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Maraca /
"Mas o Maracanã não é o estádio mais importante do Brasil"? Ele me olha incrédulo, na mesa do simpático "El Rincón", onde sentamos para tomar um vinho depois da minha apresentação em Buenos Aires. Para alguém que não está seguindo de perto o acelerado processo de transformação pelo qual o Rio está passando, custa a crer que o Maracanã - sim, o estádio mais importante do Brasil, e também o único tombado a nível federal - esteja sendo completamente desfigurado, segundo um projeto que ninguém sabe bem como é, nem quanto vai custar.


E se a Copa fosse na Argentina, será que alguém ousaria "modernizar" o La Bombonera (foto), o inacreditável estádio/caixa de bombons do Boca Juniors - por mais que suas arquibancadas, empilhadas verticalmente, sejam obviamente inadequadas para os padrões atuais da Fifa, e ele esteja visivelmente apertado ali, "como um peru num pires"? Ou será que sua imperfeição seria ainda considerada o ponto culminante das atrações daquela região já bem folclórica e cheia de souvernirs mas ainda carregada das imprecisões e qualidades que fazem do bairro portuário de La Boca o reverso do ambiente fashion de Puerto Madero? Penso nisso no avião de volta pro Rio, enquanto acompanho Beatriz Sarlo em seu trânsito por Buenos Aires, sobre o fundo das transformações culturais e urbanas que marcaram a Argentina nos últimos anos ("La Ciudad vista, mercancias y cultura urbana", 2009).


E quando chego em casa encontro uma petição pública exigindo transparência nas obras do Maracanã. É que o movimento "MeuRio" está colhendo assinaturas para cobrar do poder público a divulgação de vários documentos relativos à obra, entre eles os projetos básico e executivo, o estudo de impacto da vizinhança, laudos técnicos e alternativas para a derrubada da marquise. A idéia é entregar a petição, com pelo menos 2000 assinaturas, nas mãos do governador durante o SoccerEx, megaevento de negócios de futebol que acontece no Rio agora em novembro.


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O assunto também está em pauta no jornal "O Dia" de hoje. "Quem passa por ali fica até com medo de olhar direito: praticamente não sobrou pedra sobre pedra e poucos têm idéia do que vai surgir ali." diz o economista André Urani. Ficções de Borges?

3 comentários:

  1. se eu não me engano e aí vc pode confirmar, eh uma das maiores angulações de uma arquibancada de um estádio. Mas pergunta aí se eles não gostariam de uma cobertura nos dias de chuva. Quanto a Sra Fifa ter terminado com o torcedor que ficava assistindo aos jogos de pé no estádio, isso faz parte do processo de domesticação das massas, muito comum e vigente , quem sabe até a base da maioria do pensamento arquitetônico.

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  2. Em setembro, no Concrete Show (evento da construção civil realizado em SP), assisti a uma excelente palestra do Eng. Enio Pazini Figueiredo, responsável pela avaliação das estruturas de concreto do Maracanã, e respeitável profissional no assunto. Sugiro seu envolvimento no debate.

    Ao exemplo da Bombonera, contrapõe-se o exemplo de Wembley, o "templo do futebol" segundo Pelé, construído em 1923 e demolido em 2003 para dar lugar ao moderno Wembley, de Norman Foster.

    Sou suspeito para falar, pois embora não seja o maior dos fãs do futebol, amo como poucos torcedores fanáticos a sua marquise; não conheço estrutura mais emocionante do que aquele céu de concreto ecoando sobre a multidão torcedora. No entanto, acredito que as coisas tem seu tempo, e que é possível (e talvez modernizá-las) buscando preservar sua poesia. Daí é a qualidade do projeto que fará a diferença.

    (Me permito uma opinião: Prefiro uma cobertura de lona do que um remendo transparente prolongando a marquise existente, como era a primeira proposta de readequação.)

    De novo: sugiro a chamada do Eng. Enio Figueiredo para palestra sobre o tema no Rio de Janeiro.

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  3. Ainda: a demolição da marquise ofusca o que me parece ainda pior no projeto: a adição de 4 rampas absolutamente inexpressivas (=rampas de estacionamento), logo ao lado da majestosa Bellini.

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