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Entre Morros e Mares / Queria fazer um filme sobre o Rio. Mas como, se não tenho experiência alguma em cinema? Não sei, mas depois de dois anos, ele está quase pronto - e sinceramente, tenho achado-o bem bonito. "Entre morros e mares" é um documentário de 24 minutos entrelaçando história da cidade e história da técnica, realizado por uma verdadeira "tropa de elite" formada basicamente por alunos dos Cursos de Cinema e Arquitetura da PUC, com verba da Faperj. Enfim, uma grande aventura, que começa a encontrar seu público com a última edição da revista ComCiencia, da Unicamp: http://www.comciencia.br/comciencia/.

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Começa amanhã e vai até sábado, no MAM, o Fórum Cidade Criativa, coordenado pela coreógrafa Regina Miranda. O objetivo é reunir pessoas de várias áreas para discutir o que o Rio pode ser nos próximos anos. A programação completa está aqui: http://www.cidadecriativa.org/
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"Como eu me sentiria se o mundo fosse plano"? A pergunta do artista alemão Anselm Kiefer não me sai da cabeça desde que vi o belíssimo documentário sobre sua obra ("O verde cobrirá as suas cidades"), que passa estes dias no Festival de Cinema.

Posto 10 / out 10

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Foster in Rio / O Festival de Cinema apresenta hoje mais um documentário sobre arquitetura: "How much does your building weigh, Mr Foster"? passa no Estação Botafogo às 13:30 e às 17:30. O filme sobre o arquiteto inglês Norman Foster - autor de projetos grandiosos e polêmicos como o novo Reichstag de Berlim, a Ponte de Millau, na França, e a cidade de Masdar, em Abu Dhabi - tem roteiro e narração de Deyan Sudjic, diretor do Museu de Design de Londres. E a pergunta, claro, vem de Buckminster Fuller. O filme reprisa quarta, no Oi Futuro Ipanema, às 15:00, e quinta, no Cine Glória, às 18:00.

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3D / Vem aí: o Rio numa deliciosa animação em 3D, dirigida pelo carioca Carlos Saldanha, com os mesmos produtores de "A era do gelo": http://www.movieweb.com/v/VIiFvjlpISaMmj

















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Oiticica é o Mundo / Não procurem por ele no museu. Peguem a van. Afinal, o que pode ser mais Oiticica que subir numa van branca, em direção ao Lido, e acabar na Central do Brasil?

A exposição "Museu é o mundo", já se
sabe, se distribui até final de novembro por vários espaços da cidade, como a Casa França-Brasil e o Paço Imperial. Mas o melhor está por aí, na rua, na praça, na estação. E também na van.

São duas por dia, aos sábados e domingos, sempre saindo da Casa França-Brasil (às 11:30 e 15:30). Então, em pouco mais de duas horas, é se deixar levar num giro varrido pelas "ocupações" de Oiticica: a piscina no Lido (que os curadores, não sei porque, quiseram gradeada e distante do mar), a
s grandes velas/telas semi-transparentes no Aterro, a casa-labirinto junto ao MAM, o "nada" na Praça XV. Mas ainda tem jogo de sinuca, em pleno burburinho da Central. E o mundo mal começou, mesmo porque nem cheguei à Mangueira. Salve, Oiticica.
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Sigilo / Arquitetos estrangeiros estão circulando pelo Rio, estes dias, em busca de parceiros locais para eventuais colaborações. O assunto tem sido tratado com grande sigilo pelos próprios arquitetos envolvidos e pelos Consulados que estão intermediando essas aproximações. Há vários americanos e ingleses, e pelo menos um norueguês, um dinamarquês e um alemão. E mais não sei, juro.
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Koolhaas in Rio / O Festival de Cinema começa esta semana, e vale a pena se programar para ver o filme "Rem Koolhaas: a Kind of Architect", de Markus Heidingsfelder e Min Tesch (Alemanha, 2008): SEX (24/9) 16:00 e 20:00 Oi Futuro Ipanema , SAB (25/9) 16:00 Cine Glória, DOM (26/9) 13:30 e 17:30 Estação Botafogo 3.
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Propaganda eleitoral / Deu no Facebook: "os candidatos que insistirem em colocar propaganda eleitoral em Bens Tombados Nacionais, como o Aterro do Flamengo, estão infringindo o Artigo 18 do Decreto-Lei nº25 de 30 de novembro de 1937 e sofrerão processo por parte do Iphan." Denúncias para o e-mail ouvidoria.rj@iphan.gov.br.
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Sanaa in Rio / Na próxima terça, dia 21, às 19 hs, tem palestra do arquiteto japonês Ryue Nishizawa no IAB (Rua do Pinheiro, 10, Flamengo). Nishizawa dividiu o prestigioso Prêmio Prizker deste ano com a arquiteta Kazuyo Sejima, com quem fundou o escritório Sanaa, em 1995. Entre os projetos da dupla estão o New Museum, em Nova York, e o Museu de Arte do Século XXI, em Ishikawa. Será que em breve também no Rio?
Aliás, ao ser perguntado, numa entrevista recente, quais os arquitetos do passado que mais admirava, Nishizawa respondeu com o que ele chamou de "trio inesquecível": Le Corbusier, Mies van der Rohe e Oscar Niemeyer. Ver aqui: http://www.designboom.com/eng/interview/sanaa.html

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Cidades Invisíveis / Me perdoem, mas eu não vou falar do Centro de Exposições de Oscar Niemeyer no Jardim Botânico, nem do Jockey Clube Boulevard, de Paulo Casé e Eduardo Mondolfo, nem do Centro Integrado de Comando e Controle - cujo autor desconheço, mas está em vias de ser erguido na Cidade Nova.

Faço melhor: parto em busca de Calvino e me permito imaginar outras cidades, diante das quais esta permanece sempre implícita. Como Veneza, para Marco Polo.

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É inverno no Rio.

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Parque Olímpico / Boa: o Comitê organizador das Olimpíadas no Rio voltou atrás e cancelou o edital do processo seletivo para o desenvolvimento dos projetos para o Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, depois que entidades como o IAB e o CREA se manifestaram publicamente contra a falta de transparência na condução do edital (divulgado apenas no site do Comitê) e o prazo apertado (8 semanas) definido para entrega dos projetos. O Comitê alega que o edital gerou uma "interpretação equivocada", e promete lançar novo edital em breve (atenção, candidatos!).

Eis a íntegra da nota do Comitê, postada ontem em seu site oficial:

"O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016 busca a transparência em todas as suas ações. Por isso, optou por divulgar os editais de processos seletivos em seu site oficial, que é consultado diariamente pela imprensa e pelo público em geral. Seguindo esta política de transparência, o Comitê Rio 2016 divulgou o edital do processo de seleção 014/2010 em seu site oficial em prazo compatível com a documentação exigida - portfólio, habilitação jurídica e qualificação econômico-financeira. Como já foi amplamente divulgado, o Comitê Rio 2016 não é responsável pela construção de instalações esportivas e, consequentemente, pela condução do processo de elaboração do projeto executivo das instalações esportivas. Ao Comitê Rio 2016 cabe apenas a elaboração do Manual Descritivo e do conceito do projeto, para garantir que todos os clientes dos Jogos (atletas, COI, Federações Internacionais, patrocinadores, serviços de saúde, alimentação estacionamento etc.) sejam devidamente contemplados no projeto executivo. Na página 4 do edital 014/2010 (item 2, letra D) está explícito que os seguintes itens estão excluídos do escopo: projeto básico (anteprojeto) de arquitetura; projeto legal, executivo, detalhamento, entre outros; projeto de paisagismo; e projetos complementares. Porém, por concluir que o texto do edital 014/2010 poderia induzir os leitores à interpretação equivocada de que o serviço solicitado seria a elaboração do projeto executivo das instalações esportivas, o Comitê Rio 2016 decidiu nesta quarta-feira, dia 8, CANCELAR o referido edital. Oportunamente, será lançado novo processo seletivo no site oficial do Rio 2016. Os participantes do processo cancelado deverão retirar seus envelopes B e C na sede do Comitê Organizador em horário comercial até o dia 17 de setembro de 2010".

A foto acima também foi extraída do site do Comitê, ao qual falta uma informação fundamental: o projeto original do Parque Olímpico é do escritório mineiro BCMF (dos arquitetos Bruno Campos, Marcelo Fontes e Silvio Todeschi). Aliás, o escritório foi recentemente premiado com Medalha de Ouro pela IAKS (International Association for Sports and Leisure Facilities) com o projeto para o Complexo Esportivo de Deodoro, construído para os Jogos Panamericanos no Rio, em 2007.

Posto 9 / set 10

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Cidade criativa / Vou ficar de olho neste pessoal. Eles estão organizando um fórum sobre a cidade que vai acontecer no MAM, de 6 a 9 de outubro, e até sexta próxima, dia 10, recebem inscrições para "performances discretas" pelo Rio. O que? "Intervenções mínimas que sugiram outra forma de olhar a cidade", dizem. Está tudo (ou quase) aqui: http://www.cidadecriativa.org/atividades.html


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Corintians / Está na Folha.com de hoje: o novo estádio do Corintians, no bairro de Itaquera, em São Paulo, foi escolhido pela CBF para abertura da Copa do Mundo de 2014. O projeto é de dois escritórios cariocas: Coutinho Diegues Cordeiro Arquitetos e DDG Arquitetura. E surge quarenta anos depois de outro carioca - o arquiteto Sergio Bernardes - ter projetado um estádio para o clube. Desta vez a obra, orçada em 350 milhões de Reais, deverá ser bancada pela Odebrecht, empreiteira responsável pela construção do estádio. Ver aqui:
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Concurso Marina da Glória, projeto DDG / Estão aí algumas imagens de outro projeto não selecionado no concurso para a Marina da Glória. Este é da DDG Arquitetura (Celio Diniz, Eduardo Canellas, Eduardo Dezouzart e Tiago Gualda). Todos os projetos estiveram expostos no ed. Serrador na sexta passada, mas só para convidados.
























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Tiro e alvo / Igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, Rua do Ouvidor, 14 de agosto de 2010. As fotos são de Fernando Moura, músico com formação em arquitetura.




















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Concurso Marina da Glória, projeto De Fournier / Eis um dos projetos não selecionados para a Marina da Glória. Recebi-o neste instante do arq. Rodrigo Rinaldi, membro da equipe da De Fournier & Associados, que tem escritórios no Rio e em São Paulo. (clique sobre qualquer prancha para ampliá-la)





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O Índio e a Marina / A Folha on line anunciou na sexta. E hoje recebo de um leitor anônimo a carta abaixo. Então estou quase acreditando que o vencedor do concurso para a Marina da Glória é mesmo o projeto do arquiteto Índio da Costa - pai do candidato a vice na chapa de José Serra (PSDB) à Presidência da República, aliás (disso tenho certeza).

"Prezados,

Agradecemos a participação ... no concurso organizado pelo Grupo EBX para a escolha do projeto de revitalização da Marina da Glória. Ao todo, participaram 21 escritórios de arquitetura, de 8 países: Brasil, Estados Unidos, Espanha, Inglaterra, Bélgica, França, Itália e Portugal.Todos os projetos foram desenvolvidos com elevada qualidade técnica e estética e apresentaram soluções criativas para a integração da Marina da Glória ao patrimônio arquitetônico do Parque do Flamengo.Os projetos foram avaliados por um Comitê da EBX e pelo presidente do Grupo, o empresário Eike Batista, sagrando-se vencedor o projeto apresentado pelo arquiteto Luis Eduardo Indio da Costa.

Gostaríamos de aproveitar a oportunidade para, atendendo a uma sugestão da Secretaria de Urbanismo da Cidade do Rio de Janeiro, convidar ... a participar de uma exposição que será organizada juntamente com o IAB, com o objetivo de apresentar aos moradores e visitantes da Cidade do Rio de Janeiro, todos os projetos de revitalização da Marina da Glória participantes do concurso.

Favor informar se é de seu interesse participar da exposição, caso em que entraremos em contato futuramente para definição do material a ser exposto.Reiteramos nossos agradecimentos pela participação neste concurso e desejamos sucesso ... nos trabalhos em andamento e nos que venham a ser realizados no futuro. Grupo EBX"
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Plano Diretor / Terça próxima, dia 17, tem discussão sobre o Plano Diretor no Parque Lage. Às 19 hs, com a vereadora Aspásia Camargo (presidente da Comissão do Plano Diretor) e os arquitetos Andréa Redondo (ex-secretária Municipal de Urbanismo), Luiz Fernando Janot (IAB-RJ) e Maria Julieta Nunes de Souza (IPPUR-UFRJ). O ingresso é uma lata de leite em pó, a ser doada a ONG Refazer.

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Fred Sandback no IMS /
Parei diante de Sandback como diante de um plano de vidro.
Eu sei que tudo ali são fios.
O resto sou eu.
O plano está na minha cabeça, e mesmo assim sou incapaz de atravessá-lo.
Receio rompê-lo com meu corpo, parti-lo em mil, perdê-lo para sempre.
Preciso criar coragem e voltar aqui.
Lançar-me contra esse vazio e me deixar atravessar por ele.
Mesmo pressentindo já toda a dor que sentirei
Navalha na carne.
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Sergio Rodrigues / A Caixa Cultural, na esquina das Avs Rio Branco e Almirante Barroso, é um espaço surpreendente, que tem abrigado ótimas exposições. Já vi originais de Le Corbusier, Nova York por Torres Garcia... e agora não vou perder o design de Sergio Rodrigues.
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E se fosse uma escola de arquitetura no centro do Rio?


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Desaparecidos no Fundão / Estão abertas, até 17 de agosto, as inscrições para o Concurso Público para projeto do Memorial dos Estudantes Mortos e Desaparecidos na Ditadura Militar, a ser localizado na praça em frente ao Restaurante Universitário Edson Luis de Lima Souto, na Cidade Universitária, Ilha do Fundão.
A participação é aberta exclusivamente a estudantes de escolas de arquitetura do Estado do Rio de Janeiro, e os prêmios somam 10 mil Reais. Mais informações podem ser obtidas por email: extensaofauufrj@gmail.com

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O que leva milhares de pessoas a correr no Aterro do Flamengo, numa manhã de domingo? A melhor resposta, encontrei-a no delicioso livrinho que ganhei do Lauro: "What I talk about when I talk about running". O autor é um renomado escritor japonês, Haruki Murakami. Há 20 anos, ele corre uma maratona por ano. E escreve. E corre. E escreve. No que pensa Murakami enquanto corre? "Eu corro num vazio. Ou melhor: eu corro para alcançar um vazio".

Posto 08/ ago 10




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"Nenhuma outra grande cidade pertence tão inteiramente à natureza."


Simone de Beauvoir
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A Cidade como Playground 2 / Corri 5 km no parque. Depois segui caminhando à beira da Baía até a praia, sentei na areia e tomei uma água de côco. Subi o morro por uma trilha e desci de bondinho. Tomei um sorvete de figo e voltei pra casa. E tudo não passou de uma manhã de domingo na minha cidade.
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A Cidade como Playground / Sou fascinada pelo Parkour. Não canso de ver os filmes que me levam, aos vinte anos, a voar contra paredes, entre edifícios, sobre as cidades. Já vi o "Samparkour" centenas de vezes no Youtube. E esta semana, pesquisando sobre o Bjarke Ingels na Internet, descobri este filme dinamarquês, que acaba de ser lançado. Nele, uma das integrantes do Team Jiyo dá a mais bela definição que já ouvi desse misto de esporte e acrobacia, tão profundamente ligado à arquitetura da cidade:

"O que é fascinante é o modo de transformar a cidade. Porque você não pode mudá-la fisicamente, não pode mudar o poste ou a escada, mas pode mudar a maneira como os vê e usa, e assim torná-los seus."


P.S: Em memória do jovem morto numa madrugada desta semana enquanto varava, de skate, um túnel próximo da minha casa.

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Olimpíadas / Boa notícia: o IAB está organizando dois concursos internacionais de projetos, para a Vila da Mídia e a Vila dos Árbitros. Ambas ficarão em terrenos na área portuária. A primeira na Praia Formosa (bairro de Santo Cristo) e a segunda na Usina de Asfalto da prefeitura, na Av Franciso Bicalho. Os editais devem sair antes do final do ano.
E o Rio também vai ser objeto de estudos este semestre na Universidade de Harvard, no ateliê dirigido por Bjarke Ingels (BIG) e Paul Nakazawa: http://www.archdaily.com/69731/ingles-nakazawa-on-rio/
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Amanhã / Aí está o vídeo de apresentação do projeto de Santiago Calatrava para o Pier Mauá. Também no Youtube, parte da sua palestra no Palácio Gustavo Capanema.


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Lucio Costa / Acaba de sair, pela editora Azougue: são vinte entrevistas, entre 1924 e 1997, que tive o prazer de organizar.
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Fragelli e os "monstrumentos" cariocas / Reproduzo aqui minha resenha do livro "Quarenta anos de prancheta", de Marcello Fragelli (Editora Romano Guerra, 448 pgs, R$90), conforme publicada hoje no caderno "Prosa & Verso" do jornal O Globo:

"Arquitetura do subterrâneo
Marcello Fragelli, crítico dos 'monstrumentos' do Rio, relembra sua trajetória

O livro "Quarenta anos de prancheta", lançamento da editora Romano Guerra, chega em boa hora. Não só porque traz para o primeiro plano a obra do arquiteto carioca Marcello Accioly Fragelli, mas também porque o faz num momento especialmente delicado para a arquitetura no Rio de Janeiro.

Nascido em 1928, Marcello Fragelli é um dos grandes arquitetos da geração de Paulo Mendes da Rocha, Sergio Rodrigues e Joaquim Guedes. No Rio, além de várias casas e edifícios residenciais, projetou obras de grande qualidade e escalas tão distintas quanto o Posto de Puericultura do Alto da Boa Vista (Menção Honrosa na VI Bienal de São Paulo, em 1961) e o complexo industrial da Piraquê, em Madureira. No entanto, fora de um círculo mais restrito, seu trabalho permanece pouco conhecido na cidade onde nasceu e iniciou sua vida profissional. E isso porque o “cenário desanimador” provocado pelo esvaziamento do Rio após a inauguração de Brasília acabou levando à sua transferência definitiva para São Paulo, em 1961.

Curta e combativa passagem pelo "Correio da Manhã"

Sua narrativa autobiográfica coloca em foco, no entanto, vários aspectos que seguem interessando à arquitetura carioca. Com sua escrita despretensiosa, Fragelli nos guia, por exemplo, pelo ambiente profissional da época - do cotidiano no escritório dos irmãos Roberto às disputas internas no IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil). Também reconstitui o cotidiano da Faculdade Nacional de Arquitetura, onde, pouco antes do concurso de Brasília, professores catedráticos ainda insistiam em barrar a arquitetura moderna e exigiam dos alunos que resolvessem programas novos e altamente complexos com base em estilos históricos do passado, como uma “estação de passageiros de aeroporto em estilo gótico manuelino”.

Um dos pontos altos do livro está, todavia, no relato de sua curta, porém combativa experiência como colunista do jornal Correio da Manhã. O primeiro artigo, publicado em setembro de 1960, atacava “o descaso das microautoridades municipais pela aparência do Rio, reflexo da ignorância geral sobre arquitetura e sua importância na preservação da estética de uma cidade que a natureza fizera só cheia de belezas”. Fragelli deplorava os “monstrumentos” que vinham se acumulando pela cidade, e lamentava que “numa cidade de arquitetos mundialmente famosos”, a “subarquitetura” estivesse sendo disseminada “a toque de caixa” pela Prefeitura. Dias depois, o arquiteto alertava para o ambiente viciado do ensino de arquitetura local, valendo-se de um comentário do arquiteto austríaco Richard Neutra, que se referira à escola carioca como “comida pelas traças”. E na semana seguinte, denunciava a ameaça de mutilação, pela Secretaria de Saúde, de um dos marcos da arquitetura moderna brasileira: o conjunto residencial do Pedregulho, projetado por Affonso Eduardo Reidy. Fazendo da crítica um exercício rotineiro e eminentemente público, Fragelli já se destacava, assim, por sua resistência à desqualificação progressiva da arquitetura no Brasil.

Chegando a São Paulo, Fragelli se verá surpreendido pelo encontro com Paulo Mendes da Rocha, que embora já figurasse entre os arquitetos mais respeitados da cena paulistana, continuava sendo praticamente ignorado no Rio. Mas a surpresa maior virá com a própria dinâmica do mercado paulistano, que logo dará ao arquiteto carioca a oportunidade de projetar edifícios residenciais ainda hoje destacados por sua rara conjugação de economia e qualidade.

Será, todavia, numa jovem empresa de engenharia (a Promon), que Marcello Fragelli desenvolverá projetos de maior impacto urbano, como a Nova Rodoviária (projeto original) e várias estações do Metrô (Liberdade, Jabaquara, Sé, São Bento, Armênia, Conceição, Paraíso e outras). Era a primeira rede de metrô no Brasil. E à diferença do sistema carioca, o paulistano incluía estações elevadas e subterrâneas. Estas pressupunham uma arquitetura sem fachada e sem forma; ou seja, praticamente o avesso da arquitetura. Um desafio que Fragelli insistiu em tomar para si, negando o caráter opressivo das estações mais antigas da Europa, Nova York e Buenos Aires (com seus espaços abafados, tetos baixos e iluminação artificial) em nome da qualificação espacial e estética dos subterrâneos da cidade. Instalava-se, assim, uma nova consciência sobre o espaço urbano – ou melhor, metropolitano, de São Paulo, com um padrão exemplar de obras em rede que acabaria se tornando quase um símbolo da cidade.

Domínio de espaços da multidão e casas de fazenda

A clareza decidida dos acessos e percursos, o desejo de expressar plasticamente o enorme esforço a que lajes e paredes encontram-se submetidas no subsolo, a opção por materiais sem revestimento (com ênfase no concreto aparente) e a exploração da luz natural garantiram expressividade e unidade às estações, que ainda seriam complementadas pelo projeto de identidade visual solicitado aos arquitetos João Carlos Cauduro e Ludovico Martino.

A pergunta que Marcello Fragelli se faz: “subterrâneo tem arquitetura?”, encontra resposta, assim, neste livro de 448 páginas, que cobre uma lacuna básica ao recuperar uma obra que domina, com a mesma integridade, os espaços da multidão e as casas de fazenda. É verdade que, não obstante a integração acertada entre o depoimento do autor e o trabalho de pesquisa iniciado na Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo, o livro ainda deixa muito da arquitetura e da biografia de Fragelli a descoberto. Mas talvez isso seja injusto com uma publicação que, sobretudo para os cariocas, não poderia ser mais oportuna: face a uma obra tão forte e conseqüente como a de Marcello Fragelli, será difícil não olhar criticamente para a “subarquitetura” que vem vitimando as estações mais antigas do metrô carioca, ou deixar de espantar-se com seus acessos gradeados e suas paredes - originalmente revestidas de pastilha de vidro - agora emassadas e pintadas de branco.

Também será difícil encontrar argumento convincente para a ausência de um pensamento projetual capaz de conferir alguma unidade às novas estações, as quais nos últimos meses temos visto se multiplicar, do centro (Praça Onze) à zona sul (Ipanema), lembrando mais os “monstrumentos” deplorados por Fragelli que a noção de bem público que sua arquitetura contribuiu para constituir."

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Contemporaneu / Não sei nada sobre os editores. Mas gostei da proposta: uma revista brasileira de arquitetura contemporânea, em formato digital e acesso livre na Internet. A primeira edição, recém-lançada, tem ótima pauta e design, e além disso é fácil de ser folheada, e até lida na tela do computador. Que projeto recente no Rio poderia estar aqui? http://www.contemporaneu.com/

Posto 7 / jul 10

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"Cara de Antigamente" / O Globo de hoje traz "projeto de Eduardo Paes" para o Terreirão do Samba, terreno junto ao Sambódromo que costuma ser usado durante o carnaval para shows populares, e no resto do ano permanece praticamente sem uso. Diz o jornal que o "novo espaço vai funcionar o ano inteiro, como acontece com a Feira dos Nordestinos, em São Cristóvão". Só que com "bares e restaurantes com a cara de antigamente", a fim de "reconstituir a tradicional atmosfera do Rio boêmio".


Eu não acredito. O projeto não deve ser do prefeito, claro, nem buscar uma "cara de antigamente". Afinal, seu vizinho mais próximo é uma obra de Oscar Niemeyer, o que não é pouca coisa.


Mas aproveito o embalo para lançar uma campanha pela reparação do Pavilhão de São Cristóvão, que há muito espera por um projeto digno da sua grandeza. Sem cara de antigamente, por favor, que o Rio não merece, e nem Sergio Bernardes nem Paulo Fragoso jamais nos perdoariam.
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Jogo empatado / Um pouco antes da Seleção entrar em campo, vi mais um projeto para a Marina. E vou dizer uma coisa: foi bem melhor que o jogo. Enquanto isso, seguia o disse-me-disse sobre o resultado do concurso. Ninguém sabe mais o que é verdade, o que é mentira. Mas alguém precisa dizer ao Eike, com urgência, que ainda torcemos por excelência. No mínimo.
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Marina: Furo ou Barriga? / A última da Marina: não, o vencedor não foi confirmado ainda! A notícia divulgada por Ancelmo Gois no jornal O Globo teria sido o que no jargão jornalístico se chama "barriga": um suposto "furo", que na verdade é uma falsa notícia. E agora? Terá sido então um boato? Um blefe? Quem poderá confirmar ou desmentir?
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Plano Diretor / Circula desde ontem na Internet um abaixo-assinado pela transparência do Plano Diretor do Rio de Janeiro. O texto é o seguinte:

"AO SENHOR VEREADOR ROBERTO MONTEIRO - RELATOR DO PROJETO DE LEI DO PLANO DIRETOR DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO.

À SENHORA VEREADORA PRESIDENTE DA COMISSÃO ESPECIAL DO PLANO DIRETOR, VER. ASPÁSIA CAMARGO, E SENHORES VEREADORES QUE A COMPÕEM.

Nós cidadãos vimos solicitar-lhes a deferência de sua atenção à publicidade e à transparência do texto completo, com suas emendas, da proposta de novo Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro.A proposta de novo Plano Diretor, como se sabe, altera profundamente a vida dos cidadãos, e de todos os bairros da Cidade. Altera também o preço da terra urbana, para torná-lo mais caro, e por isso mais difícil o seu acesso por todos, (especialmente pelos mais pobres), além de interferir nas políticas de preservação o meio ambiente, e de proteção de interesses coletivos, e de bens públicos; ou seja, nas políticas que podem não viabilizar a qualidade de vida na Cidade. Por isso é fundamental que todas as mudanças que interferem nestes valores coletivos sejam devidamente explicitadas, e justificadas tecnicamente, para o bem da Cidade, e de seus valores sociais. Acreditamos que só assim o novo Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro poderá atender à sua missão constitucional de ser o instrumento que viabilizará, de fato, a FUNÇÃO SOCIAL DA CIDADE do RIO DE JANEIRO, um pouco mais além da especulação do seu solo.Esperamos que, pela complexidade do assunto, e das emendas que foram propostas, nada seja votado sem que seja ouvida a sociedade carioca sobre o que seria o seu texto final, a fim de se evitar graves consequências para a Cidade e para o processo democrático."

Eu assinei. Para assinar também, basta entrar aqui: http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/6387
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Marina, enfim / Não, eu não vi o projeto do Índio da Costa. Mas espero que todos os projetos que concorreram no concurso fechado para a Marina da Glória sejam divulgados em breve. Afinal, ainda trata-se de um espaço público, não?
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Enfim, Marina / Acabou o mistério: foi anunciado que o vencedor do concurso fechado para o projeto da Marina da Gloria é o arquiteto Luiz Eduardo Índio da Costa. Índio fez bons projetos no Rio nos anos 70, como o SESC Madureira, o Inmetro (em Xerém) e a Escola Veiga de Almeida, na Barra (demolida). Mais recentemente, projetou o Rio Cidade Leblon e participou do concurso para a Biblioteca da PUC-Rio, entre outros. Um de seus últimos projetos é a Escola SESC de Ensino Médio, na av. Ayrton Senna, Barra da Tijuca.

Como a Marina está dentro do conjunto do Parque do Flamengo, tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o projeto agora deverá ser submetido à aprovação do órgão.

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Arquitetos do mundo inteiro estão de olho no Rio. Nesta semana, haverá duas palestras consecutivas, ambas promovidas pela Prefeitura: terça, às 10 hs, Santiago Calatrava se apresenta no Palácio Gustavo Capanema (para convidados e inscritos previamente pelo site
http://www.palestracalatrava.com.br/). No dia seguinte, David Fischer estará no Centro de Arquitetura e Urbanismo (Rua São Clemente, 117, Botafogo, às 16 hs).

O primeiro estará aqui para apresentar o aguardado projeto para o Museu do Amanhã, no Pier Mauá (ver O Globo de ontem, e http://oglobo.globo.com/rio/video/2010/18391/).

O segundo, não sei. Mas e se uma de suas torres - baseadas no conceito de "arquitetura dinâmica" - emergisse da Baía de Guanabara?


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Mais Marina / A foto foi feita na manhã de sábado. Ao fundo, vê-se a Marina. À direita, o barco de passeios turísticos "Pink Fleet", que atraca logo ali, junto ao MAM. Mais à direita, o Hotel Glória, que também pertence ao Eike. E eu só posso torcer para que o projeto escolhido por ele seja digno desta paisagem.
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Marina / Acabo de ver um dos projetos para a Marina da Glória. Só a apresentação já revela um investimento altíssimo. Mas não posso dizer mais nada porque é tudo sigiloso, muito sigiloso.

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Divisor no MAM / "Divisor" é uma obra de caráter participativo criada por Lygia Pape (1927-2004), artista que integrou o grupo neoconcreto e cuja ação se estendeu, muito além do campo das artes plásticas, também ao design, ao cinema, à pesquisa e ao ensino (dentro de uma escola de arquitetura, aliás). Uma das questões centrais da sua obra está na exploração de novas possibilidades de apropriação coletiva dos espaços urbanos, para além da cidade formal.

Assim é "Divisor": um imenso lençol branco, perfurado a distâncias regulares, a ser "vestido" coletivamente - e publicamente - pelos participantes. A obra é de 1968, mas a experiência será reproposta neste sábado, no MAM, às 11:30. Para participar, é preciso ter em mãos identidade e CPF. Mais informações por email
(obra.divisor@gmail.com) ou aqui: http://listaamiga.com/performancedivisordelygiapape/592-divisor
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Boa notícia / A Comissão do Plano Diretor rejeitou, em reunião ontem à noite, as propostas de emendas sem identificação apresentadas na semana passada. Isso não significa que elas não possam ser reapresentadas (o prazo vai até sexta). Mas já é uma vitória. O que continua preocupando é que a tão aguardada votação do Plano Diretor, agendada para acontecer a partir do dia 22 (terça-feira próxima), seja contaminada pelo clima dispersivo da Copa do Mundo e pelo processo eleitoral. Alguns vereadores estão sugerindo, inclusive, o adiamento - mais uma vez - da votação.

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Onde vai dar este Rio? / Eu nem queria falar mais disso. Mas, que jeito? Pois não bastassem os oito anos de atraso na aprovação da revisão do Plano Diretor do Rio de Janeiro, e as mais de mil emendas e subemendas já apresentadas, no último dia 7 o Diário Oficial da Câmara Municipal publicou mais 87 propostas de emendas. E desta vez, anônimas. Isso mesmo. Anônimas. Sem nome ou assinatura do autor; sem denominação; sem identificação.



Como o
prazo de apresentação de emendas e subemendas já estava encerrado desde o dia 28 de maio, apenas os membros da Comissão do Plano Diretor poderiam apresentá-las. E elas teriam que ser assinadas pela maioria dos nove membros da Comissão, ou seja, por pelo menos cinco vereadores.

Além disso, as propostas incluem novos parâmetros urbanísticos - mudança de gabarito, taxa de ocupação etc - que, devido ao seu caráter mais pontual, sequer deveriam ser tratados pelo Plano Diretor. Muito embora alguns dispositivos abram a possibilidade de mudanças profundas no espaço urbano carioca, sobretudo na Barra da Tijuca (que corre o risco de sofrer um adensamento violento nos próximos anos, com base no argumento de que o Rio precisa multiplicar seus hotéis para as Olimpíadas).

Diante disso, o que diz o relator do Plano Diretor, vereador Roberto Monteiro? Diz "desconhecer os autores das sugestões mais polêmicas". E a presidente da Comissão Especial do Plano Diretor, vereadora Aspásia Camargo? Garante apenas que "nenhuma de suas propostas modifica parâmetros urbanísticos." Outros simplesmente se recusam a dar entrevistas.
Pressionado, o prefeito age como quem foi pego de surpresa, e declara - wow! - que "a Zona Sul é intocável". (O Globo, 12/07).

É de se supor, claro, que isso tudo seja intriga de jornalista, e que a essa altura tudo já esteja suficientemente esclarecido no site da Câmara Municipal. (http://spl.camara.rj.gov.br/planodiretor/indexplano.php) Mas ali a agenda das audiências públicas não vai além de outubro de 2009. E no link "Fique por dentro da tramitação", a informação mais atualizada é de março de 2010. Mas tem também um link "Notícias da Comissão" e outro chamado "Plano Diretor no Twitter". Só que o primeiro leva a uma página em branco, e o segundo está desativado.

Então vocês me desculpem mas eu vou continuar reagindo, bestamente.




























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Luiz Nunes, arquiteto formado no Rio de Janeiro na década de 1930, é conhecido por ter revolucionado o meio arquitetônico pernambucano entre 1935 e 1937, quando projetou e construiu uma série de obras públicas em Recife e Olinda, introduzindo aí os princípios da arquitetura moderna.

Nunes liderava uma equipe que reunía, ainda, nomes como Joaquim Cardozo e Roberto Burle Marx. Um de seus projetos mais conhecidos - e polêmicos - é a Caixa d'Água de Olinda: um prisma puro e branco que se destaca imediatamente do conjunto arquitetônico em que se insere, marcado pela presença imponente da Sé de Olinda.

Pois estes dias Alfredo Brito fez circular um email com as imagens acima. A da direita foi extraída do livro "Os Três Estabelecimentos Humanos", de Le Corbusier (ed. Perspectiva). A "denúncia" foi do Flavio Ferreira. E agora ninguém sabe dizer quem veio primeiro: se Luiz Nunes ou Le Corbusier.

Bom, o fato é que Le Corbusier esteve aqui entre julho e agosto de 1936. Quanto à data do projeto, permanece incerta: acredita-se que seja do final de 1936, ou começo de 1937. Mas também pode ser que Luiz Nunes já estivesse trabalhando nele alguns meses antes.


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Fragelli e a arquitetura dos subterrâneos / Com a correria das últimas semanas, só agora consegui pegar no livro "Quarenta anos de prancheta", de Marcello Fragelli, lançamento recente da editora Romano Guerra, que o Abilio gentilmente me enviou. Graduado pela Faculdade Nacional de Arquitetura em 1952, Fragelli é um dos maiores arquitetos brasileiros da sua geração. No Rio, além de um punhado de belas residências e alguns edifícios, projetou a pequena jóia que é o Posto de Puericultura, no Alto da Boa Vista, e o complexo industrial da Piraquê, em Madureira, que totaliza 100 mil m2. No entanto, fora de um círculo mais restrito, seu trabalho permanece pouco conhecido na cidade onde nasceu. E isso porque uma série de fatores, em grande parte ligados ao processo de esvaziamento do Rio após a inauguração de Brasília, acabou levando à sua transferência definitiva para São Paulo, em 1961.


Ali, além de ter exercido intensa atividade docente (na FAU-USP e no Mackenzie), Marcello Fragelli integrou-se ao corpo técnico da Promon e desenvolveu projetos de grande impacto urbano, como a Nova Rodoviária (projeto original) e várias estações do Metrô (Liberdade, Jabaquara, Sé, São Bento, Armênia, Conceição e outras).


Era a primeira linha de metrô no Brasil, e o arquiteto se perguntava: "subterrâneo tem arquitetura?". Pois a resposta está neste livro autobiográfico de 448 páginas, que ainda deixa muito da arquitetura e da trajetória de Fragelli a descoberto, mas sem dúvida chega em boa hora: que ele possa sensibilizar os responsáveis pelas novas estações do metrô carioca, e pelas reformas que vem vitimando as mais antigas.


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Salve Torres García (na Caixa Cultural, só até dia 13).
Salve Rebecca Horn (no CCBB).
E eu nem cheguei ao Paço Imperial, onde Matta-Clark me espera, furioso.


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Ah, eu vi. Vi e ouvi. E foi como uma pancada na nuca, um soco no estômago, sei lá. Naquelas imagens, tantas brechas para o subterrâneo. O seu e o meu. Brasília é assim: salve-se quem puder.

(eu sei que deveria estar falando do novo museu que está hoje no jornal. Mas fica para amanhã. Ou depois, quem sabe).


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"Você moraria em Brasília?" perguntou Nicolas Behr. "E você se casaria com uma das Demoiselles d'Avignon, de Picasso?", rebateu Adrian Gorelik.


Pena que vai acabar hoje.
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Do Possível e do Impossível em Brasília / "Brasília foi inaugurada mas não está pronta", disse Paulo Mendes da Rocha terça-feira no IMS, diante de uma platéia de cerca de 200 pessoas, que se dividiram entre o auditório e o telão instalado no jardim de Burle Marx. O arquiteto declarou-se contrário ao tombamento do Plano Piloto. E provocou o pensamento preservacionista com uma imagem forte: "vejo Brasília destruída pelo povo, o que seria uma maravilha".
Já Ronaldo Brito concentrou-se nas contradições de Brasília: "É um espaço esquizo, que começa com o contraste entre espaço público e privado", disse, referindo-se ao contraste entre a habitabilidade das Superquadras e a "monumentalidade opressiva" da Esplanada dos Ministérios. "Brasília é o símbolo positivo da vida moderna", um fato que "obriga o Brasil a repensar a si mesmo", declarou.
O encontro dos dois foi quente e acendeu uma reflexão sobre Brasília como há muito não se via, e que se estendeu até as dez da noite.
O debate segue hoje com mais um encontro imperdível, entre Adrian Gorelik e Lorenzo Mammi, dois outros grandes pensadores que vem, respectivamente, de São Paulo e de Buenos Aires, para compor a mesa "Brasília: Sol e Sombra".
Mammi falará sobre "A construção da sombra" - tomando uma foto de Marcel Gautherot como ponto de partida para pensar os elementos do imaginário brasileiro e internacional postos em jogo com Brasília. Já Gorelik discutirá o "caráter inoportuno" de Brasília, tomada como "ponto cego" do pensamento urbano latino-americano. O título da sua fala, aliás, já diz muito: "Sobre la impossibilidade de (pensar) Brasília".

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Uma imagem de Brasília? O chão das Superquadras. É claro que a arquitetura de Niemeyer seduz, a Esplanada dos Ministérios impressiona, a Rodoviária tira o fôlego. Mas não há nenhuma outra cidade no mundo em que o chão vai assim, livre e indiviso, por uma extensão sem fim. E no entanto são poucos - pouquíssimos - os projetos recentes que mostram sensibilidade para essa característica fundamental do Plano Piloto de Lucio Costa. Foi isso, antes de tudo, que me encantou na nova sede do Sebrae. O projeto foi escolhido em concurso público em 2008 e a obra deve estar concluída em poucos meses. E como o seminário no IMS começa amanhã, fica aqui uma imagem produzida em minha deriva recente pelo canteiro de obras, enquanto os autores do projeto - Alvaro Puntoni e Luciano Margotto - se reuniam com engenheiros e consultores no barracão, longe do céu de Brasília.
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Brasília: Imagem, Imaginário / Esta semana serei toda Brasília. O seminário começa na terça, com Paulo Mendes da Rocha e Ronaldo Brito. O auditório do IMS tem 130 lugares e as senhas serão distribuídas a partir das 18 horas. Mas haverá também transmissão simultânea por meio de telão.
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Brasília: Imagem, Imaginário / Ao visitar o canteiro de obras de Brasília durante o Congresso Internacional Extraordinário de Críticos de Arte, em 1959, Tomás Maldonado declarou: “Brasília é uma grande possibilidade e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade. O fracasso de Brasília seria um dos maiores traumas da cultura de nossos tempos. Devemos fazer tudo para evitar que venha a falhar.”

A advertência do artista argentino indicava já uma preocupação com os rumos tomados por um viés de modernização que se cumpria e ganhava forma urbana na nova capital, mas também encontrava ali sua expressão-limite.

Ao completar meio século, Brasília se mantém, em grande medida, dentro desse campo de tensões, ao mesmo tempo em que se vê forçada a enfrentar uma série de problemas que ultrapassam em muito sua origem modernista e dizem respeito ao próprio estado crítico das cidades contemporâneas.

O seminário “Brasília: Imagem, Imaginário” tem como objetivo renovar a reflexão sobre essas tensões, explorando, sob diversos pontos de vista, o imaginário construído ao longo do tempo em torno dessa cidade singular e eminentemente simbólica, que se produz e reproduz incessantemente, desde seu momento inaugural, por meio de imagens de extraordinária potência plástica.

As sessões de debate e leitura foram definidas com o intuito de despertar novas possibilidades de ver e pensar a cidade, a partir da sua relação com a arquitetura, as artes plásticas, a fotografia, a história e a literatura.

Integra-se o seminário, assim, à exposição “As construções de Brasília”, também abrigada no Instituto Moreira Salles, como um convite à redescoberta da cidade planejada por Lucio Costa e reinventada cotidianamente no imaginário de todos nós.


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Brasília: Imagem, Imaginário / Peguei um táxi e toquei pro setor hoteleiro. Amanhã a Casa de Lucio Costa completa 10 anos, e eu vou comemorar comme il faut: no Eixo Monumental.

Aproveito também para carregar minha bateria para o seminário "Brasília: imagem, imaginário", que acontece no Instituto Moreira Salles, no Rio, entre 25 e 28 de maio, no âmbito da exposição ora em curso ("As construções de Brasília").

Eis a programação completa do seminário:

25 de maio, terça-feira, 19 horas
"O espaço Brasília"
mesa-redonda com Paulo Mendes da Rocha e Ronaldo Brito / moderação: Ana Luiza Nobre

26 de maio, quarta-feira, 19 horas
"O instante Brasília"
mesa-redonda com Caio Reisewitz, Mauro Restiffe, Tadeu Chiarelli e Heloisa Espada / moderação: Sergio Burgi

27 de maio, quinta-feira, 19 horas
"Brasília, sol e sombra"
mesa-redonda com Adrián Gorelik e Lorenzo Mammi / moderação: João Masao Kamita

28 de maio, sexta-feira, 19 horas
"Dizendo Brasília"
leitura de textos literários sobre Brasília, com Renata Sorrah, Nicolas Behr e Eucanaã Ferraz

Todas as sessões serão gratuitas e realizadas no auditório do IMS, com distribuição de senha a partir das 18 horas. A mesa-redonda do dia 25 poderá também ser acompanhada por um telão, no espaço externo. Vai ser bonito...
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Sigo hoje para Brasília. Levo Bense comigo. O que trarei de volta?


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MUMA / O IAB-RJ divulgou agora à noite o resultado do concurso nacional de projetos para a expansão do Museu do Meio Ambiente, no Jardim Botânico: o primeiro lugar ficou com Bruno Luiz Coutinho Santa Cecilia (MG), o segundo com Rochelle Rizzoto Castro (RS) e o terceiro com João Pedro Backheuser (RJ).

Foram atribuídas ainda menções honrosas aos projetos apresentados por José Augusto Fernandes Aly (SP), André Lompreta (RJ), Eliana Maria Soares Gomes (RJ), Marina Grinover (SP), Jaime Marcondes Cupertino (SP), Julio Beraudo Valente (SP), Luis Eduardo Liola de Menezes (SP) e Vinicius Hernandes de Andrade (SP).

A comissão julgadora foi composta por Paulo Bastos, Ruy Rezende, Hector Vigliecca, Pedro da Luz e Ricardo Villar.

Reproduzo aqui uma das pranchas do projeto de Backheuser e equipe, que acabo de receber do Alfredo Brito.

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Plano Cidade / Aos poucos, nosso filme vai surgindo...e eu mesma não páro de me surpreender com o que vamos encontrando por aí. No último final de semana estivemos no Pavilhão de São Cristóvão, que Sergio Bernardes projetou na década de 1950 e hoje - sem cobertura e semi-destruído - abriga uma animada feira nordestina no seu interior.

Da ousadia do projeto original pouco restou, além da carcaça do pavilhão. Mas aqui e ali, entre cabeças de boi, caixas de som e bandeirinhas de São João, ainda encontramos vestígios da sofisticada rede de cabos de aço que um dia cobriu os 30.000 m2 do pavilhão. É um contraste impressionante, sobretudo porque solenemente ignorado pela multidão que frequenta a feira.

Para quem se interessa, vai valer a pena seguir o blog do filme, que colocamos no ar hoje:
planocidade.wordpress.com


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Está aí o convite do Líquida Ação.

Posto 5 / mai 10


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Águas pelo Rio / O coletivo "Líquida Ação" se organiza e convoca para suas próximas ações coletivas: desta vez, a proposta de levar água para chafarizes secos da cidade - que integra o Projeto "Mitolorgias Urbanas: águas férteis", premiado pela FUNARTE - terá como destino três Chafarizes do Mestre Valentim : Praça XV (Centro) / dia 13 de maio, Fonte dos Amores (Passeio Público) / dia 14 de maio e Saracuras (Ipanema) / dia 15 de maio.

O projeto visa ativar a memória da cidade por meio de intervenções efêmeras que guardam forte relação com as artes cênicas. As próximas ações serão precedidas de um encontro geral, aberto a todos, no dia 8 de maio (sábado), das 14 às 18 hs, no Chafariz Fonte do Amores (Passeio Público). Mais aqui: http://coletivoliquidaacao.blogspot.com/