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Mapas / Passando por uma banca de jornal estes dias, deparei com mais um número da série “Arquiteturas do Mundo”, distribuída no Brasil pela revista “Arquitetura & Construção”. Tenho visto com prazer esses vídeos, em que arquitetos renomados, quase sempre franceses, apresentam cidades emblemáticas de várias partes do mundo: Nova York, Paris, Londres, Dubai, Xangai, Veneza, Brasília...Rio.

O roteiro, muito simples, propõe basicamente uma visita guiada pela cidade, procurando captar o olhar do arquiteto-anfitrião sobre a mesma: seus edifícios preferidos, suas referências pessoais, os aspectos que considera positivos e negativos. Entre um travelling e outro, a câmera se detém um instante diante de um papel em branco, sobre o qual vemos a mão desse arquiteto traçando o mapa da cidade. Nesse momento, não raro me imagino desenhando o Rio. Mas como traduzir graficamente (e planimetricamente) esta cidade, se ela não tem a retícula homogênea de Manhattan nem as diagonais de Barcelona a defini-la? Por onde começar meu desenho? Pelo chamado “centro histórico”? E onde localizá-lo? Urca, onde a cidade de fato nasceu, ou Praça XV, em torno da qual se constituiu o núcleo urbano colonial? Não, sendo a natureza aqui presente como é, sinto que devo começar por aí: mas nesse caso devo delinear primeiro a linha recortada da costa, ou os dois grandes maciços que efetivamente dividem a cidade em zonas norte e sul? Não posso é deixar de registrar a curva generosa da Baía de Guanabara - a “boca banguela” de Lévi-Strauss, com sua dentina agora careada por ilhas de lama e lixo.

Logo me dou conta de que sou incapaz de desenhar a minha cidade. E mais: que ela não se entrega a nenhuma folha de papel. Grandes cidades como Roma, Paris ou Londres cabem no meu bolso. O Rio, não. Eu, pelo menos, nunca vi um mapa turístico desta cidade que indicasse qualquer vida além da estreita faixa que vai do centro à zona sul. É como se Santa Cruz, Madureira ou Grajaú simplesmente não existissem. E isso para não falar nas favelas: essas, nem o GPS acusa, para desgraça de turistas estrangeiros que se põem a dirigir aqui, por ignorância ou insanidade.

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