2
Vida e Morte na Amazônia / No caderno "Ilustríssima" da Folha de S.Paulo de ontem, um belo artigo sobre Thiago de Mello abre uma discussão importante sobre o estado de conservação de obras pouco conhecidas de Lúcio Costa na Amazônia: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2013/09/1347835-o-poeta-e-a-floresta.shtml

O autor, jornalista Claudio Leal, esteve recentemente nas casas projetadas por Lúcio Costa para o poeta e documentou seu estado atual. As fotos não foram publicadas no jornal, mas estão aqui, por gentileza do autor. E como estou citada na matéria, reproduzo abaixo também as respostas que dei às suas perguntas, na íntegra:

Casa em Porantim do Bom Socorro - primeiro projeto de Lucio Costa para Thiago de Mello, anos 70 (única incluída pelo próprio Lucio Costa em seu livro, "Registro de uma vivência")


Casa em Paraná do Ramos, segundo projeto de Lucio Costa para Thiago de Mello, anos 90


Casa em Porantim do Bom Socorro



Torreão, Porantim do Bom Socorro


Casa em Porantim do Bom Socorro

Casa na Freguesia do Andirá, terceiro projeto de Lucio Costa para Thiago de Mello, anos 90 (residência atual do poeta, que está bem conservada e não se inclui no contexto das casas de Porantim do Bom Socorro e Paraná do Ramos)
- Qual a importância arquitetônica das casas de Thiago de Mello em Barreirinha, projetadas por Lúcio Costa?
As casas são exemplares raros de inflexão da linguagem arquitetônica moderna - em seu caráter por princípio universalizante - a uma situação muito específica, do ponto de vista cultural, climático etc. E tem, por isso mesmo, um valor inestimável para o quadro da arquitetura no Brasil. Se Lucio Costa já havia trabalhado com procedimentos semelhantes num projeto dos anos 1940 - o Park Hotel de Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, também com estrutura de madeira - aqui o contexto amazônico é determinante, e se soma ao fato da casa ter sido projetada para um poeta - ou seja, trata-se também de um produto do encontro de dois raros artistas brasileiros, e ao mesmo tempo um testemunho extraordinário do pensamento de Lucio Costa e do modo de habitar de Thiago de Mello.
- É válido o pleito do poeta amazonense de querer que os imóveis sejam tombados, pelo seu valor histórico e arquitetônico?
Mais que o tombamento, deve-se garantir a preservação das obras. O tombamento é um instrumento extremo, que por si só não garante a preservação da obra em sua integridade - como se vê pelo estado lastimável em que se encontram várias obras tombadas, constantemente ameaçadas pelo descaso e a má conservação, a começar pela própria obra máxima da arquitetura moderna no Brasil, o Ministério da Educação e Saúde (atual Palácio Capanema), no Rio de Janeiro, projeto em que a presença de Lucio Costa foi fundamental.
O que pode contribuir para a preservação das casas é o uso permanente e adequado às suas características arquitetônicas. Uma casa viva não morre. Além disso, sua valorização decorre também de uma consciência maior do valor cultural de uma obra como a de Lucio Costa, que por sua própria discrição e interioridade, não teve ainda o amplo reconhecimento que merece.

Nenhum comentário:

Postar um comentário