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Insustentabilidade / Meus alunos sabem o quanto me incomodo com o discurso da sustentabilidade, sobretudo quando ele é usado para mascarar uma arquitetura medíocre. No mais, consumo diariamente em casa, na Gávea, pimentas produzidas na Indonésia e embaladas na Alemanha, tomates que crescem na Itália, azeite que vem de Portugal. Isso para não falar nas castanhas colhidas na Amazônia, sem as quais meu café-da-manhã fica gravemente comprometido. Ainda assim procuro manter um certo grau de consciência ecológica, o que me faz evitar, entre outras coisas, o uso indiscriminado daqueles saquinhos plásticos distribuídos por aí. Eles são odiosos mesmo: além de anti-ecológicos e medonhos, vivem arrebentando, e também costumam ser pequenos demais para as minhas compras.

Não foi difícil, então, deixar-me seduzir pelas sacolas de ráfia do supermercado Pão de Açúcar. Elas são grandes, resistentes, levíssimas, lindas, custam apenas 2,99 Reais, e ainda vem impressas com um apelo atualíssimo: "Usando esta sacola você colabora com a preservação do meio ambiente".

Minha preferida é a das alcachofras. Mas tenho também a do melão, a do maracujá...Pois bem. Assim, como quem não quer nada, resolvi conferir a sua origem. E o que é que descobri? Que elas não vem da Baixada, de São Paulo ou mesmo da Bahia...mas do Vietnã! Desde então, não páro de pensar em tudo o que envolve a produção longínqua e o deslocamento dessas bolsas, aparentemente tão ingênuas e dignas, até mim. E como é que uma cidade como o Rio pode sustentar esse tipo de consumo? Não há qualquer coisa de errado nisso?

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