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Olimpíadas / Não leio os jornais do Rio. Perco alguns filmes, custo a descobrir um ou outro restaurante novo. Mas pelo menos resisto, como posso, ao assédio da Globo, e não me entrego ao saudosismo diante do finado Jornal do Brasil. Além disso, gosto da idéia de ver a minha cidade por meio de outras, sobretudo quando a outra é São Paulo. Só que a distribuição dos jornais paulistas por aqui é tão ruim que muitas vezes só os leio no dia seguinte. Foi assim que fiquei sabendo, hoje cedo, que o "Rio ganhará centro olímpico mesmo sem Olimpíada" (Folha de São Paulo, caderno Esporte, p. 5). A matéria tem um tom denunciatório: “O novo complexo será construído em cima do antigo autódromo de Jacarepaguá. Mesmo local que já abriga três instalações construídas para o Pan e pouco usadas para desenvolver o esporte desde então.” Segundo o jornal, caso o Rio vença a disputa com Tóquio, Madrid e Chicago e venha a sediar as Olimpíadas de 2016, sequer o Parque Aquático Maria Lenk, “que custou R$ 75 milhões aos cofres públicos”, será aproveitado. Leio a matéria até o final, mas fico sem resposta para o que mais me interessa: quem vai projetar (ou está projetando) o centro olímpico? Gostaria de pensar que o prefeito recém-empossado terá a decência e a coragem de lançar um concurso público de projetos, o qual será conduzido de maneira exemplar pelo Instituto de Arquitetos local. Mas ninguém que tenha confiado a Secretaria de Urbanismo de uma cidade como o Rio ao engenheiro Sergio Dias (cujo currículo inclui o projeto da Vila Olímpica do Pan, aliás), poderá me fazer crer que os problemas arquitetônicos e urbanísticos desta cidade serão levados a sério. Pelo jeito, não só não haverá concurso (mais uma vez) como já temos um arquiteto escolhido, pelo menos para as novas arenas que devem começar a ser erguidas no meio do ano. Seria Carlos Porto, que assinou o projeto do “Engenhão”, também construído para o Pan? Ou Anibal Coutinho, que já investiu tanto no estudo das arenas esportivas? Ou quem sabe a própria equipe de Sergio Dias? “O valor e os detalhes do projeto serão divulgados no dia 13”, diz a Folha, "um dia após o Rio entregar seu dossiê de candidatura ao Comitê Olímpico Internacional." OK, esperarei até lá. Mas porque tanto sigilo? Será que a divulgação de um bom projeto (e/ou de um bom arquiteto) contaria contra a candidatura carioca? Erraram os japoneses, que se apressaram em declarar que pelo menos um de seus novos estádios deverá ser projetado por Tadao Ando?

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