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João / João Gilberto está sendo despejado do apartamento onde mora há 15 anos, no Leblon. A proprietária - uma condessa que vive em Paris e é uma das herdeiras da Fiat - tem todo o direito legal de fazê-lo, mas dado o perfil do inquilino, e a explosão do mercado imobiliário por aqui em função das Olimpíadas etc, será que isso é mesmo tudo?

Não estou sugerindo que, por ser quem é, João Gilberto esteja acima da lei. Tampouco posso acreditar que um músico como ele não tenha condições de alugar outro apartamento, ou ter um apartamento próprio. De todo modo, é claro que, felizmente, ele jamais será um desabrigado como tantos outros que vivem, ou sobrevivem, pelas ruas da cidade.
A questão é que o caso expõe, de modo agudo e alarmante, a pressão imobiliária que tem forçado muitos outros Joãos a sair de casa de uma hora para outra. E faz pensar no papel que a cidade tem também para com seus habitantes mais ilustres.

Em todo caso, se eu fosse a condessa, eu dormiria todo dia sorrindo só por dar abrigo ao João Gilberto. E se eu fosse o prefeito desta cidade, eu cuidaria dele como de um bem público, e faria de tudo para que nada, nada mesmo, lhe roubasse o sono, a música e o gosto de viver aqui.

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