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Central do Brasil 2030 / Assim poderia (ou poderá?) ficar a região da Central do Brasil, na av Presidente Vargas, segundo o projeto dos escritórios Campo e Fábrica, que estará a partir de terça no Centro Cultural dos Correios, dentro da exposição "As Cidades somos nós" (realizada com a consultoria dos arquitetos Hélia Nacif Xavier e Roberto Adler).


O projeto redesenha a malha urbana do entorno da Estação Central do Brasil, valorizando as esquinas das quadras, e tem como elemento forte uma grande marquise que dá continuidade ao saguão da estação, expandindo-o para a rua. O objetivo é fazer da Central uma estação intermodal adequada às necessidades contemporâneas, com a promoção do uso da bicicleta e do transporte público de alto desempenho. Prevê-se que as 16 pistas atuais da av Presidente Vargas serão substituídas por linhas de BRT e ciclovias, as pistas para carro reduzidas e o terminal de ônibus existente removido. Um parque linear e um elevador também estão previstos, conectando a estação com o Morro da Providência, ao fundo.
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A cidade sou eu / Em 2030, 60% da população mundial estará morando em cidades. Com base nessa projeção, o ITDP - Institute for Transportation and Development Policy (Instituto de Políticas de Transportes e Desenvolvimento), convocou arquitetos de várias partes do mundo para imaginar um futuro sustentável para as suas cidades.

O resultado estará a partir de terça próxima, dia 02, na exposição "As cidades somos nós - desenhando a mobilidade do futuro", no Centro Cultural dos Correios (Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro).

O Rio é uma das 10 cidades estudadas. O projeto desenvolvido pelos escritórios CAMPO e Fábrica destina-se à região da Central do Brasil. As demais cidades, e os escritórios de arquitetura responsáveis pelos projetos são: Nova York - Terreform e Michael Sorkin Studio; Cidade do México - Arquitectura 911sc, Buenos Aires - PALO Arquitectura Urbana; Ahmedabad, Índia - HCP Design and Project Management; Jacarta, Indonésia - Budi Pradono Architects; Joanesburgo, África do Sul - Osmond Lange Architects e Ikemeleng Architects; Guangzhou, China - Urbanus Architecture and Design; Dar Es Salaam, Tanzânia - Adjaye Associates; Budapeste, Hungria - Varos-Teampannon and Kozlekedes.

Em paralelo à mostra, um seminário internacional que se estenderá até o início de março promete trazer ao Rio os arquitetos Richard Rogers e Michael Sorkin - ambos imperdíveis -, entre outros:

10/02 "Renovação Urbana". Palestrante: Oren Tatcher - arquiteto residente em Hong Kong, tem vários projetos de renovação urbana, com ênfase em estações de transporte multimodais.

24/02 "Nossas Cidades - Visões para 2030". Palestrantes: Michael Sorkin - arquiteto baseado em Nova York, ex-crítico de arquitetura do "Village Voice" e autor do projeto para a Brooklyn Bridge, apresentado na exposição; David Sim - arquiteto do escritório Jan Gehl Architects e Gabriel Duarte - professor da PUC-Rio e representante dos escritórios CAMPO e Fábrica, responsáveis pelo projeto para a Central do Brasil apresentado na exposição.

03/03
"Investimento Sustentável: transporte urbano como uma questão essencial". Palestrante: Tim Tompkins - diretor da Times Square Alliance, responsável pela criação de espaços públicos na Broadway, junto com a Prefeitura de NY.

11/03 "A forma das cidades e a linguagem da arquitetura". Palestrante: Richard Rogers - arquiteto premiado com o Pritzker de 2007, autor de projetos como o Centro Pompidou em Paris (com Renzo Piano), o aeroporto de Barajas em Madri, o Plano Diretor de Shangai, o Lloyd’s Bank, o Millenium Dome e o condomínio One Hyde Park em Londres. É autor, entre outras publicações, de "Cidades para um pequeno planeta" (Gustavo Gili, 2005), livro que resume alguns dos princípios básicos do assim chamado "ecourbanismo".
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Silêncio e Tensão / Passadas duas semanas desde as chuvas na Serra, a situação de muitas obras preciosas que ficam naquela região continua sendo objeto de muita especulação. A começar pelo Park Hotel, de Lucio Costa: foi totalmente destruído? Qual é seu real estado atual? Poderá ser restaurado? E o Centro Histórico de Petrópolis, está inteiramente salvo?

É verdade que o acesso a muitas obras continua difícil, e que nada pode ser mais urgente que a assistência ao drama humano vivido ali. Mas seria um grande alívio se os órgãos públicos de preservação (a nível federal, estadual e municipal) viessem a público fazer um esclarecimento sobre a situação dessas e outras obras que têm a missão de preservar. Até para evitar mais tensão num momento de tanta dor.

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No IAB / As propostas vencedoras do concurso "Morar Carioca" - destinado a urbanização de favelas cariocas - poderão ser vistas a partir de amanhã, quarta, no Instituto de Arquitetos do Brasil. A abertura da exposição antecede cerimônia destinada a comemorar também os 90 anos da instituição, a recente criação do CAU/Conselho de Arquitetura e Urbanismo e o centenário do arquiteto Henrique Mindlin (autor de projetos como o edifício Av Central, no Rio e o Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza, e também do livro "Arquitetura Moderna no Brasil", lançado na década de 1950 e até hoje referência fundamental para qualquer interessado no assunto). Às 18:30, na sede do IAB (Rua do Pinheiro, 10, Flamengo).



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Boa notícia / Após anos de abandono, está sendo iniciada a recuperação do conjunto habitacional do Pedregulho, projetado por Affonso Eduardo Reidy na década de 1940 e localizado em Benfica. O projeto de recuperação é do arquiteto Alfredo Britto e a construtora é a Concrejato, vencedora de licitação realizada em dezembro passado pela CEHAB, responsável pelo conjunto. As obras emergenciais já aprovadas compreendem recuperação estrutural, esgoto sanitário e pluvial, abastecimento d´água e pavimentação do bloco A (o maior, que se destaca à distância por seu perfil curvilíneo). Esta etapa foi orçada em 10,5 milhões de Reais e deve durar 12 meses. O restante das obras poderá vir em breve, após avaliação da Secretaria de Habitação, em conjunto com o arquiteto e a Associação de Moradores local.

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Um pouco de esperança / Movo-me, como se de repente tivesse vivido um século, entre os muitos textos e relatos que circulam sobre a tragédia na Serra. Mas nada me toca tanto quanto este email que recebo de uma ex-aluna, que é de Friburgo:

"Oi Ana Luiza,

Obrigada pela lembrança.

Só na semana passada eu achei que estava perdendo meu pai 2 vezes! Em outra, achei que tinha perdido minha melhor amiga. Mas graças a Deus está tudo bem com todos da minha família e amigos mais próximos. Perdemos um carro, mas isso não chega nem perto do que nossos amigos e conhecidos perderam.

A cidade foi muito afetada. Muitas das áreas com desmoronamentos não eram regiões desmatadas ou ocupadas indevidamente. Eram zonas de mata nativa, sem qualquer intervenção!

Eu estou no Rio, funcionando como base operacional para minha família. Recolhi muitos donativos que já foram entregues a pessoas que perderam tudo, tudo mesmo.

A antiga Fábrica Ypu virou ponto estratégico para distribuição de donativos. Todos os caminhões deixam as cargas lá e veículos menores são carregados para fazerem a distribuição aos pontos de difícil acesso.

Apesar de áreas mais afastadas estarem recebendo socorro só agora, o centro já começa a se restabelecer, ou ao menos tenta. Muitas confecções acabaram, as fábricas estão fechadas. Friburgo cresceu com a criação de 3 grandes fábricas do ramo têxtil. A Ypu já estava fechada, agora a Rendas Arp e a Filó (atual Triumph) já anunciaram seu fechamento. Já temos indício de uma “tragédia social”. O comércio voltou a abrir ontem, porém por uma questão muito mais psicológica do que econômica. Minha mãe tem uma perfumaria, mas quem vai comprar perfumes? Roupas de marca? A FIRJAN fez um levantamento que mostra que 80% do comércio foi atingido, direta ou indiretamente. O turismo ecológico também está acabado. A economia da cidade está sem rumo traçado.

Li no seu blog sobre os monumentos de Friburgo. A Igreja de Santo Antônio realmente foi destruída. Os tratores estavam tirando hoje a terra da Praça do Suspiro e encontraram uma árvore e um carro dentro dela. Tinha lama até no teto. Só o santo se salvou. Não tenho notícias do Park Hotel, nem do Parque São Clemente. Geralmente o Parque São Clemente é atingido pela chuva, os lagos são destruídos, mas a perda não é muito grande. Eu moro em frente a eles e vou ver se consigo algum acesso assim que for para lá. A Igreja de Nossa Senhora das Graças está bem, entrou água da chuva mas não foi muito atingida (na verdade quem “destruiu” a Igreja foi um padre que a encheu de imagens adesivadas). Apenas o prédio da escola que fica por trás sofreu alguns danos. O prédio principal, e histórico, do colégio Anchieta está bem. O que caiu foi a parte nova, mais próxima à rua.

Nosso atual prefeito (o prefeito antigo faleceu e o vice assumiu em novembro) admitiu ao governador que não tem capacidade de tomar a frente em uma situação como essa. Passou então o comando das ações para o vice-governador, que está à frente de todas as ações na cidade. Muita ajuda tem chegado, de todos os cantos do mundo. Isso me traz um pouco de esperança.

Eu espero agora que as verbas liberadas realmente cheguem ao seu destino final, que a cidade possa aproveitar toda tecnologia que está disponível no momento para se reerguer de forma racional e quem sabe, ainda melhor.

Bjs

Viviane"
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Perdas em Friburgo / Não quero acreditar, mas segundo levantamento feito pelo jornal O Globo, o Park Hotel, de Lucio Costa, não se salvou. Nem o conjunto do Parque São Clemente, seu vizinho, com projeto paisagístico de Glaziou. A dolorosa lista de obras perdidas saiu hoje no site do jornal (http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/01/17/patrimonios-historicos-culturais-de-nova-friburgo-afetados-pela-chuva-923527606.asp) e diz respeito, por ora, só a Nova Friburgo:

Obras tombadas pelo Patrimônio Nacional (IPHAN):

"1. Praça Getúlio Vargas - Projeto do renomado paisagista e botânico francês Glaziou, executado pelo engenheiro Carlos Engert, em 1880 e financiado pelo Barão de Nova Friburgo: parcialmente destruído
2. Conjunto arquitetônico do Parque São Clemente - Constituído pelo Chalet do Barão de Nova Friburgo e parque botânico, projetado pelo paisagista Glaziou, em 1861: ambos destruídos
3. Conjunto arquitetônico, em estilo moderno, do Parque Hotel, projeto de Lucio Costa, em 1950, conhecido como "jóia da arquitetura moderna": destruído pelas chuvas

Tombados pelo INEPAC - Patrimônio do Estado:
1. Igreja Matriz de São João Batista - Construção iniciada em 1851 com recursos do Barão de Nova Friburgo: parcialmente afetado
2. Prédio do IENF - Colégio Estadual Ribeiro de Almeida, erguido a partir de 1819 e recentemente foi restaurado: preservado pela chuva
3. Residência do Barão de Nova Friburgo, erguido em 1842, primeira construção em pedra e cal, marco da arquitetura de Nova Friburgo -em 1920, sede da Câmara Municipal, atual Oficina Escola de Arte: seriamente afetado
4. Capela de Santo Antônio, erguida em 1885 pelo músico Samuel Antônio dos Santos. Seu Campanário é projetado e construído pelo arquiteto Lucio Costa, em 1948: destruído pelas chuvas
5. Cúria Metropolitana de Nova Friburgo, erguido em 1870, para residência da família Campbell, atual residência do Bispo da Diocese de Nova Friburgo: parcialmente afetado pelas chuvas
6. Colégio Nossa Senhora das Dores, erguido em 1841, para ser sede do Colégio Freeze que funcionou no período de 1841 a 1850 - importante educandário da então Província do Rio de Janeiro: parcialmente afetado pelas chuvas
7. Conjunto da Estação Ferroviária de Rio Grandina - Composta de: Casa do Administrador, Plataforma de embarque, depósitos e ponte treliçada, construída em 1875: destruído pelas chuvas
8. Conjunto da Estação Ferroviária de Nova Friburgo, hoje denominado Palácio Barão de Nova Friburgo, sede da Prefeitura Municipal, construído a partir de 1873, para ser sede do ramal ferroviário da Estrada de Ferro Cantagalo: parcialmente afetado pelas chuvas
9. Colégio Anchieta, pertencente a ordem jesuíta, erguido em 1901, para sediar o primeiro colégio católico do interior da Província do Rio de Janeiro: seriamente afetado
10. Complexo arquitetônico do Sanatório Naval, erguido a partir de 1890 para ser residência de caça do Barão de Nova Friburgo: preservado
11. Residência do Barão de Sumidouro, erguido em 1890, depois sede da antiga LBA e hoje sede da Secretaria de Assistência Social: afetado pelas chuvas
12. Antiga residência do Barão de Duas Barras, erguido em 1890, atual sede da Faculdade de Odontologia, da Universidade Federal Fluminense: seriamente afetado pelas chuvas

Tombados pelo INEPAC - Patrimônio Municipal:
1. Residência do Deputado Federal Galdino do Valle Filho, autor do projeto que instituiu o Dia da Criança, erguida em 1917: afetado pelas chuvas

Patrimônio Imaterial de Nova Friburgo (Não Tombados)* :
1. Memorial da Colonização Suíça, situado no Distrito de Conquista, no complexo da Queijaria Escola e Casa Suíça: afetado pelas chuvas
2. Arquivo Pró-Memória de Nova Friburgo, patrimônio da Fundação D. João VI de Nova Friburgo, instituída nos termos de Lei Municipal, sob a forma e personalidade jurídica de Fundação Pública de Direito Público, é uma entidade sem fins lucrativos, com objetivo de preservar a História de Nova Friburgo, suas memórias. O arquivo guarda, aproximadamente, 1,5 milhão de itens, entre documentos impressos, manuscritos, datados a partir de 1817, consta ainda de um imenso acervo iconográfico da cidade, datado a partir de 1825: Não afetado diretamente pela tragédia, no entanto incapaz de permanecer nas instalações atuais, tal as exigências necessárias para preservá-lo

*Não tombados, existem inúmeros outros patrimônios, assim como monumentos de valor histórico agregado, seriamente danificados em virtude da tragédia que se abateu sobre a cidade. Exemplos: Praça do Suspiro e a sua fonte de água, erguidos em 1840.
"

Chega também a primeira notícia da casa de Reidy: parece que foi preservada, embora esteja ilhada.

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Boas notícias vão chegando, em meio a tanta tristeza: não foram afetadas as obras de Alcides Rocha Miranda nem a Casa Cavanellas. E tudo indica que as regiões do Park Hotel e da Casa Saaavedra também não foram as mais atingidas. Minha maior preocupação agora é a casa de Reidy, que fica justamente no vale do Cuiabá, uma das áreas mais devastadas. Das outras obras, também ainda nada sei.

Respiro fundo e percorro alguns dos pontos de recolhimento de donativos que se multiplicam pelas ruas, numa rede de solidariedade impressionante e provavelmente inédita por aqui, tanto em escala quanto em organização. Quando dou por mim, estou diante do Cristo que, de braços abertos, abençoa a cidade.

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A lista vai aumentando, junto com a aflição: em Friburgo: a igreja Nossa Senhora das Graças, de Alcides Rocha Miranda; em Petrópolis: a casa de Celso Rocha Miranda, também de Alcides Rocha Miranda - e claro, toda a av Koeller e o Palácio de Cristal; a casa de Hilbebrando Accioly, de Francisco Bologna (na Fazenda Inglesa), a casa de George Hime, de Henrique Mindlin (em Bom Clima), e várias casas na Fazenda Samambaia, de Sergio Bernardes, Henrique Mindlin e outros. Em Correas: a Res. Saavedra, de Lucio Costa; em Itaipava: a res. Cavanellas, de Oscar Niemeyer, com um dos mais belos jardins de Burle Marx. Além de vários outros jardins do nosso maior paisagista, como os das casas de Odette Monteiro (Fazenda Marambaia) e Alberto Kronsfoth (em Teresópolis). Como estarão estas e outras obras que constituem um patrimônio arquitetônico inestimável? Procuro e não encontro nenhuma informação a respeito.

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Em meio à tragédia que atinge a região serrana do Rio, como estará a casa de Affonso Eduardo Reidy e Carmen Portinho no Vale do Cuiabá? E o Park Hotel de Lucio Costa, em Friburgo? E as casas de Plácido da Rocha Miranda (de Alcides Rocha Miranda) e Lota Macedo Soares (de Sergio Bernardes) em Petrópolis? Quase peço desculpas, mas estremeço ao pensar que as chuvas, que já mataram mais de 500 pessoas, podem ter vitimado também essas e outras obras primas da arquitetura brasileira.

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Plágio !? / Uma marca projetada para o Rio que ninguém esquece? Aquela concebida por Aloísio Magalhães para o IV Centenário de fundação da cidade do Rio de Janeiro, em 1965. O símbolo - uma formalização geométrica do número 4 - varou a cidade em jornais, embalagens, biquínis, muros. E ganhou a capa da edição alemã do livro de Max Bense, "Inteligência Brasileira". Mas como lembra João Leite, logo depois do resultado do concurso que selecionou o projeto, Aloísio Magalhães também foi acusado de plágio, por ter supostamente "copiado" a marca de uma ensacadora de batatas na Alemanha. (ao lado, o símbolo inscrito numa pedra em Paquetá. Foto feita em 2009 por Raul Lisboa: http://www.flickr.com/photos/65978346@N00/3235553856/).


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Design !? / A marca das Olimpíadas gerou uma inacreditável polêmica no meio do design. A discussão, desencadeada nos últimos dias na Internet, colocou Frank Barral e Cláudio Portugal de um lado, sustentando a acusação de plágio, e outros, como João de Souza Leite, Gabriel Patrocínio e Agnaldo Farias, do lado oposto.

Em meio a tantos posts e emails (alguns reunidos aqui: http://www.designsimples.com.br/rio-2016-plagio-por-favor/), lembrei da discussão que tive recentemente, num seminário em Brasília, com o arquiteto Marcelo Suzuki, de São Paulo. Suzuki é excelente arquiteto. Além de ter sido colaborador e parceiro de Lina Bo Bardi, tem uma obra própria de grande interesse (veja-se o seu projeto premiado para o Fórum de Cuiabá). Por isso mesmo, fiquei perplexa quando ele acusou Max Bill de plágio, por ter tomado a fita de Möbius como base para conceber a sua "Unidade Tripartida" (ao lado), premiada na I Bienal de São Paulo.

Ora, a fita de Möbius vem sendo amplamente explorada, desde o século XIX, não só na matemática, mas também na arte, na arquitetura e no design. O próprio Max Bill explorou e referiu-se inúmeras vezes a este objeto topológico para defender sua concepção de projeto, baseada numa estreita relação com o pensamento matemático. No mais, a lista dos "plagiadores" seria tão infinita quanto a própria fita: Lygia Clark, M.C. Escher, Peter Eisenman, e até Lacan. Mais a Tátil, claro.



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Cidade "Cocriativa" /
Não posso perder o jornal Em Pauta de hoje (Globonews, 20:30), que vai receber o designer Fred Gelli, sócio da Tátil Design, agência criadora da marca dos Jogos Olímpicos no Rio. A marca - três figuras humanas ligadas por mãos e pés, numa espécie de ciranda que evoca as curvas do Pão de Açúcar - foi escolhida a partir de concorrência da qual participaram 139 agências de design e publicidade do Brasil todo.

A marca foi apresentada publicamente na festa de Reveillon em Copacabana, e salvo engano, ainda não foi objeto de uma análise mais séria, como mereceu o símbolo da Copa de 2014 (ver a crítica do designer João de Souza Leite: http://adg.org.br/blog/blog/copa-do-mundo-2014-oportunidade-desperdicada/).

Por ora, houve, no máximo, quem lembrasse "A Dança", de Matisse, e até uma matéria na Bandeirantes insinuando plágio, por conta da semelhança com a marca de uma ONG americana. Não vai tardar para aparecer uma referência à "Unidade Tripartida" de Max Bill, penso comigo, já meio aflita.

Então vou procurar o site da Tátil (http://www.tatil.com.br), e fico sabendo que a empresa é "uma consultoria de estratégia, construção e gestão de marcas que usa o design e o branding para criar conexões sustentáveis entre pessoas e marcas".

Mas deixa pra lá, vamos ao texto sobre a marca. Assim é descrito o seu processo criativo:
"INVESTIGAÇÃO, BRAINSTORMS, COCRIAÇÃO.
Foi esse pensamento que nos guiou ao longo de todo o processo criativo.
Reunimos uma equipe multidisciplinar no Rio e em São Paulo.
Investigamos o universo da marca e suas edições anteriores, outras competições e eventos internacionais.
Fomos entender as estruturas latentes por trás de Paixão, Transformação e Carioca.
Criamos planetas Rio 2016 e polinizamos cada um deles com muitas referências, conceitos, tendências, artigos.
Fizemos brainstormings para descobrir sua essência, seu propósito e como criar expressões e experiências relevantes.
Mais de 100 pessoas participaram do processo, entre estrategistas, designers e redatores.
As melhores referências eram trocadas e trabalhadas de forma coletiva.
A marca final foi a mais cocriativa."

E agora, o que dizer?
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Conselho é Lei / No apagar das luzes de 2010, um informe extraordinário do IAB-RJ trouxe a notícia que muitos arquitetos esperavam há anos: a menos de dois dias de passar o cargo à Dilma, o presidente Lula finalmente sancionou a lei que cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (vetada por ele mesmo em 2007). Na prática, isso significa que os profissionais da arquitetura, até então representados pelo Conselho Federal (Confea) e pelos Conselhos Estaduais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Creas), ganham autonomia, tendo, pela primeira vez, uma regulamentação própria, desvinculada da regulamentação profissional dos engenheiros e agrônomos - à qual estão vinculados desde 1933, quando a profissão de arquiteto foi regulamentada no Brasil.

Para exercer a profissão, o arquiteto agora deverá ter registro profissional não mais no CREA mas no CAU de seu estado, registro este que permitirá sua atuação em todo o país. Também deverão registrar-se no CAU as empresas de arquitetura e urbanismo.

A notícia não ganhou destaque na grande imprensa, mas merecia: afinal, o primeiro projeto de lei com esse objetivo foi apresentado ainda em 1958 ao presidente Juscelino Kubitschek, e coincide agora com um cenário particularmente favorável à requalificação e revalorização da arquitetura no Brasil. Mais aqui:
http://www.cau.org.br/index2.php

Posto 1 / jan 11



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Ano Novo / Já não encontro mais aquele mar de crateras abertas na areia, nem a luz tremulante e mágica que emanavam. Mas as flores não faltam ao último dia do ano no Rio, para o gozo de Iemanjá. Estas, encontrei ao anoitecer, no Posto 12: são vestígios de desejos que alguém trouxe até a praia, como eu, e certamente também já se foram.