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A Cidade como Playground 2 / Corri 5 km no parque. Depois segui caminhando à beira da Baía até a praia, sentei na areia e tomei uma água de côco. Subi o morro por uma trilha e desci de bondinho. Tomei um sorvete de figo e voltei pra casa. E tudo não passou de uma manhã de domingo na minha cidade.
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A Cidade como Playground / Sou fascinada pelo Parkour. Não canso de ver os filmes que me levam, aos vinte anos, a voar contra paredes, entre edifícios, sobre as cidades. Já vi o "Samparkour" centenas de vezes no Youtube. E esta semana, pesquisando sobre o Bjarke Ingels na Internet, descobri este filme dinamarquês, que acaba de ser lançado. Nele, uma das integrantes do Team Jiyo dá a mais bela definição que já ouvi desse misto de esporte e acrobacia, tão profundamente ligado à arquitetura da cidade:

"O que é fascinante é o modo de transformar a cidade. Porque você não pode mudá-la fisicamente, não pode mudar o poste ou a escada, mas pode mudar a maneira como os vê e usa, e assim torná-los seus."


P.S: Em memória do jovem morto numa madrugada desta semana enquanto varava, de skate, um túnel próximo da minha casa.

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Olimpíadas / Boa notícia: o IAB está organizando dois concursos internacionais de projetos, para a Vila da Mídia e a Vila dos Árbitros. Ambas ficarão em terrenos na área portuária. A primeira na Praia Formosa (bairro de Santo Cristo) e a segunda na Usina de Asfalto da prefeitura, na Av Franciso Bicalho. Os editais devem sair antes do final do ano.
E o Rio também vai ser objeto de estudos este semestre na Universidade de Harvard, no ateliê dirigido por Bjarke Ingels (BIG) e Paul Nakazawa: http://www.archdaily.com/69731/ingles-nakazawa-on-rio/
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Amanhã / Aí está o vídeo de apresentação do projeto de Santiago Calatrava para o Pier Mauá. Também no Youtube, parte da sua palestra no Palácio Gustavo Capanema.


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Lucio Costa / Acaba de sair, pela editora Azougue: são vinte entrevistas, entre 1924 e 1997, que tive o prazer de organizar.
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Fragelli e os "monstrumentos" cariocas / Reproduzo aqui minha resenha do livro "Quarenta anos de prancheta", de Marcello Fragelli (Editora Romano Guerra, 448 pgs, R$90), conforme publicada hoje no caderno "Prosa & Verso" do jornal O Globo:

"Arquitetura do subterrâneo
Marcello Fragelli, crítico dos 'monstrumentos' do Rio, relembra sua trajetória

O livro "Quarenta anos de prancheta", lançamento da editora Romano Guerra, chega em boa hora. Não só porque traz para o primeiro plano a obra do arquiteto carioca Marcello Accioly Fragelli, mas também porque o faz num momento especialmente delicado para a arquitetura no Rio de Janeiro.

Nascido em 1928, Marcello Fragelli é um dos grandes arquitetos da geração de Paulo Mendes da Rocha, Sergio Rodrigues e Joaquim Guedes. No Rio, além de várias casas e edifícios residenciais, projetou obras de grande qualidade e escalas tão distintas quanto o Posto de Puericultura do Alto da Boa Vista (Menção Honrosa na VI Bienal de São Paulo, em 1961) e o complexo industrial da Piraquê, em Madureira. No entanto, fora de um círculo mais restrito, seu trabalho permanece pouco conhecido na cidade onde nasceu e iniciou sua vida profissional. E isso porque o “cenário desanimador” provocado pelo esvaziamento do Rio após a inauguração de Brasília acabou levando à sua transferência definitiva para São Paulo, em 1961.

Curta e combativa passagem pelo "Correio da Manhã"

Sua narrativa autobiográfica coloca em foco, no entanto, vários aspectos que seguem interessando à arquitetura carioca. Com sua escrita despretensiosa, Fragelli nos guia, por exemplo, pelo ambiente profissional da época - do cotidiano no escritório dos irmãos Roberto às disputas internas no IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil). Também reconstitui o cotidiano da Faculdade Nacional de Arquitetura, onde, pouco antes do concurso de Brasília, professores catedráticos ainda insistiam em barrar a arquitetura moderna e exigiam dos alunos que resolvessem programas novos e altamente complexos com base em estilos históricos do passado, como uma “estação de passageiros de aeroporto em estilo gótico manuelino”.

Um dos pontos altos do livro está, todavia, no relato de sua curta, porém combativa experiência como colunista do jornal Correio da Manhã. O primeiro artigo, publicado em setembro de 1960, atacava “o descaso das microautoridades municipais pela aparência do Rio, reflexo da ignorância geral sobre arquitetura e sua importância na preservação da estética de uma cidade que a natureza fizera só cheia de belezas”. Fragelli deplorava os “monstrumentos” que vinham se acumulando pela cidade, e lamentava que “numa cidade de arquitetos mundialmente famosos”, a “subarquitetura” estivesse sendo disseminada “a toque de caixa” pela Prefeitura. Dias depois, o arquiteto alertava para o ambiente viciado do ensino de arquitetura local, valendo-se de um comentário do arquiteto austríaco Richard Neutra, que se referira à escola carioca como “comida pelas traças”. E na semana seguinte, denunciava a ameaça de mutilação, pela Secretaria de Saúde, de um dos marcos da arquitetura moderna brasileira: o conjunto residencial do Pedregulho, projetado por Affonso Eduardo Reidy. Fazendo da crítica um exercício rotineiro e eminentemente público, Fragelli já se destacava, assim, por sua resistência à desqualificação progressiva da arquitetura no Brasil.

Chegando a São Paulo, Fragelli se verá surpreendido pelo encontro com Paulo Mendes da Rocha, que embora já figurasse entre os arquitetos mais respeitados da cena paulistana, continuava sendo praticamente ignorado no Rio. Mas a surpresa maior virá com a própria dinâmica do mercado paulistano, que logo dará ao arquiteto carioca a oportunidade de projetar edifícios residenciais ainda hoje destacados por sua rara conjugação de economia e qualidade.

Será, todavia, numa jovem empresa de engenharia (a Promon), que Marcello Fragelli desenvolverá projetos de maior impacto urbano, como a Nova Rodoviária (projeto original) e várias estações do Metrô (Liberdade, Jabaquara, Sé, São Bento, Armênia, Conceição, Paraíso e outras). Era a primeira rede de metrô no Brasil. E à diferença do sistema carioca, o paulistano incluía estações elevadas e subterrâneas. Estas pressupunham uma arquitetura sem fachada e sem forma; ou seja, praticamente o avesso da arquitetura. Um desafio que Fragelli insistiu em tomar para si, negando o caráter opressivo das estações mais antigas da Europa, Nova York e Buenos Aires (com seus espaços abafados, tetos baixos e iluminação artificial) em nome da qualificação espacial e estética dos subterrâneos da cidade. Instalava-se, assim, uma nova consciência sobre o espaço urbano – ou melhor, metropolitano, de São Paulo, com um padrão exemplar de obras em rede que acabaria se tornando quase um símbolo da cidade.

Domínio de espaços da multidão e casas de fazenda

A clareza decidida dos acessos e percursos, o desejo de expressar plasticamente o enorme esforço a que lajes e paredes encontram-se submetidas no subsolo, a opção por materiais sem revestimento (com ênfase no concreto aparente) e a exploração da luz natural garantiram expressividade e unidade às estações, que ainda seriam complementadas pelo projeto de identidade visual solicitado aos arquitetos João Carlos Cauduro e Ludovico Martino.

A pergunta que Marcello Fragelli se faz: “subterrâneo tem arquitetura?”, encontra resposta, assim, neste livro de 448 páginas, que cobre uma lacuna básica ao recuperar uma obra que domina, com a mesma integridade, os espaços da multidão e as casas de fazenda. É verdade que, não obstante a integração acertada entre o depoimento do autor e o trabalho de pesquisa iniciado na Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo, o livro ainda deixa muito da arquitetura e da biografia de Fragelli a descoberto. Mas talvez isso seja injusto com uma publicação que, sobretudo para os cariocas, não poderia ser mais oportuna: face a uma obra tão forte e conseqüente como a de Marcello Fragelli, será difícil não olhar criticamente para a “subarquitetura” que vem vitimando as estações mais antigas do metrô carioca, ou deixar de espantar-se com seus acessos gradeados e suas paredes - originalmente revestidas de pastilha de vidro - agora emassadas e pintadas de branco.

Também será difícil encontrar argumento convincente para a ausência de um pensamento projetual capaz de conferir alguma unidade às novas estações, as quais nos últimos meses temos visto se multiplicar, do centro (Praça Onze) à zona sul (Ipanema), lembrando mais os “monstrumentos” deplorados por Fragelli que a noção de bem público que sua arquitetura contribuiu para constituir."

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Contemporaneu / Não sei nada sobre os editores. Mas gostei da proposta: uma revista brasileira de arquitetura contemporânea, em formato digital e acesso livre na Internet. A primeira edição, recém-lançada, tem ótima pauta e design, e além disso é fácil de ser folheada, e até lida na tela do computador. Que projeto recente no Rio poderia estar aqui? http://www.contemporaneu.com/

Posto 7 / jul 10

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"Cara de Antigamente" / O Globo de hoje traz "projeto de Eduardo Paes" para o Terreirão do Samba, terreno junto ao Sambódromo que costuma ser usado durante o carnaval para shows populares, e no resto do ano permanece praticamente sem uso. Diz o jornal que o "novo espaço vai funcionar o ano inteiro, como acontece com a Feira dos Nordestinos, em São Cristóvão". Só que com "bares e restaurantes com a cara de antigamente", a fim de "reconstituir a tradicional atmosfera do Rio boêmio".


Eu não acredito. O projeto não deve ser do prefeito, claro, nem buscar uma "cara de antigamente". Afinal, seu vizinho mais próximo é uma obra de Oscar Niemeyer, o que não é pouca coisa.


Mas aproveito o embalo para lançar uma campanha pela reparação do Pavilhão de São Cristóvão, que há muito espera por um projeto digno da sua grandeza. Sem cara de antigamente, por favor, que o Rio não merece, e nem Sergio Bernardes nem Paulo Fragoso jamais nos perdoariam.