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Parque Olímpico / Ainda há vagas para a visita ao canteiro de obras do Parque Olímpico da Barra, que será realizada amanhã, sexta-feira, dia 29/11, às 11h.  Para participar, basta enviar nome completo, telefone, email e identidade para atendimentoparqueolimpico@xbienaldearquitetura.org.br

 
A visita será acompanhada por Claudia Escalarte (Coordenadora Técnica do Parque Olímpico - Empresa Olímpica Municipal), Pedro Rattes (Assessor de Projetos - Empresa Olímpica Municipal) e Adam G. Williams (arquiteto - AECOM), e pela profa. Ana Luiza Nobre (CAU/PUC-Rio - X Bienal de Arquitetura de São Paulo).

Os visitantes devem usar calça comprida e sapato fechado com sola de borracha (sem salto), e apresentar-se no local (Av. Aberlardo Bueno s/nº - Barra da Tijuca - Entrada pelo Portão 2) com 15 minutos de antecedência, munidos de documento de identidade
.

(O cronograma de obras e a imagem acima foram extraídas daqui: http://blogs.lancenet.com.br/rio2016/tag/parque-olimpico/. Abaixo, está o cronograma do Parque Olímpico de Deodoro, extraído do mesmo site)






13 / Rio de Janeiro, 24.nov.2013, 07:00



 



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Urbanização e espetáculo / Ainda absorvendo o impacto da implosão desta manhã, leio a entrevista concedida por David Harvey ontem ao Canal Ibase: 
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Perimetral / Pronto. Agora é só apertar um botão. Amanhã, às 7.
E não vai durar mais que 5 segundos.

As fotos são de Ana Altberg e foram feitas hoje à tarde, depois do David Harvey.




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Aplicativo Bienal / O aplicativo da X Bienal de Arquitetura de São Paulo, feito pelo estúdio zut, está disponível para download gratuito no iTunes e Google Play: http://estudiozut.com/xbienalarq/
Contém material inédito, inclusive entrevistas em vídeo com Paulo Mendes da Rocha (num depoimento imperdível sobre as curvas de Niemeyer), Eduardo Longo e José Celso Martinez Correa, além de um trecho recuperado de depoimento de Artigas sobre a FAU-USP. E também breves apresentaçoes em áudio, pelos curadores, de várias exposições da Bienal. 
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Notas sobre a X Bienal de Arquitetura, por João Masao Kamita (PUC-Rio):

Correspondências
Charles Baudelaire

A natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam filtrar não raro insólitos enredos;
O homem o cruza em meio a um bosque de segredos
Que ali o espreitam com seus olhos familiares.

Como ecos longos que à distância se matizam
Numa vertiginosa e lúgubre unidade,
Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,
Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam.

Há aromas frescos como a carne dos infantes,
Doces como o oboé, verdes como a campina,
E outros, já dissolutos, ricos e triunfantes,

Com a fluidez daquilo que jamais termina,
Como o almíscar, o incenso e as resinas do Oriente,
Que a glória exaltam dos sentidos e da mente.

[Tradução de Ivan Junqueira. In: Ivo Barroso (org.), Charles Baudelaire - Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1995.]

Los Angeles
Centro Cultural São Paulo - teto jardim


A Bienal de Arquitetura de São Paulo bem que poderia ser chamada de Bienal da Cidade. Mais do que apresentar intervenções exemplares, obras edificadas, pequenas e múltiplas soluções para ínfimos problemas, formando aquela tradicional procissão enfadonha de arquiteturas banais e desinteressantes justapostos à salas especiais de homenageados,  a curadoria optou por apresentar uma pauta de temas sobre a cidade. Afinal, se algum consenso há nos dias atuais é a recolocação do tema da cidade no centro dos debates.  
Ideias, situações, discussões, ações são disparadas, para demonstrar que a cidade é muito mais do que pensamos, mais do que podemos conceber, que ela está muito além do que a arquitetura pode imaginar. Mais rica, problemática e paradoxal.
A opção de espalhar núcleos da Bienal pela cidade, ao invés de contê-la num único espaço me parece decorrente dessa dupla constatação: o reconhecimento dos limites atuais de profissão e a consciência da complexidade crescente da cidade.
Mas também decorre de uma atitude teórica, ou mais precisamente, de certa visão da contemporaneidade: a da condição do nomadismo como inerente à experiência metropolitana. Nessa deriva programada temos a chance de atravessar territórios, paisagens, fluxos; temos a oportunidade de nos deixar olhar a cidade, mas também ser olhados por ela. Entre um trânsito e outro, atravessamos as estruturas “expositivas”  espalhadas ao longo desse percurso circular.
Essa estratégia tem algo da dialética site/non site de Robert Smithson, no qual estando num lugar se remete ao outro e vice-versa, mas também há algo do conceito site specific já que em cada espaço institucional escolhido, o que se “expõe” tem algo a ver com o lugar expositivo.
O centro nervoso, a meu ver, é o Centro Cultural São Paulo, onde os caminhos se cruzam. Vou me concentrar fundamentalmente nesse local. Lá a mostra “Modos de Agir”, se espalha num espaço que se encontra em situação intermediária: entre o mecânico e o orgânico, entre arquitetura e paisagem, entre edifício e equipamento urbano. Ali, entre passarelas e plataformas, cidades mais diversas são discutidas. Das insólitas e inesperadas experiências orientais (a escala gigantesca, a velocidade das transformações, os lugares novos abandonados, a reversão da modernização em favor da volta ao “natural”) à crise dramática e assustadora de Detroit (o fracasso do modelo de modernização e da cidade industrial moderna), a questão de que tipo de cidade estamos construindo se impõe. E para demonstrar que as coisas estão longe de se reduzirem à fáceis posições dicotômicas, o caso de Los Angeles, outro exemplo de cidade-automóvel igualmente impõe a contra-pergunta do caso Detroit: nesta luta entre pessoas e carros, realmente em cidades como as nossas, podemos abrir mão de viver sem o automóvel? A título do pensar, a pergunta é tão ou mais necessária que simplesmente decretar a máquina como o vilão de nossas violentas realidades urbanas.

Nesse módulo – Carrópolis (carville) – não pude deixar de ficar agarrado pela penetrante observação de Jean Baudrillard, num dos painéis expostos:

“Algo da liberdade da circulação nos desertos se encontra aqui; Los Angeles, por sua estrutura extensa, nada mais e do que um fragmento habitado. Portanto, as freeways não desfiguram a cidade nem a paisagem; atravessam-na e desatam-na sem alterar o caráter desértico dessa cidade e expandem idealmente ao único prazer profundo, que é circular”.

A X Bienal, como vimos, foi tomar exemplos longínquos para colocar problemas que nos são comuns. Mas também trouxe realidades locais, que o Brasil, ou mais explicitamente, o eixo dominante SUL-SUDESTE desconhece.  É desconcertante o que vemos em “Brasil: o espetáculo do crescimento”. Ali, pelo visto, uma violenta urbanização/industrialização está em curso, da qual pouco sabemos. Belo Monte, Carajás, São Francisco, Agro-Negócio, Pré-Sal, todos estes fenômenos estão mobilizando e transformando as regiões Norte/Nordeste/Centro-oeste. Redes de energia, transporte, portos e aeroportos, cidades, tudo surgindo a uma velocidade inédita, formando um caldeirão imponderável de economias, urbanidades, sociabilidades e culturas. Coisas que acontecem no Brasil que o Sudeste desconhece mas que não escapam de um investigador atento e arguto como Eduardo Viveiros de Castro, em outra citação exposta na exposição:

“A Amazônia hoje é o epicentro do planeta. Do Brasil, é o epicentro, o alfa e o ômega. O Brasil se desloca para a Amazônia (...) Tudo acontece lá, o tráfico de drogas passa por lá, os interesses econômicos estão lá, os grandes capitais estão fluindo para lá, as questões da ecologia, o olhar do mundo, a paranoia e a ilusão do paraíso, tudo esta lá, ou voltando para lá. Para o bem ou para o mal, a  Amazônia virou o lugar dos lugares, natural como cultural; aliás, é lá que se esta sendo cozinhado um gigantesco guisado cultural, e que daqui nós não temos a menor ideia do que esta se passando”.

Porém, esse Brasil distante faz eco mais ao Sul. Tal qual um sismógrafo, uma linha do tempo (RIO NOW), novos mecanismos para flagrar as transformações em curso (NOVAS CARTOGRAFIAS) e uma imaginação dos novos tempos em tempo de regressão (RIO FUTURO – Sergio Bernardes) nos alertam para a antiga Capital Federal que está passando por um processo de transformação profundo, cuja direção parece muito desconectada de qualquer conceito ou visão do que seja efetivamente a dimensão pública ou de um processo de discussão crítica. E ainda que São Paulo não esteja diretamente representada na mostra (exceto pela esclarecedora história do “minhocão”), está implicitamente (ou talvez explicitamente) envolvida uma vez que a proposta do novo Plano Diretor coincide com a Bienal.
E não nos esqueçamos de que o fenômeno das multidões nas ruas aponta, em escala nacional, para o debate sobre “o direito à cidade”.

Antes de passar para os próximos núcleos, não posso deixar de apontar a bela e tocante homenagem ao “Robin Hood Gardens” projeto extraordinário e visionário dos Smithsons, em emocionante depoimento do casal sobre a história do projeto e com imagens históricas e esclarecedoras de uma obra de habitação exemplar. Uma experiência a ser, sem dúvida, recuperada e valorizada.

No MASP, os expoentes do “brutalismo” – Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Lina Bo Bardi – se alinham a artistas como Hélio Oiticica e Cildo Meireles, numa aproximação incomum entre arquitetura e artes plásticas, o que abre perspectivas inesperadas de diálogos plásticos, exorcizando o sempre presente provincianismo que provoca o desdém mútuo entre as duas esferas. Há, sim, muito em comum entre arte e arquitetura do período, pois o brutalismo apesar de sua densidade e consistência nunca deixou de incentivar o livre percorrer dos espaços e a arte de Oiticica e Meireles sempre esteve atenta e participante do urbano, mesmo nos interiores do Museu.

Desdobrando a lógica curatorial de correlacionar espaços institucionais e mostras expositivas, temos no SESC Pompéia o lugar para as propostas colaborativas e coletivas, do mesmo modo que no Museu da Casa Brasileira experiências iconoclastas do habitar desde a década de 1970 são apresentadas (Casa Bola de Eduardo Longo, Casa Moriyama de Ryue Nishizawa e o programa Minha Casa, Minha Vida), não sem um viés crítico lançado contra o modo paternalista e medíocre das propostas edilícias e políticas habitacionais em curso no país.

Assim, nos diversos e dispersos núcleos temáticos (os “modos de ...”) espalhados por São Paulo, abrem-se discussões, problemas são explicitados e aí sim algumas intervenções de arquitetura e urbanismo, pontuais mas estratégicas, são apresentadas. Não à título de soluções ideais para os problemas levantados, mas pela convicção de que projeto é, de fato e de direito, uma forma de discutir não só os problemas metropolitanos, mas também de se refletir as condições de possibilidade e as especificidades da própria disciplina da arquitetura.

Estas e tantas outras atividades compõem a programação da X Bienal. Podemos concluir dizendo que esta se concebeu como uma série de eventos (exposições, debates, música, cinema, ocupações, intervenções artísticas, caminhadas), como acontecimentos na vida pulsante da Metrópole, de modo algum à parte, antes participante. O seu modo de ser, portanto, não se reduziu ao exclusivamente visual, típico das exposições de arquitetura, antes mergulhou numa multiplicidade de sentidos e sensorialidades, em clave verdadeiramente sinestésica, no qual a percepção intelectual e deslocamento corporal não se separam. E tal ordem de sinestesia seria o próprio da experiência metropolitana da transitividade, do jogo descontínuo entre o fixo e o fugidio, entre o eterno e o transitório, entre a dissolução da experiência na dispersividade contemporânea e a tentativa dramática de reconstituí-la, ainda que apenas por um breve instante. O tema baudelairiano das correspondências surge de modo a articular distâncias e a nos lembrar de que percepção é atenção, mas uma atenção que não impõe interpretação definitiva ou se contenta com a mera imagem superficial. É propriamente um continuo retornar, um perpétuo rodear por diversos meios e vias, sem pretender esgotá-la.
 
Para ver, percorrer, pensar ..."
(publicado originalmente no blog do autor, Cumulus Nimbus: masaokamita.blogspot.com.br)
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Véu de noiva / Não há de ser por acaso a semelhança com o último trabalho de José Resende na Mooca, em São Paulo (Canteiro de Operações, com Nelson Brissac e Heloisa Maringoni). Também este canteiro fica numa região central em acelerada mutação, marcada por um eixo viário que corta uma área de passado industrial, onde velhos galpões vão sendo substituídos por um padrão arquitetônico e urbanístico perverso, sob a pressão dos negócios que impulsionam a estratégia de revitalização da área. Mas a tela branca que cobriu os vagões sucateados ao longo do ramal ferroviário mais parece agora o véu de uma noiva, que incorpora e recobre o imperativo pulsional da cidade e se oferece como um estranho objeto de desejo, na borda/perímetro vida/morte. A seus pés, ao longo de centenas de metros, se alinham pilhas de pneus, latões, estacas de ferro e montes de areia, à espera do grande momento. Serão quatro toques sonoros, e não mais que 10 segundos de explosão. A cerimônia será realizada no próximo domingo, dia 24 de novembro, às 7 da manhã. Já terão dono então as 9 mil toneladas de aço que vão a leilão amanhã.

 
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Estado da Arte / Texto que escrevi para a seção "Estado da Arte", d'O Globo, a pedido do jornal:
 
 
"Protagonismo sob suspeita

 
Não há dúvida de que a arquitetura no Brasil desfruta hoje de um protagonismo raro, talvez só comparável, em tempos recentes, ao período de maior expressão do moderno que teve seu vértice e limite em Brasília. As circunstâncias são muito distintas, no entanto. O que move a arquitetura no Brasil hoje não é, evidentemente, o idealismo que projetou e ergueu em três anos uma capital no Planalto.  A situação atual da arquitetura no Brasil tem a ver com um quadro complexo que envolve uma conjunção de fatores político-econômicos, como a estabilidade registrada pelo Brasil diante da crise econômica mundial, as políticas públicas de geração de emprego e renda, a ampliação da classe média, a descoberta da camada de pré-sal e a sintomática eleição do país como sede de uma sequência de megaeventos internacionais, tanto de origem religiosa quanto esportiva.

De todo modo, e ainda que em novo registro, conta-se mais uma vez com os apelos da “modernização” para levar adiante um modelo de desenvolvimento econômico que tem um impacto enorme e imediato sobre a já caótica dinâmica da urbanização brasileira. A disseminação desse modelo é evidente: em cidades como Parauapebas ou Rio de Janeiro, o que vemos hoje é um processo acelerado de transformações urbanas fortemente ancorado na arquitetura, do qual esta em primeira instância se beneficia, em termos de um aumento progressivo de clientes, projetos e negócios. Há um aquecimento do mercado de trabalho hoje que era impensável poucas décadas atrás, e do qual a multiplicação e expansão dos cursos de graduação e pós-graduação em arquitetura no Brasil é um dos sintomas. Outros, talvez mais evidentes, estão nas próprias ruas, onde as caçambas, placas e massivos canteiros de obras se multiplicam em cidades de médio e grande país afora. Assim como se multiplicam os arquitetos, investidores e empresas de origem estrangeira que aportam aqui em busca de oportunidades.
A esse movimento corresponde a emergência indiscutível de um tema incontornável para a arquitetura hoje, que é a cidade.  Ou melhor, a crise da cidade. A deterioração das condições de existência na cidade, o colapso de infraestrutura e serviços, as desigualdades sociais e territoriais, a violência, o eterno conflito entre interesses privados e públicos, tudo isso que está atualmente na agenda da arquitetura, no mundo todo, ganha aqui uma dimensão aguda, evidenciada claramente nas manifestações de junho. Porque, no fundo, os confrontos evidenciaram não só a crise da cidade, mas também o grau de insatisfação popular com as políticas urbanas vigentes: com o transporte público, o saneamento, a segurança pública, a habitação, a truculência do processo de transformações urbanas de uma cidade que se prepara para as Olimpíadas. O que veio à tona, afinal, foi a recusa a um modelo de cidade limitada a poucos, em detrimento de muitos. Por isso, se as reivindicações se mostraram variadas, e muitas vezes difusas, a estratégia não deixou de ser fundamentalmente a mesma: ocupar o espaço público – ou o que se entende como tal, seja uma praça, uma rua, um túnel – e forçar sua redefinição.
Neste sentido, as manifestações e ocupações recentes tem muito a dizer aos arquitetos. Porque ao mesmo tempo em que a arquitetura salta aos olhos, no Brasil, como protagonista de um período de grandes transformações que tem sua expressão máxima na cidade (e o Rio de Janeiro tem se mostrado exemplar neste sentido, ao investir maciçamente em obras icônicas como o MIS, o MAR e o Museu do Amanhã), uma crise disciplinar vai se mostrando cada vez mais incontornável para os arquitetos brasileiros. Se conseguimos contornar a autocrítica que forçou a reorientação do pensamento e da prática projetual da arquitetura na segunda metade do século XX, talvez não possamos escapar da crise que parece se anunciar sob a expansão do mercado arquitetônico brasileiro e dos sinais de sucesso colhidos sob a pressão dos calendários impostos pelos programas políticos, investimentos e megaeventos.
Não por acaso, em contraste com as imagens renderizadas de lançamentos arquitetônicos que preenchem as páginas dos jornais, e os investimentos vistosos em infraestrutura que vem redefinindo nossas paisagens urbanas, cresce o interesse pelo repertório de usos – muitos deles imprevistos - que as cidades brasileiras revelam, em sua incrível vitalidade e criatividade. Coisas como o Baile do “Dutão”, que cresceu sob o viaduto de Madureira, subvertendo sua lógica rodoviarista e transformando-o num dos salões de baile mais elegantes da cidade. Ou a farra dos skatistas sob a marquise de Niemeyer no Ibirapuera, numa manhã de domingo em São Paulo.
Vinte anos depois que a crise do urbanismo foi tematizada por Rem Koolhaas, começam também a surgir no Brasil coletivos que testam novas formas de ação e associação à revelia das estratégias de city-branding associada a desastrosos processos de reestruturação urbana mundo afora. Operando numa escala pontual, com ações menos formalizadas que muitas vezes se constroem por desdobramentos, pequenos grupos como CRIT, Basurama e Partizaning, hoje ativos em várias cidades do mundo, procuram abrir novas perspectivas para a arquitetura do ponto de vista da sua prática política e projetual, com base na exploração de modos colaborativos que frequentemente envolvem também novos meios de financiamento e realização. Por isso mesmo, considero seu mapeamento uma das contribuições mais produtivas da X Bienal de Arquitetura de São Paulo, atualmente em curso em vários espaços da capital paulistana (com curadoria de Guilherme Wisnik, Ligia Nobre e eu).
Pode não ser muito, se comparado à arquitetura que costuma ser identificada com profissionais e obras de sucesso, e frequentemente usada para atrair investidores e turistas. E mesmo em relação ao patrimônio arquitetônico que nos foi legado pela geração de arquitetos que construiu Brasília. Mas justo neste desequilíbrio pode estar a chave para o que Margit Mayer identifica com um dos saldos mais desafiadores dos novos movimentos sociais: a demanda por uma prática de projeto (de arquitetura, urbanismo, design) que vá além da sua concepção mais ordinária, como serviço voltado para a solução de problemas e demandas, e considere sua potência para construir criticamente novas relações sociais."

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Canteiros abertos: Parque Olímpico / Será realizada no dia 29/11, às 11h, mais uma visita guiada a um importante canteiro de obras no Rio: desta vez, ao Parque Olímpico da Barra da Tijuca. A visita é uma extensão da exposição RioNow, que pode ser vista até 1 de dezembro no Centro Cultural São Paulo, na X Bienal de Arquitetura.

Para participar, é preciso enviar com antecedência nome completo, telefone, email e identidade para:
atendimentoparqueolimpico@xbienaldearquitetura.org.br. São apenas 30 vagas. A visita será acompanhada por Claudia Escalarte (Coordenadora Técnica do Parque Olímpico - Empresa Olímpica Municipal), Pedro Rattes (Assessor de Projetos - Empresa Olímpica Municipal) e Adam G. Williams (arquiteto - AECOM).

Os visitantes devem usar calça comprida e sapato fechado com sola de borracha (sem salto), e apresentar-se no local (
Av. Aberlardo Bueno s/nº - Barra da Tijuca - Entrada pelo Portão 2) com 15 minutos de antecedência, munidos de documento de identidade. Só terão acesso ao canteiro os visitantes que cumprirem estas condições.



Foi lançada ontem a licitação da obra da Arena de Handebol, uma das estruturas temporárias das Olimpíadas de 2016, a ser construída no Parque Olímpico da Barra.
 
A arena terá capacidade para 12 mil espectadores e ocupará uma área de cerca de 35 mil m2. As obras estão previstas para começar no primeiro semestre de 2014 e terminar no segundo semestre de 2015. Depois dos jogos, a estrutura será desmontada e remontada, dando origem a quatro escolas municipais (três na Barra e uma em São Cristóvão), com capacidade para 500 alunos cada. 
 
Neste sentido, o projeto - desenvolvido por um consórcio formado por Lopes Santos & Ferreira Gomes Arquitetos, Oficina de Arquitetos, MBM Serviços de Engenharia e DW Engenharia - se apresenta com um caráter inovador em relação às instalações olímpicas tradicionais, ao introduzir uma concepção baseada na ideia de montagem, desmontagem, deslocamento e remontagem - no caso, a partir dos mesmos elementos básicos, que ao serem remontados, assumem novas relações, definem novos espaços e configurações, acolhendo também novos usos.

Ainda não conheço do projeto mais do que o pouco publicado na imprensa e no site da Empresa Olímpica Municipal (http://www.rio.rj.gov.br/web/eom/exibeconteudo?id=4463719). Mas em princípio desconfio que não se trata propriamente de uma "arquitetura nômade", como tem sido divulgado. Mesmo porque tudo indica que a remontagem se dará uma única vez. Ou seja, ainda que potencialmente admita-se uma itinerância ou deslocamento contínuo - de acordo com a natureza própria do nômade - a estrutura logo se tornará sedentária, contradizendo assim o princípio sobre o qual se apoia. Mas se a definição da proposta pode ser um pouco forçada do ponto de vista conceitual, nada diminui seu potencial interesse como estratégia possível de reutilização criativa e sensível a preocupações ambientais contemporâneas, num passo adiante em relação aos chavões desgastados da sustentabilidade e às respostas que tem sido dadas à demanda de construção de um legado olímpico para a cidade.  Neste sentido, por si só, o projeto merece atenção. Abre-se com ele a possibilidade de introduzir uma diferença em termos da arquitetura que costuma fazer par com os mega eventos esportivos internacionais.
 
 
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CRIT no Rio / Os arquitetos indianos Rupali Gupte e Prasad Shetty (CRIT/ Collective Research Initiatives Trust, baseado em Mumbai) estarão amanhã, dia 14, no Curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC, para apresentar seu trabalho na palestra "Being nicely messy" ("Um bom modo de ser bagunçado") às 11h, no edifício IMA. Trata-se de uma oportunidade rara para conhecer e discutir como jovens arquitetos indianos estão lidando com situações urbanas extremamente complexas e desafiadoras.
 
O CRIT está no Brasil a convite da X Bienal de Arquitetura de São Paulo, onde participa do módulo "Modos de Colaborar", realizando vários workshops no SESC-Pompéia.

Mais informações sobre eles aquihttp://crit.in/

 
3
Canteiros abertos / No âmbito da X Bienal de Arquitetura de São Paulo, será realizada mais uma visita guiada a um canteiro de obras no Rio: desta vez, ao Parque Olímpico da Barra da Tijuca, dia 29/nov. A visita é uma extensão da exposição RioNow, que pode ser vista até 1 de dezembro no Centro Cultural São Paulo, e tem vagas limitadas. Informações em breve no facebook da Bienal: https://www.facebook.com/xbienaldearquitetura
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David Harvey / No Brasil para uma série de conferências, o geógrafo britânico David Harvey falará sobre o papel das manifestações nas lutas pela transformação das cidades na palestra "Os limites do capital e o direito à cidade", sábado, dia 23, às 11 hs, no Teatro Rival, na Cinelândia.
 
O evento é uma realização da editora Boitempo em parceria com a PUC-Rio, numa realização conjunta do Decanato do Centro de Teologia e Ciências Humanas, o Instituto de Estudos Avançados em Humanidades e o Programa de Pós-graduação em Arquitetura.

Na ocasião, ocorrerá também o lançamento de dois livros: "Os limites do capital", considerada a mais importante obra de Harvey; e "Cidades rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil", coletânea que inclui um artigo do autor sobre o direito à cidade.
 
A palestra é aberta a todos os interessados, mas as vagas são limitadas e as inscrições devem ser feitas antecipadamente por email, enviando nome completo e telefone para ieah@puc-rio.br.
 

Posto 11 / nov 13


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Río Boom / "Post Scriptum" na última edição da revista argentina Summa+, que acabo de receber:

"Río Boom
 
por Ana Luiza Nobre
 
 
Que há um boom da arquitetura no Rio de Janeiro hoje, ninguém duvida. Em função dos grandes eventos esportivos que vem por aí (Copa do Mundo em 2014, Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016), a cidade vive um processo acelerado de transformação. Dois museus foram inaugurados nos últimos meses: o MAR/Museu de Arte do Rio e a Casa Daros Latinoamericana. E há pelo menos dois em construção: o Museu do Amanhã e o Museu da Imagem e do Som. Lugares históricos e carregados de simbolismo foram ou estão sendo drasticamente transformados, como o estádio do Maracanã e seus arredores. Vários concursos públicos tem sido realizados, como o do Parque Olímpico, o Porto Olímpico e o Morar Carioca (os dois primeiros destinados a instalações olímpicas, e o último, à meta ambiciosa de urbanizar 260 favelas até 2020). Diversas obras grandiosas de infra-estrutura tem sido executadas, como os teleféricos do Complexo do Alemão (Penha) e do Morro da Providência (Centro), e o Elevador do Cantagalo, em Ipanema. O metrô está sendo ampliado e 4 linhas de corredores expressos para ônibus estão sendo construídas. Um pacote de incentivos fiscais para o setor hoteleiro foi aprovado pela prefeitura.   E na área portuária, emblema máximo das operações em curso, a demolição do elevado da Perimetral segue junto com a abertura de quatro quilômetros de túneis, incluindo trechos escavados sob o centro histórico do Rio de Janeiro e alguns de seus sítios de maior valor histórico, paisagístico e simbólico para a cidade, como o Morro de São Bento e o Morro da Saúde.
Não resta dúvida de que a arquitetura tem um papel central nesse processo. E não por acaso, arquitetos consagrados de várias gerações e latitudes tem batido à porta da prefeitura, das escolas de arquitetura e/ou dos escritórios cariocas. Ao mesmo tempo em que prestigiosas escolas estrangeiras intensificam bases e contatos com arquitetos, empreendedores e instituições locais, enquanto promovem animados workshops e projetos que frequentemente envolvem temas relacionados ao Rio.
Tudo isso é bastante novo - não tem mais que 3 ou 4 anos – e era impensável até pouco tempo atrás, sobretudo para quem (como eu) estudou arquitetura na década de 1980, a assim chamada “década perdida”, caracterizada por uma dura recessão econômica e por uma brutal desaceleração de todas as atividades ligadas à construção civil no Brasil. Na verdade, o boom atual da arquitetura no Rio de Janeiro não pode ser dissociado do fato de que as circunstâncias históricas do país como um todo ─ seu lugar na geografia da cultura e da economia contemporâneas ─ são hoje fundamentalmente diferentes do que eram há dez ou vinte anos atrás. E isso em função de um quadro complexo ligado a vários fatores, como a crescente estabilidade política e econômica, o aumento da segurança para investimentos e da disponibilidade de recursos financeiros públicos e privados, a descoberta do pré-sal, e claro, também a crise econômica mundial – que, confirmando as expectativas do então presidente Lula, parece ter chegado aqui de fato como uma “marola” (se comparada à tsunami que atingiu países como Itália, Espanha e Estados Unidos, por exemplo).
Essa situação não decorre, em todo caso, de pressões exercidas de dentro da disciplina. Ao contrário, no campo da prática da arquitetura no Rio de Janeiro, as últimas décadas foram marcadas, de uma maneira geral, pela ausência de uma produção mais significativa, sobretudo quando comparada à intensa produção da arquitetura paulista nos anos 90 – culminante com o reconhecimento internacional de Paulo Mendes da Rocha, premiado com o Pritzker em 2006.
Olhando retrospectivamente a produção projetual carioca, pode-se dizer que a maior contribuição do Rio nesse período foi dada em termos de duas experiências concomitantes, mais ligadas ao campo do urbanismo: o laboratório de desenho urbano que foi o projeto Rio-Cidade, e o processo de urbanização de favelas iniciado com o programa Favela-Bairro, implantados respectivamente em 1993 e 1994.  Ao mesmo tempo, o campo acadêmico abriu-se para a reflexão historiográfica e para os estudos culturais, com trabalhos que ofereceram uma contribuição significativa para a discussão crescente sobre a experiência moderna no Brasil, em sua desafiadora singularidade e complexidade.
Em todo caso, assim como a arquitetura brasileira, de uma maneira geral, a arquitetura carioca enfrentou de uma maneira muito singular a radicalização do campo nos anos 1960, tendendo a distanciar-se do debate teórico internacional num quase autismo que durou décadas. Em parte isso pode ser explicado pelo acirramento das tensões políticas no país, após 1964, e pelas restrições impostas ao exercício do pensamento crítico, em todas as esferas, sob o regime militar. Mas em parte, também, pela autoconfiança talvez excessiva gerada pelo sucesso sem precedentes da arquitetura brasileira – e carioca, em particular - nas décadas de 1940 e 50, que culminou com Brasília, espécie de “canto do cisne” da arquitetura moderna no Brasil. 
Mas o fato é que a crise do idealismo moderno, que levou a uma crítica profunda da disciplina da arquitetura e do urbanismo na segunda metade do século XX, também chegou aqui como uma “marola”, se tanto. O problema da linguagem, por exemplo, que levou ao questionamento profundo da representação por parte de arquitetos como Peter Eisenman, permaneceu praticamente intocado aqui, onde no máximo encontramos ecos – nem sempre muito elaborados - de Rossi, Venturi e Lynch.
Sim, talvez o legado dos grandes eventos para os quais a cidade se prepara possa não ser um projeto ou uma edificação, propriamente, mas uma mudança de pensamento e de postura no meio da arquitetura local. Mas a questão mais premente hoje é como a arquitetura carioca vai responder simultaneamente à urgência exigida pelo calendário dos programas políticos, dos investimentos e dos megaeventos internacionais, e às questões colocadas à prática e à disciplinaridade nos últimos tempos, dentro de um debate do qual na verdade pouco acompanhou e menos ainda participou. 
A pressa que domina o atual processo de transformação da cidade pode não ser de todo nova, já que pelo menos duas vezes o Rio se viu diante de urgência semelhantes: no início do século XIX, com a transferência da Corte portuguesa, e no início do século XX, com as reformas do prefeito e engenheiro Pereira Passos. Mas se o boom atual da arquitetura carioca for mesmo apenas o resultado de fenômenos extra-arquitetônicos, aí sim teremos razões para nos preocupar."