16
Oportunidade perdida / "O Brasil perdeu uma oportunidade com a Copa do Mundo", diz o prefeito do Rio, em entrevista publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo. E acrescenta: "As ruas não disseram que são contra a Copa ou a Olimpíada. Dizem: somos contra a forma como se fez a Copa."  
 
E as Olimpíadas?
 
Segue a íntegra da entrevista:
"O Brasil e o Rio bateram muito bumbo pela conquista de grandes eventos. No fim do primeiro, a imagem que fica é de manifestações nas ruas, de violência. Isso o preocupa?
Obviamente. Acho que o Brasil perdeu uma oportunidade com a Copa do Mundo. As ruas não disseram que são contra a Copa ou a Olimpíada. Dizem: somos contra a forma como se fez a Copa.
O que fez o Brasil perder essa oportunidade?
Um conjunto de coisas. A Fifa não se preocupa com legado, mas com o estádio.
Não cabe ao governante esta preocupação?
Começa pela Fifa. O governo federal, quando fez o PAC da Mobilidade da Copa, talvez tenha demorado a perceber que era uma oportunidade de novos investimentos que não guardam relação direta com a Copa.
O governo federal errou?
Os governos em seus diversos níveis erraram ao não perceber que esse evento tem muito mais que futebol.
A Copa foi um bom negócio?
Acho que sim. Não exploramos [a oportunidade], mas ainda há tempo. Não estou preocupado porque a imagem é de manifestação. Vamos parar com essa mania do Brasil ficar se mostrando um país perfeitinho. Nós não somos. Mas ninguém aqui está lutando por liberdades, direitos para mulheres, voto. Isso aqui não é primavera árabe. É uma democracia consolidada, que se manifesta. Não tem que achar que o gringo vai olhar e dizer: "Olha, eles fazem manifestação". Nós somos democratas. Anos atrás não se podia fazer manifestação. Aí era para ter vergonha.
As cenas de quebra-quebra na cidade, operação policial com nove mortos no Complexo da Maré não assustam?
Operação com nove mortos na Maré era toda semana.
Mas ocorrer durante a Copa das Confederações...
Não é o melhor dos mundos. O ideal é que a gente vivesse num país com características suíças. Se bem que eu ia achar um saco. É o Brasil.
O sr. acha que se o país buscasse hoje sediar uma Copa, teria que haver plebiscito?
Isso não é tema de plebiscito. Nas pesquisas, havia uma aprovação absurda para a Copa e a Olimpíada. Há uma clara posição de que querem ser mais ouvidos.
O carioca tem motivos para sair às ruas em protesto?
O Rio melhorou, as pessoas reconhecem. O que o país diz é: "Vamos parar de curtir que viramos democracia, que tiramos 40 milhões da pobreza, que temos pleno emprego, e vamos avançar mais?" Em determinado momento, a classe política deitou em berço esplêndido.
Os partidos estão em crise?
As pessoas não rejeitaram os partidos, rejeitam os políticos, os personagens. Essa é uma crise de todos nós.
O seu partido, o PMDB, tem uma imagem negativa...
[Interrompe] Que partido tem imagem boa? Só os que estão por nascer. Único partido com imagem boa é a Rede [de Marina Silva] porque ainda não nasceu.
O PMDB deveria mudar alguma coisa para melhorar?
Deixo com você a resposta.
O sr. fez a primeira licitação de ônibus para a cidade, mas ela acabou mantendo os mesmos empresários. Não parece um jogo de cartas marcadas?
Quando faz um processo licitatório com essas características, quem tem 50 garagens estabelecidas pela cidade, 10 mil ônibus, sai naturalmente com vantagem.
O episódio da briga que o sr. teve com um carioca pode lhe trazer prejuízos políticos?
Me arrependo, como homem público, de ter perdido a cabeça. Tive uma reação que não deveria ser a reação do prefeito. Se fosse um cidadão normal, teria sido natural. Mas não sou esse super-homem. Gosto de sair, ir para a rua, tomar uma cervejinha. Mas não fico satisfeito de jantar com a minha mulher e um sujeito ficar xingando a minha quinta geração. Bêbado. "

Nenhum comentário:

Postar um comentário