Um deles é este, feito pela Cintia.
Posto 11 / nov 09
Um deles é este, feito pela Cintia.

Alguma coisa acontece no Pedregulho, obra-prima do centenário Reidy: http://pedregulhoresidenciaartistica.wordpress.com/2009/10/21/sobre-o-projeto/
(A foto foi colhida da bela galeria de Kymtyr, no flickr).
Está aí, agora, o projeto de lei do PEU das Vargens:
http://spl.camara.rj.gov.br/spl/spl_tramit_proj_assunto.jsp?tipo=Lei+Complementar&numero=33&ano=2009
Soube que a segunda votação está prevista para ocorrer ainda hoje, no final do dia.
Mais um projeto goela abaixo? Com relação ao projeto de lei complementar que cria um novo PEU das Vargens - alterando vários parâmetros urbanísticos da região - a Secretaria de Urbanismo informou, através de sua assessoria de imprensa, que "os esclarecimentos à opinião pública só serão dados após a aprovação do projeto" (cf O Globo de hoje).

Este altera o chamado PEU/Projeto de Estruturação Urbana das Vargens, redefinido os parâmetros urbanísticos de boa parte da Zona Oeste (Vargem Grande, Vargem Pequena, Recreio dos Bandeirantes, Camorim e parte de Jacarepaguá), onde devem ser instaladas a futura sede da CBF, o Museu do Futebol e a Vila Olímpica, entre outros equipamentos ligados à Copa e às Olimpíadas.
Depois de tanta gritaria, parece que alguns vereadores estão mais atentos. Mesmo assim o projeto foi aprovado em primeira discussão, por 36 votos a 8.

A chapa é presidida por Sergio Magalhães (ex-Secretário Municipal de Habitação) e inclui nomes como Flavio Ferreira, Otavio Leonidio, João Pedro Backheuser, Alfredo Britto, Ceça Guimaraes, Pedro da Luz, Fabiana Izaga, Gustavo Martins, Celio Diniz, Pedro Rivera e outros. A votação será no próximo mês. Até eu, que estou afastada do IAB há uns 20 anos, vou votar.

http://www.bcmfarquitetos.com/dinamico/index.html.
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Projeto, Técnica e Preço / Pelo que pude apurar até aqui, são estes os autores dos principais projetos aprovados para a área portuária:
. Pier Mauá: eng. Sergio Dias (Secretário Municipal de Urbanismo)
. Restauração do Palacete D.Pedro II, na Praça Mauá: arq. Alcides Horácio Azevedo
. AquaRio: arq. Alcides Horácio Azevedo
. Reurbanização da Praça Mauá: arq. Paulo Casé e Ambiental
. Reurbanização do Morro da Conceição: arq. Flávio Ferreira
. Ciclovia MAM/Praça Mauá: Archi 5
. Reurbanização ruas Sacadura Cabral e Livramento: Fábrica Arquitetura
. Ligação viária Porto/Presidente Vargas e urbanização Santo Cristo/Gamboa: Mayerhofer & Toledo
. Nova Estação de Passageiros e reconversão dos Armazéns 4, 3, 2 , 1, atual prédio da ESMAPA e prédio do Touring: Toledo & Associados
. Reurbanização dos Morros da Saúde, Gamboa, Livramento e Morro do Pinto: Mayerhofer & Toledo (Livramento), Archi 5 (Saúde e Gamboa) e Arquitraço (Pinto).
. Reurbanização das ruas Senador Pompeu, Barão de São Felix, Acre e Leandro Martins: Fábrica Arquitetura (Senador Pompeu e Barão de São Felix) e Lopes Santos e Ferreira Gomes Arquitetos ( Rua do Acre e Leandro Martins)
Além disso, já encontram-se em funcionamento:
. a reconversão do Armazém Pedro II, ocupado pela Ação da Cidadania: arq. Hélio Pellegrino.
. a Cidade do Samba, no antigo Pátio da Estação Marítima da RFFSA (um dos maiores terrenos da região, adquirido pela Prefeitura em 2002): arq. Paulo Casé.
Há ainda projetos desenvolvidos pela equipe do Instituto Pereira Passos e obras já inauguradas cujos autores desconheço, como a Vila Olímpica da Gamboa. E é possível também que eu tenha esquecido qualquer coisa.
Até onde eu sei, à parte o primeiro, os demais projetos foram herdados do tempo em que o atual vereador Alfredo Sirkis foi Secretário de Urbanismo, entre 2001 e 2005. Nenhum dos projetos de intervenção pública foi objeto de licitação dentro da modalidade de concurso público (aberto, no caso, a qualquer arquiteto e/ou escritório de arquitetura com registro profissional em dia). A maioria resultou de processo licitatório de tipo "técnica e preço" (também regulado pela lei federal n° 8.666/93, porém destinado a escolher a proposta mais "vantajosa" para a administração pública com base na maior média ponderada, considerando-se as notas obtidas nas propostas de preço e de técnica. O que, a rigor, não tem nada de ilegal nem de anti-ético, embora signifique, na prática, limitação da participação dos arquitetos e urbanistas e submissão de seus projetos à ordem das empreiteiras e construtoras.)
A única exceção, pelo que sei, foi um concurso de idéias realizado há cinco anos para o tratamento acústico e paisagístico da Perimetral, vencido por Ricardo Shiniti Kawamoto - e depois engavetado.
Por favor me corrijam (e me perdoem) se houver qualquer erro. Neste momento, é preciso recolher informações dispersas e juntar as peças pacientemente, como num quebra-cabeças de milhares e milhares de peças que parece nunca ter fim.
Dos anos vinte aos anos setenta do século passado prevaleceu entre os urbanistas o entendimento de que as cidades existentes eram todas erradas e consequentemente, deveriam ser gradativamente demolidas e reconstruídas a partir do zero, seguindo as prescrições da época do que seria uma boa cidade: um grande gramado sobre o qual pairavam, sobre pilotis, edifícios altos, brancos como a neve...
O projeto de Le Corbusier para o centro de Paris, o Plan Voisin de 1925, felizmente não construído, é um dos primeiros exemplos desta atitude. A segunda melhor solução era abandonar a cidade existente ao léu e construir expansões gigantescas com os edifícios altos sobre o verde. O projeto de Lucio Costa para Barra da Tijuca, dos anos 60, é um bom exemplo desta atitude.
No mundo inteiro “a cidade alta no parque” mostrou-se desagregadora, sem lugares de convívio, favorecendo a exclusão e não a inclusão, a alienação e a delinqüência e não a cultura, a monotonia e não a diversidade.
Além disso, era cara de se construir e difícil de se manter.
As cidades dos Estados Unidos, que tem recursos para corrigir grandes erros, tem demolidos seus trechos de “cidade alta no parque”. A partir dos anos 70, em todo o mundo, este paradigma foi refutado.
Descobre-se que a cidade existente, embora cheia de problemas, tem suas qualidades e suas grandezas e os urbanistas voltam-se para ela e, delicadamente, a reformam, a restauram, dão-lhe mais vida. Retoma-se a pequena escala.
São exemplos no Rio dessa atitude frente às cidades, a de intervenção de pequena escala: o Corredor Cultural de Augusto Ivan e seus companheiros; a melhoria das ruas tradicionais que no Rio se denominaram Projetos Rio-Cidade, desencadeados por Luiz Paulo Conde; as melhorias em áreas carentes aqui designadas Projetos Favela-Bairro, liderados por Sergio Magalhães; a adaptação de edifícios antigos como o Centro Cultural Banco do Brasil e a sede dos Correios; o retrofit de diversos grandes edifícios de escritório no centro da cidade como a antiga sede da Sul América na Rua da Quitanda, de Fernando Monte e da antiga sede da Esso na Avenida Presidente Wilson de Davino Pontual e Paulo Pires; o cuidadoso restauro de diversos palácios, como o da antiga sede da Casa da Moeda para o Arquivo Nacional de Alfredo Britto, o último sendo o restauro do Palácio Imperial na Quinta da Boa Vista. Esses exemplos indicam o muito que se pode fazer seguindo essa vertente predominante do urbanismo e da arquitetura contemporânea.
Não é que agora, em 2009, o projeto “Porto Maravilha” da Prefeitura volta atrás 40 anos e propõe para a área do Porto um plano que leva à destruição da maioria do volume edificado na área e sua reposição por edifícios e altos?
Faz isso ao legislar, quarteirão a quarteirão, a construção de edifícios enormes, os maiores podendo ter 12 vezes a área do terreno, e com altura de até 50 andares. Com esta legislação esses terrenos serão vendidos em hasta pública para a iniciativa privada.
Alem de destruir a maior parte das construções existentes no Porto, os novos edifícios escondem o perfil dos pequenos morros que separam o Porto da Avenida Presidente Vargas e, mais grave, a bela paisagem da grande cordilheira da qual o Corcovado é o elemento mais importante.
Quando viemos da Zona Norte, do interior ou do Galeão, nos sentimos no coração do Rio quando, junto ao Gasômetro, contemplamos de perto o Cristo e o perfil de toda a sua cordilheira. Com o “Porto Maravilha” esta experiência visual maravilhosa estará perdida para sempre.
Legislar muito denso e muito alto tem um outro grave inconveniente: atrasa a consolidação da área. Não há economia urbana suficiente para construir os edifícios grandes de pronto. Terá que haver especulação os terrenos ficarão desocupados por décadas e enquanto isso o Porto continuará vazio.
O projeto deveria enfatizar a reforma, o retrofit, o restauro do existente. Com um olhar contemporâneo lá se vê uma infinidade de oportunidades para este tipo de aproveitamento. O Porto se consolidaria rapidamente e ficaria, já agora, muito mais interessante e vivo. Os melhores exemplos de projetos bem sucedidos hoje são os que enfatizam a preservação e não a demolição e construção de edifícios altos, principalmente nas áreas portuárias.
O primeiro projeto de renovação portuária, no Haymarket em Boston e o Porto Madero em Buenos Aires são disso um bom precedente. No Rio já há alguns exemplos de projetos desse tipo: o pioneiro uso de armazéns do Porto para sede de uma empresa, a Xerox, um retrofit feito nos anos 70 por Pontual Associados; o Parque das Ruínas em Santa Teresa, elegante conjunção entre o velho e o novo, do impecável veterano Ernani Freire; o Museu do Telefone no Flamengo, que preserva seu exterior e revoluciona os seus interiores, do jovem arquiteto Gustavo Martins e seus sócios; a Galeria Progetti na Travessa do Comércio, que cria, com maestria, um pequeno espaço em planta mas altíssimo, do jovem arquiteto Pedro Rivera, são pequenas amostras do que pode ser feito em grande no Porto.
O Porto necessita do talento desses e de outros arquitetos cariocas. Tanto dos muito jovens já com experiência, quanto dos poucos veteranos que compreendem a contemporaneidade.
Com a corretíssima transferência dos principais equipamentos olímpicos para a área do porto como a Vila Olímpica, o “Porto Maravilha” terá que ser reformulado. É um bom momento para refazê-lo leve, coerente com a contemporaneidade e não como um pesado Brucutu do meio do século passado.
Para induzir o retrofit basta que o volume legislado seja igual ao volume já construído e preservados os alinhamentos de fachada existentes. Pode e deve haver exceções, como torres finas e altas, mas de forma que não interfiram na bela paisagem. O Urbanismo é tridimensional: é necessário que se façam planos de massa e simulações tridimensionais do novo e do todo. Em seguida vendem-se os imóveis em hasta pública. Nisso o “Porto Maravilha” está certo: a venda dos imóveis e a conseqüente e indispensável participação da iniciativa privada."

Que venham as Olimpíadas, então. E com elas a reativação econômica da cidade, a reversão do esvaziamento do centro, a despoluição da Baía de Guanabara, o freio no desmatamento da Mata Atlântica e no crescimento das favelas, o equacionamento dos problemas de transporte, lixo e violência urbana. Mas também a valorização e a recuperação da arquitetura e do urbanismo de qualidade. Não pode ser muito esperar que as Olimpíadas deixem como legado, afinal, também a revitalização da arquitetura carioca, que já foi tão vigorosa – com Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Sergio Bernardes e muitos outros - mas hoje encontra-se em estado terminal.