Posto 04 / 14

1
Para não esquecer /

Vista aérea: a água e o cerrado invadiram a construção (Foto: Google / Divulgação)

Uma grande quantidade de matérias jornalísticas, textos, debates e exposições marca os 50 anos do golpe militar no Brasil. Os relatos cada vez mais chocantes do terror instalado no país a partir de março de 1964 somam-se a um esforço de mapeamento  da produção cultural do período e dos impactos da repressão na área do cinema, literatura, artes, música, educação. Sobre arquitetura, porém, pouco se fala. O que, por si só, já é bastante significativo. Até porque não podemos esquecer que em 1964 a arquitetura brasileira havia apenas conferido ao país seu registro de identidade, com a inauguração de Brasília. E a partir daí entraria num longo afastamento do debate teórico internacional, do qual até hoje nos ressentimos.
Ganha interesse ainda maior, por isso, o documentário sobre Sergio Bernardes (Gustavo Gama e Paulo Barros , 91 min, 2013), um dos 7 filmes que estão na competição brasileira de longas e médias-metragens do Festival "É Tudo Verdade", que começa amanhã no Rio (em duas sessões abertas para o público, no  Espaço Itaú de Cinema Botafogo: terça, dia 08, às, 21hs, e quarta, dia 09, às 15hs). 
O filme mostra não só a trajetória profissional de sucesso e a veia almodovariana de Bernardes, que muitos já conhecem, mas também os aspectos dolorosos da biografia e o lado trágico de um dos maiores nomes da arquitetura brasileira, cuja rica produção acabou sendo vítima da sua ambição, e sobretudo da sua opção por fazer arquitetura para o regime militar em plenos anos 70.
Uma opção que custou caro ao arquiteto e à arquitetura brasileira. Não só porque sua obra caiu numa espécie de limbo dentro da história da arquitetura brasileira e se tornou algo estranho - ora tabu, ora mito - nunca propriamente explicitado mas com o qual ainda hoje temos dificuldade de lidar, e que recoloca uma série de questões que pareciam superadas, como o papel social da arquitetura e a relação entre arquitetura e poder. 
Mas também porque foi a proximidade com os militares que desencadeou a falência do escritório de Sergio Bernardes - na época, um dos maiores escritórios de arquitetura do país -, em função de dívidas contraídas como capital de giro de projetos caros que acabaram cancelados. Como o projeto da Escola Superior de Guerra, em Brasília, encomendado pelo presidente Médici no auge do "Milagre" e cancelado com a obra já avançada, que resta hoje como uma ruína condenada ao esquecimento à beira do Lago Paranoá, a demandar nossa reflexão (ver aqui: http://vejabrasil.abril.com.br/brasilia/materia/os-segredos-dos-escombros-1403)

Nenhum comentário:

Postar um comentário