13
Boa notícia: o Hospital Sarah-Rio, projetado por Lelé em Jacarepaguá, será inaugurado amanhã. As fotos foram feitas agora à tarde, e estão longe da grandeza da obra.







12
OS.2 / Também na Câmara Municipal discute-se nestes dias a introdução do modelo de gestão de determinados serviços públicos – das áreas de educação, saúde, cultura e esporte - por meio das Organizações Sociais, nos moldes da Lei Federal n.9637, de 15.mai.98. O projeto, encaminhado à Câmara pelo prefeito Eduardo Paes em fevereiro, foi discutido em audiência pública realizada ontem. Diante da polêmica que vai se armando, vale lembrar que deve-se à primeira instituição pública não-estatal brasileira - a Associação das Pioneiras Sociais, criada em 1991 – a gestão impecável da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, que se tornou sinônimo da arquitetura exemplar de João Filgueiras Lima. O Rio, aliás, conta com duas unidades da Rede Sarah: o Centro de Reabilitação infantil, aberto em 2002, e o Hospital Sarah-Rio, em vias de ser inaugurado. Ambos situam-se junto à Lagoa de Jacarepaguá, e reafirmam (como se isso ainda fosse preciso) a qualidade verdadeiramente extraordinária – porque fora do comum, rara, admirável – da arquitetura de Lelé.
11
OS / Desconfio, por princípio, de todos os movimentos do atual governo do Estado do Rio de Janeiro (haja vista os muros...). Mas também sou favorável a modelos de gestão que envolvam maior participação da sociedade civil, e por isso subscrevi o abaixo-assinado em favor do Projeto de Lei 1975/2009, apresentado à Assembléia Legislativa visando a criação das Organizações Sociais (OS) no Rio [ http://www.petitiononline.com/OSnoRJ/petition.html ]. As OS são instituições civis, sem fins lucrativos, que poderão administrar teatros, cinemas, museus, bibliotecas, escolas de arte e centros culturais da rede estadual. Há quem veja aí uma ameaça de privatização desses espaços, mas não posso deixar de considerar a penúria em que se encontram. Em vários outros Estados (São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Espírito Santo, Bahia, Pará, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Acre e Maranhão, além do Distrito Federal), leis semelhantes têm viabilizado a gestão de instituições e projetos de qualidade como o IMPA/ Instituto de Matemática Pura e Aplicada, o Porto Digital do Recife, a Estação das Docas de Belém do Pará, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Sala São Paulo, a Pinactoeca do Estado e até hospitais da rede estadual paulista. É uma lista considerável.
10
Cronograma do Plano Diretor / “Começou a rodada final do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro”, anuncia o site da vereadora Aspásia Camargo, presidente da Comissão Especial incumbida de emitir parecer sobre o assunto (ver postagens mais antigas). Ainda segundo o site, audiências públicas estão previstas para ocorrer entre junho e agosto, e o projeto deve ser votado em novembro deste ano. Bom, considerando que a Comissão foi instalada há quase dois meses, um cronograma já é alguma coisa. A partir de agora, vou ficar de olho nele. Mesmo porque, curiosamente, a notícia é de 17 último, véspera do mega-feriado de 9 dias que só acaba depois de amanhã no Rio.

9
Favor não tocar / Hoje é feriado no Rio (de novo), e decidi conferir algumas exposições inauguradas recentemente no centro da cidade. A primeira parada foi no MAM, que abriga uma mostra comemorativa dos 50 anos da 1ª Exposição Neoconcreta, além de uma exposição de Carla Guagliardi. Já desisti de interagir com os bichos de Lygia Clark há muito tempo, mas ao me deparar com "O lugar que eu respiro" de Carla, um trabalho em tubos de cobre e balões de borracha que sugere o espaço de um cômodo habitável, tomei uma abertura no chão como um convite ao ingresso. Qual o quê. Imediatamente fui instada a me afastar, diante das palavras de reprovação da funcionária do museu.

Saí dali um tanto aborrecida – não foi nesse mesmo museu que nasceu o Neoconcretismo?? - e toquei para o Centro Cultural da Justiça Federal, na av Rio Branco, que é um dos espaços expositivos mais esdrúxulos do Rio, mas desde ontem hospeda a exposição “A Rua é nossa...”, ligada ao Ano da França no Brasil. Já conhecia o Institut pour la Ville en Movement, mas estava curiosa para experimentar o jogo “Pedestre”, de Daniela Brasil, Marcus Handofsky e Bernhard König, do qual tinha ouvido falar. Mal me aproximei da mesa, porém, e ouvi atrás de mim a mesma voz enérgica: “Senhora, não!”

Lembrei então que, não faz muito tempo, encontrei no Kunstmuseum de Stuttgart um trabalho de Bruce Nauman muito semelhante a outro que havia visto antes no MAM daqui. O trabalho consiste basicamente numa cadeira e numa viga metálica, ambas penduradas no teto, a uma certa distância entre si. Como, aqui, havia sido impedida de tocar a obra, limitei-me a olhá-la à distância no museu alemão. Estava ali num canto da sala, contemplativa, quando um funcionário do museu, que devia ter seus 80 anos, passou por mim em absoluto silêncio, dirigiu-se ao centro da sala e golpeou com toda a força a cadeira contra a viga, causando um estrondo que chegou a estremecer as estruturas do edifício. Diante do meu atordoamento, ele não disse uma só palavra. Apenas olhou para mim, e seus olhos brilhavam de orgulho.
























8
Os corredores da FAU-UFRJ são longos, negros e escorregadios. Impedem a permanência, isolam corpos e acentuam o silêncio que ecoa por todo o edifício. Até hoje tenho medo de me perder nesse espaço com o qual não me comunico e que continua a me assombrar. Mas descobri, nos últimos dias, que uma das portas do terceiro andar abre para um oásis onde reina um misto único de sobriedade e cordialidade. Tudo aí permanece fiel à concepção projetual de Jorge Moreira e equipe, resistindo, sabe-se lá como, às demandas por atualização que quase sempre resultam na subdivisão grosseira dos ambientes e na substituição dos materiais originais por materiais supostamente mais “modernos”. Conservam-se as extensas divisórias baixas, de detalhamento e execução primorosa, que estruturam e articulam os interiores deste edifício público. Boa parte do mobiliário também é original, não há cortinas pesadas vedando o vazamento para o exterior e o piso de madeira segue brilhando depois de meio século. Os funcionários se movem com delicadeza, zelando por cada detalhe, da discreta exposição dos trabalhos de alunos ao cafezinho sempre fresco oferecido por D. Maria, cujo maior orgulho é preservar a integridade desse ambiente tão absolutamente antiornamental. Mal consigo entender como isso se mantém assim, em meio à degradação escandalosa que assola a Cidade Universitária. Mas respiro aqui o elevado ideal do projeto moderno, que se traduz, para mim, num bem-estar nunca antes experimentado nessa escola onde me formei.

7
Tarde na FAU / Era uma janela imensa. Olhei para fora. Não havia ninguém por perto. Só aquela chuva trêmula, à qual se juntou uma fina tristeza e alguma esperança.


6
Fundão / Passei meses sem ir a Ilha do Fundão, onde estudei nos anos 80, e agora estou encontrando várias novidades por ali. A maioria delas me parece grosseira e insensível ao ascetismo da Cidade Universitária de Jorge Moreira e aos projetos posteriores de qualidade, como o Cenpes de Sergio Bernardes. Mas até agora nada me surpreendeu mais que este edifício, que fica pouco além da Faculdade de Arquitetura. Disseram-me que é um laboratório de pesquisas ligado à Petrobrás, projetado por um arquiteto de São Paulo.
5
O mar baixou, e eu acabei perdendo a ressaca que lambeu a cidade no fim de semana. Perdi também um pouco do Rio, acho.

4
Alfabarra / Já não é mais verão, e tão cedo não terei outro pôr-do-sol assim. Mas guardei numa foto aquele anoitecer flamejante na Barra da Tijuca. À esquerda, a silhueta das torres do Alfabarra, conjunto residencial projetado por Luiz Paulo Conde no começo dos anos 80. Não é um projeto que mereça destaque. Mas sem ele, o que seria essa paisagem? Olho para ela e me vem à lembrança algo que ouvi há tempos de Antonio Carlos de Almeida Braga, investidor responsável pelo empreendimento. Segundo ele, Lucio Costa não só aprovou sem hesitação o projeto como revelou sentir mesmo a falta de algumas torres ali, para dar equilíbrio à paisagem. O encontro foi confirmado recentemente por Conde, que ainda acrescentou uma informação crucial: o projeto original era predominantemente horizontal. A verticalização teria sido sugerida pelo próprio autor do Plano Piloto da Barra, que considerou o primeiro projeto de Conde “pouco urbano”.
Fiquei pensando nisso depois de ler o artigo de Sergio Magalhães, publicado há poucas semanas no jornal "O Globo", que define a ocupação da Barra como “um erro urbanístico”.

(ver o artigo de Sergio Magalhães em http://cidadeinteira.blogspot.com/2009/02/favela-e-sombra-do-alvo.html)


3
No meio das discussões dos últimos dias, redescobri a beleza do texto de Regina Modesto Guimarães, publicado por Lucio Costa, seu cunhado, em "Registro de uma vivência" (Empresa das Artes, 1995):

"Quando é que passou pela nossa cabeça que muro é uma coisa que divide? Muro era uma coisa para a gente escalar."




2
O Muro do Rio / Demorou, mas a idéia aventada em 2004 pelo então vice-governador do Estado, Luiz Paulo Conde, finalmente começa a ser concretizada: o governo do Estado do Rio anunciou a construção de 11 km de muros de concreto, com 3 m da altura, cercando várias favelas cariocas. Todas na Zona Sul. O primeiro já está em construção na Favela Santa Marta, em Botafogo (ocupada pela Polícia Militar desde novembro passado). A Rocinha deve ser a próxima, e depois virão Parque da Cidade (também na Gávea), Morro dos Cabritos e Ladeira dos Tabajaras (Copacabana), Babilônia e Chapéu Mangueira (Leme), Cantagalo e Pavão-Pavãozinho (Ipanema), Vidigal (Leblon) e Benjamin Constant. Esta última ainda não conheço, mas soube que fica na Urca, aquele pacato bairro militar bem aos pés do Pão de Açúcar que por si só já justificaria a construção de qualquer muro. O objetivo declarado é conter o crescimento das favelas e a destruição da Mata Atlântica. José Saramago não gostou. Mas a verdade é que encontramos uma maneira imbatível de comemorar os 20 anos da queda do Muro de Berlim.

Posto 4 / abr 09

1
A Cidade da Música do Rio de Janeiro segue provocando polêmica, mas felizmente a discussão começa a mobilizar os arquitetos. Meu texto sobre o projeto, postado aqui e republicado no Vitruvius, tem suscitado vários comentários, que podem ser lidos no link abaixo. Para ingressar no debate, basta clicar sobre "envie sua opinião" no final da mesma página.
(ver o artigo e o Fórum de Debates em http://www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc249/mc249.asp)