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Um pouco de esperança / Movo-me, como se de repente tivesse vivido um século, entre os muitos textos e relatos que circulam sobre a tragédia na Serra. Mas nada me toca tanto quanto este email que recebo de uma ex-aluna, que é de Friburgo:

"Oi Ana Luiza,

Obrigada pela lembrança.

Só na semana passada eu achei que estava perdendo meu pai 2 vezes! Em outra, achei que tinha perdido minha melhor amiga. Mas graças a Deus está tudo bem com todos da minha família e amigos mais próximos. Perdemos um carro, mas isso não chega nem perto do que nossos amigos e conhecidos perderam.

A cidade foi muito afetada. Muitas das áreas com desmoronamentos não eram regiões desmatadas ou ocupadas indevidamente. Eram zonas de mata nativa, sem qualquer intervenção!

Eu estou no Rio, funcionando como base operacional para minha família. Recolhi muitos donativos que já foram entregues a pessoas que perderam tudo, tudo mesmo.

A antiga Fábrica Ypu virou ponto estratégico para distribuição de donativos. Todos os caminhões deixam as cargas lá e veículos menores são carregados para fazerem a distribuição aos pontos de difícil acesso.

Apesar de áreas mais afastadas estarem recebendo socorro só agora, o centro já começa a se restabelecer, ou ao menos tenta. Muitas confecções acabaram, as fábricas estão fechadas. Friburgo cresceu com a criação de 3 grandes fábricas do ramo têxtil. A Ypu já estava fechada, agora a Rendas Arp e a Filó (atual Triumph) já anunciaram seu fechamento. Já temos indício de uma “tragédia social”. O comércio voltou a abrir ontem, porém por uma questão muito mais psicológica do que econômica. Minha mãe tem uma perfumaria, mas quem vai comprar perfumes? Roupas de marca? A FIRJAN fez um levantamento que mostra que 80% do comércio foi atingido, direta ou indiretamente. O turismo ecológico também está acabado. A economia da cidade está sem rumo traçado.

Li no seu blog sobre os monumentos de Friburgo. A Igreja de Santo Antônio realmente foi destruída. Os tratores estavam tirando hoje a terra da Praça do Suspiro e encontraram uma árvore e um carro dentro dela. Tinha lama até no teto. Só o santo se salvou. Não tenho notícias do Park Hotel, nem do Parque São Clemente. Geralmente o Parque São Clemente é atingido pela chuva, os lagos são destruídos, mas a perda não é muito grande. Eu moro em frente a eles e vou ver se consigo algum acesso assim que for para lá. A Igreja de Nossa Senhora das Graças está bem, entrou água da chuva mas não foi muito atingida (na verdade quem “destruiu” a Igreja foi um padre que a encheu de imagens adesivadas). Apenas o prédio da escola que fica por trás sofreu alguns danos. O prédio principal, e histórico, do colégio Anchieta está bem. O que caiu foi a parte nova, mais próxima à rua.

Nosso atual prefeito (o prefeito antigo faleceu e o vice assumiu em novembro) admitiu ao governador que não tem capacidade de tomar a frente em uma situação como essa. Passou então o comando das ações para o vice-governador, que está à frente de todas as ações na cidade. Muita ajuda tem chegado, de todos os cantos do mundo. Isso me traz um pouco de esperança.

Eu espero agora que as verbas liberadas realmente cheguem ao seu destino final, que a cidade possa aproveitar toda tecnologia que está disponível no momento para se reerguer de forma racional e quem sabe, ainda melhor.

Bjs

Viviane"

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