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Bienal Iberoamericana: por ora é só / Eis que recebo, do arquiteto Luiz Fernando Janot (professor da FAU-UFRJ), o primeiro comentário relativo à seleção de obras para a Bienal Iberoamericana. Na verdade, recebi-o como um email pessoal. Mas reproduzo-o aqui, na íntegra, esperando com isso acender uma reflexão coletiva sobre a produção contemporânea de arquitetura no Rio:

"Querida Ana Luiza,

Antes de qualquer coisa, muito obrigado pelo seu convite para participar da seleção de projetos para a “VII Bienal Iberoamericana de Arquitetura” que acontecerá em Medelín em outubro desse ano. Mas, te confesso, ao refletir sobre a produção arquitetônica e urbanística na cidade do Rio de Janeiro entre 2007 e 2009 não consegui achar nada de qualidade que me chamasse a atenção ou que me motivasse a indicar como exemplo significativo para os fins a que se propõe a Bienal. Aqui no Rio, como nos poucos municípios do Rio de Janeiro que tive a oportunidade de conhecer, ao contrário do interior de São Paulo, a produção arquitetônica tem se pautado na maioria das vezes pela perspectiva do mercado imobiliário, tanto na área residencial como na área comercial. O resultado, como não poderia deixar de ser, trouxe consigo os vícios de um modismo inconsistente que se perpetuou em soluções projetuais sem qualquer expressividade ou valor arquitetônico. No entanto, é provável que algumas "residências de luxo" em Búzios ou Angra ofereçam algum diferencial do costumeiro popularesco vulgar. Mas, mesmo assim, são projetos que não apresentam nada de novo que possa estimular o debate sobre arquitetura. Destacaria como exceção a proposta diferenciada dos jovens arquitetos Ivo Mairenes e Rafael Palatano para a "Casa Flor", na Mombaça, em Angra dos Reis. Um projeto bem interessante e criativo.

Nos subúrbios cariocas, esse quadro desolador no campo da arquitetura pouco se altera. Na zona sul da cidade praticamente tudo já foi feito. De novidade, apenas alguns shoppings centers, reformados ou novos, mas sem nenhum valor arquitetônico mais expressivo. As reformas de lojas e algumas galerias de arte poderiam ser hipóteses a se considerar, entretanto, na verdade, se resumem a fachadas vistosas impregnadas de clichês arquitetônicos convencionais. Nada mais do que isso. Infelizmente, a Baixada de Jacarepaguá, da Barra ao Recreio, que deveria ser o grande espaço para manifestações arquitetônicas contemporâneas, não teve esse destino. Nesse imenso território o que se vê, como não poderia deixar de ser, é o retrato de uma época que tem como seu valor principal o imediatismo financeiro traduzido em gigantescos condomínios residenciais e centros comerciais afinados com a tendência mercadológica do aqui e agora. O resultado arquitetônico é pífio. Esse "mercantilismo formal" se reflete nas fachadas espelhadas dos "prédios inteligentes" a traduzir um status clean sem nenhuma personalidade. Os hospitais da Rede D'Or - projetados pela RAF - são reconhecidamente vistosos e eficientes, mas seguem esta mesma linha de pensamento, certamente, imposta aos competentes arquitetos pelos "empresários do ramo da saúde".

De resto, Ana Luiza, só sobra uma obra de vulto e de extrema qualidade em todos os sentidos em meio a este inferno astral que vive a arquitetura no Rio de Janeiro nos últimos anos. Trata-se do Hospital Sarah no Recreio dos Bandeirantes, projetado e construído sob a batuta do nosso querido Lelé. Aí sim, há arquitetura de qualidade. Incluiria também nesse rol o prédio da Escola Sesc de Ensino Médio na Barra da Tijuca projetada pelo Indio da Costa e a nova sede do CENPES da Petrobrás na Ilha do Fundão de autoria do Siegbert Zanettini. Concluindo, sugiro uma avaliação dos trabalhos que concorreram à Premiação Anual do IAB-RJ em 2007-2008-2009, onde certamente haverá algum exemplo relevante que mereça ser selecionado. Por ora é só.

Grande beijo,
Janot"

4 comentários:

  1. Talvez Nova Iguaçu.
    Programa Praça-Escola premiado 2 lugar na Bienal de SP.
    Galeria Progeto de Pedro Rivera.
    Vou enviar duas casas que fiz com Patricia Fendt.
    Cidade da música? Um dia quem sabe...

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  2. Os quiosques da orla de Copacabana do Índio da Costa datam de quando ?
    E o projeto de retrofit do edifício Serrador ? E o Hotel Fasano ?

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  3. Desculpe, nao havia visto as regras, costumo comentar os posts de tras pra frente, e por isso sugeri a residencia de Angelo Bucci (que nao esta no estado do Rio).

    Em primeirissimo (e nem precisava dizer), o Sarah-Rio. Apoio tambem a candidatura da Escola SESC Barra, do Indio, e as Praças-Escola de Nova Iguaçu.

    Da arquiteta Carla Juaçaba, duas casas belíssimas: a casa-varanda de 2007 e a casa mínima de 2008.

    Tem ainda a casa do Bucci em Santa Teresa, terminada em 2008.

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