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Salve geral / Esta eu recebi do arquiteto Carlos Porto. Se alguém não sabe, Cesar Maia é o antecessor de Eduardo Paes na Prefeitura. E São Sebastião, o padroeiro do Rio - salve ele!

"Carta aberta à diretoria da Eletrobrás
Srs. Presidente José Antonio Muniz Lopes, Diretor de Administração Miguel Colasuonno, Diretor de Distribuição Flávio Decat de Moura, Diretor de Planejamento e Engenharia Valter Luiz Cardeal de Souza, Diretor de Tecnologia Ubirajara Rocha Meira, Diretor Financeiro e de Relações com Investidores Astrogildo Fraguglia Quental.

1. O Centro Histórico do Rio é patrimônio histórico do Brasil. Para preservá-lo, 30 anos atrás, foi aprovada a legislação do Corredor Cultural, preservando a memória histórico-cultural do Rio. Durante 10 anos essa legislação foi detalhada em relação a seu alcance.

2. No último dia do ano passado, a Prefeitura do Rio fez aprovar uma lei estuprando o Corredor Cultural e abrindo um precedente de extrema gravidade. Inacreditavelmente, é uma empresa estatal da tradição da Eletrobrás, patrimônio de nosso Povo, que se associa a um monstro urbano como esse. E ainda mantém silêncio quando a prefeitura diz que aprovou esta lei debaixo de chantagem: "Se não fosse assim a Eletrobrás sairia do Rio".

3. Todos sabem que isso não é verdade e que os senhores não se prestariam a tal papel. Portanto, por trás, há interesse privado menor, envolvendo construtora e abrindo aquele espaço urbano sagrado para a saga dos especuladores imobiliários.

4. Os senhores sabem que o número de funcionários da Eletrobrás no Rio não requer um prédio de 44 andares e, portanto, os negócios privados estão incorporados a tal decisão. E sabem que as alternativas de localização no Centro do Rio são diversas: Terreno da RFF ao lado da nova linha do Metrô e da Avenida Presidente Vargas; Cidade Nova (Fundo de Pensão da Prefeitura tem terrenos lá, Telemar tem um prédio inacabado); os imóveis da área portuária são em grande medida federais; há prédios no Centro do Rio, federais e abandonados, que submetidos a um retrofit, estariam perfeitamente capacitados, etc.

5. Um prédio desse porte não se construirá em menos de 3 anos. As ações judiciais, de diferentes focos, em defesa do patrimônio urbano do Rio e do Brasil e contra a Eletrobrás, já começaram a ser preparadas. O impasse judicial será inevitável e os atrasos recorrentes criarão um custo financeiro para a Eletrobrás.

6. Esta Carta Aberta tem a finalidade de registrar as responsabilidades neste dia, para que no futuro ninguém possa alegar desconhecimento. Neste, ou no próximo governo federal, essas responsabilidades serão cobradas. E não será dos que estão por trás do negócio, mas diretamente dos senhores que compõem a diretoria e aportarão as respectivas assinaturas.

7. O Rio espera que a consciência dos senhores impeça tamanha barbaridade. Há tempo, pois a compra não foi concretizada, ainda.

8. Recebam esta Carta Aberta como uma Notificação Extra-Judicial, pois será a base das responsabilizações futuras.

Cesar Maia - em 20 de janeiro de 2010. Dia de São Sebastião do Rio de Janeiro."

2 comentários:

  1. Roberto Anderson Magalhães20/1/10 23:25

    Em sua coluna no jornal O Globo, Elio Gaspari afirma que o espigão da Eletrobras ajuda a Lapa. Seu argumento é que prédios altos são revitalizadores. Ora, a revitalização da Lapa já é um fato e ela decorre da ação de centenas de artistas, de empreendedores e de alguns agentes públicos que redescobriram os encantos de um lugar quase destruído exatamente por um tipo de urbanismo que defendia torres, largas avenidas e uma duvidosa modernidade. Isto hoje, felizmente, é contestado. A Avenida Chile, com suas torres estéreis, é citada pelo colunista como um mau exemplo a ser evitado. Ocorre que a proposta de espetar um espigão na Lapa baseia-se exatamente no modelo daquela avenida. Além do mais, não se pode esquecer que a mudança na legislação do Corredor Cultural foi feita sem audiências públicas, contrariando o Plano Diretor. E que o espigão da Eletrobras estará no meio da perspectiva dos Arcos, deformando para sempre esse cartão postal. Concluo, assim, que o colunista entende muito de política, mas muito pouco de urbanismo e de Rio de Janeiro. Espigões podem ser bons na Avenida Paulista, mas na Lapa não!

    Roberto Anderson Magalhães

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  2. Olá, Ana,
    para minha vergonha, só hoje descobri seu blog, mas compensei passando um bom tempo lendo os arquivos anteriores, adorei.
    Eu me formei em arquitetura na UFRJ, na turma da Flávia Britto Nascimento, que você conhece, depois fiz mestrado no PROURB, sob orientação da Rachel Coutinho. Trabalhei com o João Calafate na Santa Úrsula, dando aula de História da Cidade e Projeto Urbano entre 2005 e 2008, e agora estou na Escola de Design da Veiga de Almeida. Também através do Calafate, me aproximei da PUC, onde gostaria de fazer o doutorado, quem sabe eu tento a seleção no final deste ano. Para isso, já andei fazendo uma disciplina por lá no segundo semestre do ano passado, com a Maísa, e estou começando a escrever um rascunho de projeto de tese. Desde o ano passado, montei também um blog, o Urbanamente, onde tento aproximar os temas urbanos e as reflexões sobre a cidade dos leitores comuns, ampliando o debate para além do círculo de arquitetos e urbanistas. Tem sido muito profícuo e positivo. No último post, falando sobre o projeto de reforma da Zona Portuária, citei um artigo seu e linkei o seu blog. Espero que você não se oponha. Com certeza, aparecerei por aqui mais vezes.
    Grande abraço,
    Ana Paula

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