Posto 2 / fev 09












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É preciso que se diga: o Rio está em ruínas. Não me refiro às ocupações irregulares que cobrem as encostas e avançam pela Mata Atlântica, ao violento processo de desindustrialização que flagela os subúrbios, nem ao completo estado de abandono em que se encontram as ruas ou praças desta cidade (aliás, com exceção do programa “Rio Cidade”, implantado - com erros e acertos - por nosso prefeito-arquiteto Luiz Paulo Conde no começo dos anos 90, não consigo me lembrar de outra iniciativa abrangente que tenha olhado para o chão da cidade).

Mas a verdade é que desde que o Rio perdeu a condição de capital federal para Brasília, os investimentos foram escasseando, as indústrias migrando, e as pranchetas foram ficando vazias de bons projetos. Alguns já chegam a admitir que o conjunto de obras mais importante desde então foi realizado pelo udenista Carlos Lacerda, primeiro governador do Estado da Guanabara (1961-65): o Parque do Flamengo, o Túnel Rebouças, a adutora do Guandu...

Hoje, para onde quer que se olhe, o que se vê é abandono. Todos os edifícios de Jorge Moreira e equipe na Ilha do Fundão foram tragados pelo desamparo contra o qual lutam as universidades federais. Um dos edifícios mais espetaculares do pós-segunda guerra - o Pavilhão de São Cristóvão, projeto de Sergio Bernardes, não voltou a ganhar cobertura desde que os cabos de aço que a mantinham em suspenso perderam a tração e foram consumidos pelo descaso e pelo fogo (ao qual veio se somar agora a insensível ocupação de seu interior). E o edifício-sede do Jornal do Brasil, de Henrique Mindlin e equipe, foi destruído pelo vandalismo (conforme reportado recentemente por Roberto Segre, que de quando em quando deve se perguntar se não está mesmo em Cuba, afinal).

Como se isso não bastasse, perdemos nos últimos anos pelo menos duas das melhores casas de Niemeyer (uma em Botafogo, outra na Fonte da Saudade). Sem que muitos se dessem conta, foi abaixo recentemente uma escola exemplar de Índio da Costa (cuja demolição foi registrada por Otavio Leonidio), e também na Barra vai sumindo lentamente o belo campanário da Union Church, que parecia estar lá a nos lembrar da qualidade que já teve a arquitetura de Paulo Casé. Até a
arquitetura bancária carioca, que daria um bom objeto de estudo, teve algumas de suas melhores agências descaracterizadas nos últimos anos: a agência do Banco Boavista de Pontual Associados, que chamava atenção por suas cores vibrantes e instalações aparentes, tornou-se irreconhecível sob a indefensável pintura rósea que hoje recobre também quase todas as unidades do Itaú, raros exemplares da escola paulista por aqui (como se não bastasse a “atualização” da identidade visual do banco, que jogou por terra o design de Alexandre Wollner).

Tudo isso dói. Mas o pior é que cada vez mais vejo, no estado de abandono destes edifícios, a atual condição do meio de arquitetura local.

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