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Despedida / O roteiro é enxuto: o taxista pega o carro, a câmera, e atravessa o viaduto em velocidade média e constante, indicando os edifícios e marcos urbanos que em sua perspectiva aérea e luminosa vai deixando pra trás, sobre o pano de fundo das transformações em curso na cidade, pelas quais não mostra nenhum entusiasmo.
 
O registro é amador e não dura mais que 6 minutos e meio. E além da voz em off do motorista - cuja identidade se mostra apenas por meio de seu registro profissional, levemente humanizado pela foto 3x4  de alguém que pode ser sua filha, mulher ou namorada - só o que se ouve é a batida seca do atrito das rodas sobre as juntas de dilatação do viaduto, que quem cruzou a Perimetral alguma vez há de reconhecer.
 
É quase um Banham às avessas, que registra em tom grave sua própria despedida de uma via expressa - "sem sinais" e "muito bonita" -, parte da cidade em vias de dar lugar a uma "modernidade" que  aparentemente se anuncia, mais uma vez. Uma despedida solitária e íntima, que encontro por acaso no espaço público da rede, dias depois do fechamento definitivo da Perimetral.

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