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Olimpíadas / Alguns esclarecimentos, antes que o ano acabe: o edital do concurso internacional para o Parque Olímpico não saiu ainda. O que houve esta semana foi apenas a assinatura do convênio entre o IAB-RJ e a Prefeitura do Rio para realização do concurso. Daí porque até agora não há nenhuma informação sobre o concurso nem no site do IAB-RJ, nem no blog de seu presidente, arq. Sergio Magalhães, nem no site oficial das Olimpíadas no Rio (que aliás está fora do ar hoje).

Mas vamos ao que se sabe, por ora: o concurso será realizado em duas etapas, a partir de 15 de janeiro (a primeira selecionará 8 propostas que disputarão a segunda), e o resultado deve sair em junho próximo.

O Parque Olímpico ocupará o terreno do Autódromo de Jacarepaguá e ainda deve incluir a Arena da Barra e o Parque Aquático Maria Lenk, erguidos para os Jogos Pan-americanos de 2007. Aí deve ser concentrada a maioria das competições esportivas das Olimpíadas, como judô, vôlei, basquete, ciclismo, hóquei, tênis, natação, luta e handebol, além dos centros de imprensa e de transmissão dos jogos, totalizando 10 instalações permanentes e 9 temporárias, em uma área de 1,6 milhão de metros quadrados.

Na verdade, a equipe vencedora do concurso será responsável pelo desenvolvimento do projeto, com base no plano já existente e aprovado pelo COI - cuja autoria não tem sido divulgada e o próprio Sergio Magalhães há pouco tempo afirmou desconhecer, embora o projeto já esteja há algum tempo no site do escritório mineiro BCMF(http://www.bcmfarquitetos.com/dinamico/main.html).

Quanto à Vila Olímpica, cuja pedra fundamental também foi lançada esta semana, a previsão é de que sua construção tenha início em janeiro. Da autoria deste projeto, não tenho nenhuma pista (o máximo que sei é que a construtora é a Carvalho Hosken). Mas reproduzo o que tem sido divulgado: a Vila também ficará na Barra da Tijuca, em terreno de 1 milhão de metros quadrados, ao lado do Riocentro e próximo à Lagoa de Jacarepaguá. Terá 48 edifícios, de 12 andares cada, totalizando 2880 unidades (apartamentos de três e quatro quartos), além de equipamentos de apoio aos atletas.

E a logomarca das Olimpíadas? Finalmente será conhecida hoje, às 10 da noite, por meio de projeções nos palcos instalados na Praia de Copacabana para o Reveillon. Que não se repita a frustração da marca da Copa, eu ia dizer. Mas um tucano surgiu na minha janela, e me espera. Feliz 2011.



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Boas Festas / Na véspera do Natal, O Globo publicou mais um artigo sobre arquitetura, assinado pelo arq. Luiz Fernando Janot.

O alerta, que reproduzo aqui com autorização do autor, antecedeu por pouco a notícia que fecha o ano com chave de ouro: o lançamento, hoje, do Concurso Internacional de Arquitetura para o Plano Geral do Parque Olímpico de 2016.

Salvo engano, é o primeiro concurso público e internacional de arquitetura realizado no Brasil nos últimos tempos - o que não é pouca coisa.

O objetivo é a construção do Parque Olímpico, a ser erguido em terreno com mais de 1 milhão de metros quadrados, onde hoje se localiza o Autódromo, na Barra da Tijuca. O Parque conterá equipamentos esportivos permanentes e temporários destinados aos Jogos Olímpicos de 2016, como Velódromo, Centro de Mídia, Centro de Treinamento e Complexos Esportivos para tênis, natação e outras modalidades.

O concurso é organizado pelo IAB-RJ e segue o regulamento da UIA/ União Internacional de Arquitetos. A cerimônia será às 11 horas na Arena da Barra (Avenida Embaixador Abelardo Bueno, 3401, Barra da Tijuca).

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Ó / Devo esta ao Antonio, que foi capaz de aproximar Jorge Moreira e Nuno Ramos:

"Prédios vazios podem ser chamados de orgânicos, pois tudo funciona numa uniformidade em fluxo, dobrada sobre si mesma. Quando o silêncio, o pó, as sombras quase sólidas desses edifícios, cortadas pelas quinas das paredes, impõem sua gravidade, então não há fala nem memória, não há lugar para se estar dentro, e a arquitetura, o que ainda há de arquitetura, se fecha em elementos genéricos, inabitáveis, como o chão de taco, a laje acima, o muro à frente. Não digo isto apenas de prédios antigos onde o tempo, por ser o verdadeiro morador, expulsa o que é presente agora. Não, mesmo em prédios novos há um desejo de solidão e de não-vida, de permanecer uma construção sem uso nem destino. Moradores perturbam a placidez de um espaço que sem eles é mais perfeito, não funcionando para nada e guardando, como um recém-nascido, suas possibilidades para si. A casa onde o amor entrou gastou a pedra, puiu o cortinado, engordurou o azulejo. Saturou a esquerda e a direita, o alto e o baixo com o ir e vir de sua herança, de seu lajedo, de seu pombal e ainda um dia – um dia claro, entre mãos crispadas e beijos sólidos. A casa onde o amor entrou encheu cada lugar com um destino, um sucesso ou um fracasso, que passam por ela, insetos breves, com se fossem durar mais que seus tijolos, colunas e lajes.

Por isso há talvez em cada construção vazia um fundo solene, intocado, esperando desvelamento, alguma coisa para sempre adiada. Por isso não deveriam ser inauguradas nunca, ou ainda: seria preciso inaugurá-las precisamente para que ficassem vazias, com cerimônia de cortar fita, orquestra sinfônica, fotógrafos de colunas sociais, prefeito, secretário de cultura, artistas, mas todos do lado de fora, olhando de longe um espaço que não os receberia. Isso talvez desse à arquitetura alguma coisa de verdadeiramente sua, inútil e despropositada, uma ambientação de paredes para paredes, aparentemente tão desumana quanto cheia de significados para os homens. E quando criticassem o investimento, o despropósito do gasto público, responderíamos com o silêncio do próprio prédio, até que todos entendessem.

Claro que há em mausoléus e túmulos um pouco destas características. Afinal, diversas áreas não são acessíveis a ninguém, nem mesmo ao morto, aprisionado em seu caixão, e fecham-se sobre si mesmas, enchendo de pedras o corredor que leva à múmia. Pirâmides querem glorificar seu rei com tamanho desperdício, mas esta finalidade é justamente o que macula a limpidez arquitetônica. É o poder de uma determinada época e de um punhado de homens o que nos olha do alto daquelas escadas enormes onde milhões de pedras carregam uma última, a mais alta delas, e as supertições e maldições subseqüentes parecem vingar anacronicamente esta violência. Não, eu falo de uma inutilidade feita de cal e argamassa, de uma inconseqüência sólida, edificada por nós mesmos, bem à nossa frente, que nos livre do que parece útil, de nossas intenções e propósitos, que tanto miséria já causaram. Falo de um muro que nem à lamentação se ofereça; de um telhado que nada cubra; de uma extensa fundação sem nada construído a partir dela. Falo de uma fronteira que não divida, de um monumento que não celebre, feito de um aço mole, de um mármore frágil como penugem.

Seria possível, é claro, circundar esse edifício, ter a noção de seu contorno, de sua imponência. Nada de vidro para que ninguém o visse por dentro. Tentativas de invasão de ONGs de sem-teto, pichações cobrindo o muro externo, jornais reproduzindo a opinião (contrária) das associações de bairro, talvez um enorme placar eletrônico, HOJE FAZ (XXX) DIAS QUE FOI INAUGURADO, se espalhariam pela cidade, mas aos poucos, e o tempo das paredes á tão maior que o nosso, todos se acostumariam e o crescimento urbano o envolveria com novas ruas e construções, novos letreiros e outdoors, e, como um trambolho de cuja origem ninguém se lembra mais, viraria um marco físico para os moradores locais – Está vendo aquele prédio? Vire na segunda à esquerda depois dele. Agora imagine, depois de tanto tempo fechado, a pureza de cada metro de seu interior, como um pórtico do sono, um museu do esquecimento. [...]

O monumento esquecido ganharia do próprio esquecimento seu atestado de autenticidade, e neste paradoxo se encerraria. Mas, aos poucos, quem sabe, sua história seria reconstituída por historiadores, parte da mídia se interessaria pelo caso e filas de pessoas circundariam o velho edifício, tateando-o por fora. Então ruiria por si mesmo, intocado, a começar pelo velho telhado, e subindo nos prédios mais altos verdadeiras multidões se aglomerariam para olhar a montanha de entulho. Predadores roubariam pedaços de concreto, vendendo-os como talismãs. Ao final de algumas décadas, quase nada restaria do edifício original. Então, uma nova etapa seria inaugurada, com o vão de uma quadra quase inteira vazia, obedecendo ao formato original do prédio, sem muros nem grades, mas onde ninguém entraria. Pois seria de péssimo alvitre ultrapassar a linha imaginária entre a calçada e o espaço onde o prédio estivera. Crianças seriam educadas, por gerações a fio, a não pisar além dessa linha, deixando aquele terreno vazio no coração da cidade superpovoada. Restaurantes com varandas, apartamentos de cobertura, mirantes com lunetas seriam construídos voltados para o solo de terra e de cimento, onde algumas colunas permaneceriam de pé. E desfeito, derrubado pelo tempo, vazio até mesmo de seu piso e de suas paredes, o antigo edifício ofereceria à cidade o patrimônio de uma pergunta. "

Ó, Nuno Ramos (Iluminuras, 2008)

A foto acima é de José Barki, que também assina com Roberto Segre texto sobre a implosão do HU:
http://www.piniweb.com.br/construcao/arquitetura/roberto-segre-e-jose-barki-questionam-valor-arquitetonico-do-hospital-194771-1.asp

E tem o filme, feito pela Yasmin, cujos sons me alucinam: http://planocidade.wordpress.com/





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Hospital Universitário, arq. Jorge Machado Moreira, 1957-2010 / Requiem aeternam dona eis.




















































































































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Porto / Este será lançado quarta.



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Oscar Niemeyer faz 103 anos hoje. O que eu diria a ele, se o encontrasse? Talvez apenas isto: que estive dias atrás levitando num hotel longilíneo à beira de um lago, numa cidade lunar.
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HU / Não vai levar mais que 15 segundos. Amanhã começam a ser instalados os explosivos, e no domingo, às 7 da manhã, metade do gigantesco hospital projetado na década de 1950 por Jorge Moreira - talvez o mais obstinado e rigoroso dos arquitetos brasileiros - vai dar lugar a 125 mil toneladas de entulho. A implosão da Ala Sul do Hospital Universitário será feita pela Fábio Bruno Construções (sic), que já foi responsável por duas implosões emblemáticas no Rio: do edifício Palace II e do presídio da Frei Caneca. O vídeo abaixo, produzido pela empresa, foi apresentado recentemente para a comunidade da UFRJ. O que me espantou é que na simulação da implosão simplesmente desconsidera-se o edifício como um todo. Aliás, como se vê, a ala a ser demolida está longe de ser um "anexo", como alguns a tem tratado. E eu tremo só de pensar que seu "apagamento" vai deixar o Fundão agora coxo.
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Agenda da semana: quarta, lançamento do livro sobre Sergio Bernardes (Livraria Argumento, Leblon, 20 hs) e abertura da exposição sobre o Museu do Amanhã, de Santiago Calatrava (Centro de Arquitetura e Urbanismo, Rua São Clemente, Botafogo); quinta, Premiação Anual do IAB (Rua do Pinheiro, 10, Flamengo, 19 hs); domingo, implosão do Hospital Universitário, Ilha do Fundão, 7 da manhã (esta vai doer).



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Olhares sobre Lelé / Outra publicação recente - lançada quinta passada, em Brasília, é o livro "Olhares. Visões sobre a obra de João Filgueiras Lima". O livro foi organizado por Claudia Estrela Porto e publicado pela editora da UnB. Os textos - em sua maior parte publicados originalmente na revista francesa Le Visiteur - são assinados por vários autores: Hugo Segawa e Ana Gabriella Guimarães, Maria Elisa Costa, Claudia Porto, Yopanan Rebello e Maria Amélia Devitte, André Correa do Lago, Andrey Rosenthal Schlee e eu. O livro foi lançado na abertura do seminário sobre Lelé e Darcy Ribeiro, por ocasião da inauguração do Memorial Darcy Ribeiro, projetado por Lelé e inaugurado esta semana no campus da UnB, depois de apenas 5 meses de obra.

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MAM em Livro / Chegando de viagem, tenho a grata surpresa de encontrar em cima da mesa um envelope com o livro "Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Arquitetura e Construção", lançamento da editora Cobogó. O livro, organizado por Frederico Coelho, traz o memorial de Affonso Eduardo Reidy, um depoimento de Paulo Mendes da Rocha, um texto meu, um ensaio fotográfico de Vicente de Mello e muitas fotos da construção do museu. É uma edição caprichada, como o museu merece. O livro será lançado amanhã, sábado, dia 11, no foyer do MAM, às 16 horas, junto com o vernissage da mostra "Horizonte construído - Fotografia e arquitetura nas coleções do MAM", com curadoria de Luiz Camillo Osorio.


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Guerra e paz / Para quem não viu, está aí o meu artigo sobre o Mirante da Paz, publicado no jornal O Globo no último sábado. Por coincidência, o artigo acabou saindo às vésperas do anúncio das 40 equipes selecionadas pelo IAB no concurso Morar Carioca, destinado à urbanização de favelas na cidade. Dentre as equipes vencedoras há arquitetos do Rio, como Jorge Mario Jauregui, Flavio Ferrreira e Gabriel Duarte, e de São Paulo, como Ciro Pirondi e Hector Vigliecca. O desafio é grande, mas a oportunidade também. Ver o resultado do concurso aqui: http://concursomorarcarioca.com.br/website/

Posto 12 / dez 10



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Vazio / Nem todo vazio é vago. Nem todo vazio é ocioso. Nem todo vazio é para ser preenchido.
Esta lição - primária - de arquitetura vale uma visita ao Palácio Gustavo Capanema estes dias.
Enquanto o vazio do térreo foi grosseiramente obstruído por uma tenda da "Brasilidade" (!?), o do mezanino, com suas colunas soltas, foi trabalhado com enorme delicadeza por Eduardo Coimbra.
Ambos são estruturas provisórias.
A primeira entulha o vazio mais caro à arquitetura brasileira - sim, o pilotis do MEC - com uma barraca que poderia estar em qualquer lugar, menos ali.
Já a segunda é invisível mesmo para muitos arquitetos que circulam pelo edifício esta semana. Eu mesma só a encontrei depois de dar mil voltas, quem diria.