, quando ela será enviada, ainda é possível subscrevê-la. Mas será inútil esperar por resposta. Simplesmente há alguma coisa a dizer e ela está sendo dita – do modo como é possível neste momento, numa ação singela, mas minimamente estruturada coletivamente, contra a inércia e o conformismo.

E nisso há qualquer coisa que me faz lembrar Torquato Neto: “o principal mandamento de quem quer estar vivo é não morrer de jeito nenhum, e servir pra alguma coisa.”
(sobre o papel cumprido pelo MAM, nos anos 70)