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Ato de bravura / Como é que eu posso trabalhar neste calor? Passo pelo Arpoador e a praia está cheia a qualquer hora do dia (e agora, pelo que me dizem, também da noite). Gente sem remorso. Vocês também conspiram contra o meu pensamento. Estou quase chegando a dar razão a uma aluna que me disse que não vai à biblioteca porque já chega lá suando. Ainda assim abro um livro, e eis que nele encontro esta deliciosa definição de "heroísmo carioca":


"Talvez em nenhuma outra metrópole do mundo seja tão árdua como aqui a condição humana de labor cotidiano. Para atender às suas contingências, temos de afrontar os alvitres da ociosidade, os apelos para o gozo pagão da existência, livre de fadigas e deveres, que todos os dias se renovam, insidiosos, perturbadores, no cenário paradisíaco da nossa vida. O que para a gente de outras capitais constitui apenas a obediência a uma rotina, para o carioca chega a ser um verdadeiro ato de bravura."

Genolino Amado, "Apesar de tudo, trabalha-se" (1946). In: Bandeira, Manuel e Andrade, Carlos Drummond de (orgs). O Rio de Janeiro em Prosa & Verso.

Um comentário:

  1. Vasculho os "escombros" e "superficies " da web em busca de blogs que sejam relevantes. Achei o seu . Parabéns.Continue nos presenteando com suas atualizações.

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