17
Posto 12 / Ao voltar ao Posto 12 ontem, encontrei toda uma nova configuração: é incrível como a organização espacial e social mudou completamente em uma semana. A ocupação é visivelmente menos permeável, mais densa e auto-protegida. Encontro novas barracas, novas pessoas e novos cartazes, onde as palavras que registrei e até ajudei a escrever, sábado passado, foram substituídas por outras, já não tão espontâneas (até a cor parece que se foi, junto com as canetas e cartolinas agora substituídas por faixas e bandeiras feitas para durar mais). Do outro lado da rua, a praia cheia ignora solenemente a ocupação: o mesmo mate, o mesmo vôlei, os mesmos biquínis. Os carros que passam também já não buzinam na mesma proporção. E sequer a polícia parece dar maior atenção aos manifestantes, que foram deslocados para uma faixa bem delimitada e protegida por cones e grades, que já não bloqueia o tráfego nem incomoda muito a ninguém. Ainda que o número de barracas e colchonetes tenha aumentado, e seja maior a sombra que dá abrigo aos manifestantes, a ocupação tornou-se melancólica e perdeu seu viço como expressão - ainda que discutível - de ação política. Depois da farsa a que assistimos no Palácio Guanabara, denunciada nas matérias de jornal pregadas a alguns postes vizinhos, desconfio que o risco que a ocupação corre agora é de se tornar mais uma atração na orla da zona sul.

Nenhum comentário:

Postar um comentário