Posto 6 / jun 09






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Querem acabar com ela / Junto com a reinvenção dos projetos de revitalização da zona portuária, volta à baila a proposta de demolir a Perimetral (Avenida Presidente Kubitschek), no centro da cidade. O viaduto de cerca de 6 km de extensão, cuja construção foi iniciada heroicamente, em paralelo à construção de Brasília, passou a ser visto, nos últimos anos, como um dos maiores responsáveis pela degradação da frente marítima carioca e já foi objeto de várias propostas de intervenção. Há fortes razões para considerá-lo um fardo a ser eliminado, uma vez que sua construção apartou ainda mais a cidade da água e vitimou parte expressiva da memória carioca, como o Mercado Municipal (do qual hoje só resta o torreão solitário e meio decadente do Albamar). Mas por outro lado, a Perimetral comporta atualmente um fluxo diário de veículos cujo escoamento, na sua ausência, exigirá obras colossais, extremamente penosas e custosas para a cidade.

A Perimetral segue o modelo dos corredores viários elevados construídos no pós-guerra em grandes centros urbanos do mundo todo, visando a criação de alternativas para o crescente tráfego motorizado e particular. Dentro desse modelo, os exemplares mais emblemáticos são, provavelmente, as “expressways” erguidas por Robert Moses em Nova York, que devastaram comunidades inteiras da cidade, nos anos 50, e só foram freadas graças à mobilização comunitária encabeçada por Jane Jacobs na década seguinte.

No caso em questão, no entanto, é preciso levar em conta que, depois da criação do “mergulhão” da Praça XV, na década de 90, uma vida floresceu bem ali, ao abrigo do viaduto, da qual dá testemunho a fervilhante feira de artigos usados onde aos sábados ainda se pode comprar um disco de vinil a dois Reais, um ex-celular a três ou uma máquina de escrever a trinta. E não deixa de ser curioso que as precárias barracas se concentrem exatamente ao longo dos apoios do viaduto, e não, como gostariam muitos bem-intencionados arquitetos, na praça adjacente, que aos sábados resta deserta. Fica evidente que existe uma forte identificação entre o caráter meio marginal da feira e o espaço meio abandonado sob o viaduto, ambos tão próximos de espaços urbanos centrais e ao mesmo tempo tão apartados da cidade à sua volta.

Além do mais, é inegável que, se a Perimetral bloqueou a vista de alguns monumentos notáveis – vários deles tombados, como o chafariz do Mestre Valentim e o Paço Imperial -, ela também acabou presenteando o Rio com novas perspectivas urbanas. E essa "surpreendente dádiva", salvo engano, quem primeiro percebeu foi Lucio Costa.

3 comentários:

  1. seu blog está excelente! veja meu post osbre a perimetral:
    http://coluna.blogspot.com/2009/05/green-perimetral.html
    abraços
    washington fajardo

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  2. Olá sou arquiteto e sktista. E um ponto muito importante também é que depois da reforma da praça XV ela passou tb a ser o maior expoente do skteboard street do Rio. Porém ninguém se dá conta disso, porque assim como a feira, o skate é praticado na praça durante os finais de semana. Chamados por mim de dias de contra fluxo.

    Dia 21 de junho haverá uma manifestação dos skatistas pela praça, caso se interesse...

    http://www.fotolog.com.br/avuatauba

    prarabéns pelo BLOG!!

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  3. Julio Sartori23/6/09 09:09

    A cada dia percebe-se o caos que a cidade do Rio de Janeiro está ficando em relação ao trânsito, então demolir a Perimetral é um fato muito inoportuno para o momento. Como sabem a Perimetral faz a ligação entre zona sul (pra quem vem do aterro) e centro até a ponte Presidente Costa e Silva e Av. Brasil.
    Se quando nela a noite esta trânsito e na Rodrigues Alves a mesma coisa, imagina se demolissem a Perimetral.
    E aproveitando a oportunidade, a Perimetral não se encontra numa boa forma estrutural, é só parar para ver. Armadura de aço aparecente, várias infiltrações...vai ver que estão querendo se livrar logo de uma vez dela!!!

    E o Guggenheim do Jean Nouvel, será que não iria ser um bom inicio de revitalização da zona portuária ???

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