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Niemeyer / Voltei a Pampulha sábado passado, depois de anos, para uma discussão sobre arquitetura moderna e paisagem motivada pela bonita exposição de Eduardo Coimbra no MAP. E me vi impressionada, mais uma vez, com a delicadeza balsâmica daquela arquitetura, que soube construir com os jardins de Burle Marx uma paisagem quase mágica, de tão única.






No mesmo dia, a imprensa carioca publicava um dos últimos projetos divulgados por Niemeyer - que está em vias de completar 104 anos: um teatro no Parque do Flamengo (que tem projeto urbanístico de Affonso Eduardo Reidy e paisagismo de Burle Marx, e é tombado pelo IPHAN), a ser erguido junto à churrascaria Porcão (cuja estrutura original é projeto do arquiteto Marcos Konder Neto).


Confesso que não cheguei a tomar o projeto muito a sério, como deveria, nem segui as reações publicadas na imprensa ao longo da semana. Então não faço muito, senão reproduzir aqui o artigo do jornalista Elio Gaspari, publicado hoje n' O Globo e na Folha:





"A poeta americana Elisabeth Bishop disse que "o Rio não é uma cidade maravilhosa, é apenas um cenário maravilhoso para uma cidade". Quis o destino que sua namorada, Lota Macedo Soares, desse ao Rio uma de suas maravilhas: o aterro do Flamengo. Sem Lota, ele poderia ter se transformado num relicário de feiura semelhante às áreas contíguas às avenidas marginais de São Paulo. Seu maior mérito foi blindar a obra paisagística, tombando-a. De tempos em tempos mãos invisíveis do mercado tentam tungar as terras do parque. Construíram um mafuá na marina e, por pouco, não tomaram espaço para um centro de convenções. (Para essa área o empresário Eike Batista tem um projeto.) Agora apareceu a proposta de construção de uma casa de espetáculos com 3.000 lugares, anexa aos interesses da churrascaria Porcão existente no aterro. Dourando a pílula, o projeto vem assinado por Oscar Niemeyer. A grife Niemeyer torna agradáveis até as caldeiras do inferno, mas o projeto da Porcão é apenas uma tentativa de avanço sobre o patrimônio da cidade. O parque do aterro, como o Central Park de Nova York, não comporta o movimento rotineiro de 3.000 pessoas em direção a um só ponto. (A menos que elas venham pelo mar, deixando seus carros dentro d'água.) Dona Lota blindou o aterro da mesma forma que Niemeyer blindou suas construções de Brasília. Lá, não se pode trocar um sofá do Alvorada sem licença de seu escritório de arquitetura. Em 2009, o governador José Roberto Arruda atraiu a grife Niemeyer para a construção de uma "praça da Soberania" numa ponta da Esplanada dos Ministérios. Nela seria erguido um obelisco de 100 metros. Felizmente o projeto foi ao arquivo. Para que se construa uma casa de shows ao lado da churrascaria do aterro será necessária autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e seu superintendente já disse que isso é "impossível". A lei é clara, mas os interessados não entrariam no jogo se não contassem com alguns apoios estranhos à paisagem. No caso da Marina, por pouco não chegaram lá. Ficará tudo muito bem se o projeto for transferido para outro lugar. Afinal, toda cidade precisa de mais uma casa de espetáculos. O aterro é que não precisa." (Elio Gaspari, "Niemeyer, o aríete para arrombar o aterro").





As imagens acima - curiosamente destituídas de qualquer referência ao entorno e à paisagem carioca - foram extraídas de matéria publicada esta semana na Folha: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1010485-niemeyer-projeta-casa-de-shows-no-rio.shtml
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Chapa única / Hoje é dia de eleição no IAB-RJ. A chapa, novamente, é única e mantém basicamente a mesma constituição, com Sergio Magalhães como presidente. Os demais componentes são: Vice-Presidentes: Norma Taulois, Pedro da Luz, Ceça Guimaraens, Fabiana lzaga; Conselho Deliberativo: Alder Catunda Timbó, João Pedro Backheuser, lsabel Tostes, Carlos Feferman, Claudia Miranda, Luiz Flórido, José Canosa Miguez, Eduardo Cotrim, Rogério Cardeman, Rubens Biotto, Gabriel Duarte, Pedro Rivera, Pedro Évora, Marat Troina, Marta Alencar; Conselho Fiscal: Márcio Tomassini, Martha Allemand, Luciano Pereira Medeiros, Flávio Teixeira, Jean Pierre Janot, Manuel Fiaschi; Conselho Superior: Adir Ben Kauss, Carlos Fernando Andrade, Flávio Ferreira, Fernando Alencar, Jeronimo de Moraes Neto, Luiz Eduardo Índio da Costa, Luiz Fernando Janot, Otávio Leonídio, Pablo Benetti, Alfredo Britto, Eduardo Horta, Geronimo Leitão, Ceça Guimarães, Margareth Pereira, Norma Taulois, Pedro Cascon, Pedro da Luz e Ricardo Villar.
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MMBB /
"Rugosidades, persistências e estratégias de projeto" é o título da palestra que o arquiteto Fernando de Mello Franco fará na próxima sexta, dia 25, na PUC. Fernando é sócio do MMBB, escritório sediado em São Paulo, e um dos curadores da próxima edição da Bienal Internacional de Arquitetura de Rotterdam. Em sua apresentação, ele deverá expor a metodologia de leitura territorial e urbana desenvolvida em sua tese de doutorado, com foco no processo de desenvolvimento da região metropolitana de São Paulo e em alguns projetos do MMBB que enfrentam essa escala, como os Vazios de água e o Córrego do Antonico. A palestra será às 19 hs na sala 3 do IMA (R Marquês de S. Vicente, 225, Gávea), e é aberta a todos.
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Alumínio / Desde que a Noemi me falou dessa cidade, ela não me sai da cabeça. Alumínio. Pode uma cidade ser chamada assim? Como serão suas casas, ruas, pessoas? De que serão feitas suas portas e janelas? Que formas terão suas praças, que cheiro terá sua terra, que cores terão seus amores? E quem nasce lá, como se chama?

A probabilidade de que essa cidade seja fruto da imaginação da Noemi é grande. Mas ela me atingiu de tal maneira que desenvolvi olhos novos para tudo à minha volta: a janela do meu banheiro, o papel com que levo as berinjelas ao forno, a lata de cerveja que guardo para uma visita inesperada (ou será para mim mesma?), o carrinho que ganhei do meu sobrinho, o avião que me leva e traz. Será que essas coisas todas saem de Alumínio? E se saem, por que caminhos chegam até mim?

Se quiserem acreditar, Alumínio é um município do estado de São Paulo, com cerca de 15.000 habitantes, que guarda em sua memória uma estação de trem e uma fábrica de cimento, construídas no séc. XIX, e hoje vive agarrada a uma fábrica de alumínio (uma das maiores do país).

Dito isto, devo acrescentar que não muito longe existe uma outra cidade, igualmente próspera, chamada Votorantim - a qual, como o nome indica, vive agarrada a uma fábrica de cimento (uma das maiores do país, também, e por sinal pertencente ao mesmo grupo). Motivo suficiente para ir até lá já tenho, então. Mas partir do Rio rumo a Alumínio, ou Votorantim, já me parece inverossímil demais. Acho que preciso daquela cerveja.
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Urutu /
Bom, então veio o domingo, a segunda, o feriado, e hoje está tudo em paz por aqui. Mas ainda tenho helicópteros sobrevoando a minha cama, e um urutu bem grande subindo pela minha rua, minha escada, minha cabeça.
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Sobre ontem à noite / De Luiz Eduardo Soares, no Facebook: “Patética a cobertura da operação na Rocinha como se fosse guerra. É óbvio que não haverá confronto. O medo da classe média virou moeda política. Porque blindados da Marinha? Vai se prender um ou outro suspeito e exibir dinheiro, droga e pseudo-luxo de Ném&Cia. Mais uma batalha de Itararé. Essa ridícula espetacularização acende o medo da classe média, aumenta audiência, garante votos e desloca o foco da aliança policiais-crime. Ruas vazias; cinemas e restaurantes em São Conrado fechados. O medo está no ar. A noite pulsa em suspense. Mas não há guerra. Há mídia e política. Imagens da Rocinha encherão de júbilo pratos do almoço dominical. “Vitória do Bem” serão palavras de ordem, embora Ném fosse sócio de policiais. Moro em São Conrado. Circulei pelo bairro deserto. Clima é de suspense. Será que alguém acha mesmo que haverá confronto? Aparato bélico+mídia=medo&voto.”

Também moro perto da Rocinha. E tive muito medo esta noite.

Posto 11 / nov 11



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Reidy /
Esta quinta, dia 10, às 19:30, tem pré-estréia do filme "Reidy, a construção da utopia" - segundo documentário sobre o arquiteto, dirigido por Ana Maria Magalhães - no Instituto Moreira Salles. A sessão será seguida de debate com João Masao Kamita, a diretora do filme e eu.


Dois dias antes, o filme passa em São Paulo, numa sessão seguida de debate com o arquiteto Paulo Mendes da Rocha e a diretora do filme (dia 8, às 20h, no Espaço Unibanco de Cinema Augusta). E dia 7, às 21h30, tem também uma sessão simples no Unibanco Arteplex, no Rio.


Todas essas sessões são gratuitas. E a partir de 11 de novembro o filme entra em cartaz no Rio, São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Juiz de Fora e Fortaleza.

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Operação interligada / "A aplicação da operação interligada na cidade do Rio de Janeiro (1997-2000) como instrumento de ordenamento territorial" é o título da aguardada tese de doutorado da arquiteta Helia Nacif Xavier, que apresenta e discute este polêmico instrumento da política urbana - fundado na negociação entre poder público e interesse privado - com base na experiência da autora como Secretária municipal de Urbanismo na gestão do prefeito Luis Paulo Conde. A defesa será esta quinta, dia 3 de novembro, às 13:30 no PROURB, FAU-UFRJ (quinto andar do edifício da Faculdade de Arquitetura, na Cidade Universitária). Para todos que se interessam pela cidade, em sua dinâmica contemporânea - ou como diz Helia, em seu "aqui e agora".