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A cidade e suas águas / Foi logo depois das chuvas que castigaram São Paulo na semana passada que recebi este email do Renato Anelli, arquiteto e professor da USP-São Carlos. A cidade e suas águas: passei os últimos dias longe de casa, pensando nisso. Mas tive notícias de que os termômetros no Rio continuam a marcar 41 graus e as praias estão mais lotadas que nunca, pois o sol está firme há 12 dias, e além disso logo será Carnaval. Cedo ou tarde, porém, virão as águas. E de novo seremos pegos de surpresa. E reclamaremos providências, e ouviremos promessas, e chamaremos por socorro, e oscilaremos entre o medo, a raiva e a tristeza, incapazes de uma ação transformadora qualquer.

"Cara Ana Luiza,
Acredito que as chuvas aí no Rio estejam tão intensas como em São Paulo. No entanto, os estragos por aqui atingem níveis que nos surpreendem pela freqüência e intensidade. Então, escrevo para trocarmos um pouco as nossas impressões.
Pelos links abaixo, você pode ver alguns exemplos, entre ele um ocorrido em Diadema na segunda passada.
O rio transborda em meio à área urbana, “apagando” o chão da cidade. Desaparecem as ruas, canais, calçadas, praças, etc.
Desaparece a urbanidade.
Outros links mostram como essas situações estão se repetindo todos os dias, matando gente, paralisando os deslocamentos e inviabilizando a vida urbana.
Nos morros e várzeas ocupados por habitação popular, a situação se agrava. As mortes por deslizamentos e enxurradas se acentuaram. E mesmo o turismo junto às florestas nos morros já não é mais seguro – veja Ilha Grande.
Pergunto até onde temos, nós arquitetos, alguma responsabilidade nesses desastres.
O vilão inicial, o volume de chuvas, não basta para explicar: janeiro superou em apenas 0,9 mm os 480,5 mm do recorde de 1947. Não há dúvida que as engenharias devem algumas explicações sobre a ineficiência de seus caríssimos dispositivos de macro-drenagem e de estabilização de encostas. Também não basta culpar os “políticos” e o Estado, incapaz de manter as infra-estruturas existentes e de prevenir as ocupações em áreas de risco.
Acredito que devemos repensar aquilo que está na nossa área: o modo de ocupação do território – urbano, rural e natural. Como as formas urbanas atuais dependem das infra-estruturas de canais e arrimos para domar seus rios e morros, hoje está claro que confiamos mais do que devíamos na eficiência dessas técnicas.
A relação entre as cidades e suas águas torna-se agora fundamental para a sua sobrevivência e não se resolve apenas com as engenharias. Eu começaria pensando que é necessária uma nova interlocução da arquitetura com o pensamento ambiental, sempre fraco no urbano, ou melhor, quase anti-urbano. É possível encontrarmos novas formas urbanas que evitem os desastres recorrentes que temos vivido?
Ou você vê outro caminho para iniciar essa reflexão?"


http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1202650-7823-CHUVA+PROVOCA+ALAGAMENTO+EM+SAO+PAULO,00.html

http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL1470832-5605,00-SEMANA+DE+ENCHENTES+DEIXA+BAIRROS+DEBAIXO+DAGUA+EM+SAO+PAULO.html


http://bandnewstv.band.com.br/conteudo.asp?ID=257035&CNL=20


http://bandnewstv.band.com.br/conteudo.asp?ID=256973&CNL=20

2 comentários:

  1. Ana,

    Acompanho seu blog e ontem saiu uma notícia que remeteu a esse post.

    E fiz um post no meu blog. Aproveitei a carta do professor Renato Anelli.

    O endereço é: http://revistacrise.blogspot.com/2010/02/construindo-mal-as-cidades-que-fria.html.

    Abraços.

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  2. Fico feliz que esta "mensagem na garrafa" tenha sido aberta em BH. Por lá as águas estão fortes. Os rios cobram caro pelo seu lugar na cidade. E tem gente querendo diminuir o lugar deles! Acompanhem a revisão do Código Florestal em discussão no Congresso. Código Florestal, apesar do nome, é um instrumento que pode ser usado nas cidades para garantir o espaço de respiro dos rios.

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