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Guerra e Paz / A foto ao lado foi extraída do site da UPP - Unidades de Polícia Pacificadora (http://upprj.com/wp/?p=1230), programa de segurança pública que vem sendo implantado pelo Governo do Estado do Rio em favelas dominadas pelo tráfico, e cuja ação desencadeou a guerra a que estamos assistindo, mais uma vez atônitos.
A foto mostra o coral infantil do Morro do Borel, que se apresentou na sexta passada, dois dias antes do inícío dos violentos ataques que já fizeram dezenas de mortos. O texto - intitulado "O beco agora tem saída"- descreve o ambiente festivo da apresentação, realizada na sede do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar):
"Crianças corriam por todos os lados, brincavam e cantavam. Moradores e pais do Morro do Borel tomavam café, conversavam com professores e policiais, e esperavam por uma apresentação que iria emocionar quem estivesse presente.
Os responsáveis pela homenagem não têm mais de 8 anos. Foi em uma das aulas de música do Ciep Doutor Antoine Magarinos Torres Filho, da comunidade, que Augusto Henrique, de 6 anos, Carlos Eduardo e João Pedro Moreira, ambos com 7 anos, e Raquel Santiago, de 8, se inspiraram para compor uma música simples, mas sobre um contexto bem complexo.
Ao som da banda da PM, cerca de 20 crianças da comunidade, cantaram a música “Na Saída do Beco”, que fala sobre o dia-a-dia e o resgate de hábitos e características culturais na comunidade depois da entrada da UPP.
- A gente, hoje, pode fazer o que quiser, pode jogar bola na quadra, correr na rua. Antes não podia. Víamos até tiro passando na janela da escola – conta o ‘compositor’ Augusto.
O outro músico, Carlos Eduardo, já virou frequentador da UPP do Morro do Borel e amigo dos policiais.
- Quando vamos lá, escrevemos nosso nome e o da UPP na palma da mão, como se fosse autógrafo. Tentamos escrever os nomes dos policiais também, para não esquecer – conta Carlos, que já tem muito em comum com os soldados da unidade:
- Quando crescer quero ser militar do exército -, afirma.
Mãe de três alunos do Ciep, Tatiane Regina tem 30 anos, nasceu na comunidade, e conta que a mudança dos filhos, depois da UPP, foi para melhor.
- Posso dizer que foi da água para o vinho. A tranquilidade, a independência de poder ir e voltar sozinha da escola, tudo contribui para que a criança cresça com um temperamento mais tranquilo. "
Eu olho para a foto, no entanto, e vejo a enorme caveira ao fundo, as armas, e me pergunto como é que estas crianças podem ter um crescimento sadio.