Posto 6 / jun 12

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Postes / Lota de Macedo Soares lutou para dotar o Parque do Flamengo de uma luz digna do projeto urbanístico de Affonso Eduardo Reidy e do paisagismo de Burle Marx. A luz enluarada que causou tanta polêmica ao ser implantada, na década de 1960, é obra do arquiteto americano Richard Kelly – autor de projetos de iluminação de obras como a Glass House, de Phillip Johnson, o Seagram Building, de Mies van der Rohe, e o Lincoln Center, de Wallace Harrison, em Nova York. Kelly foi indicado pelo próprio Phillip Johnson, a quem Reidy escreveu pedindo uma sugestão.


O que Caetano Veloso viu como um “frio palmeiral de concreto”, e Lucio Costa como “lanças num quadro de batalha de Paolo Ucello”, é, portanto, um projeto altamente sofisticado e inovador de luz e mobiliário urbano, visando garantir um nível de iluminância adequado a um parque público à beira-mar com 6 km de extensão, e ao mesmo tempo interferir minimante na paisagem urbana então em construção, com postes extremamente delgados e elegantes, da maior altura possível, no menor número possível. Isto é, 112 postes com 45 metros, no lugar dos 1800 postes convencionais previstos inicialmente.


É claro que isso envolveu uma solução dispendiosa, já que os postes desenhados por Kelly tiveram que ser fabricados especialmente, as lâmpadas de vapor de mercúrio foram importadas dos Estados Unidos, e até a fundação das torres exigiu um projeto especial de estrutura, num longo processo em que até o escritório do engenheiro Emilio Baumgart (um dos maiores calculistas do Brasil) foi ouvido.


O que foi feito dos postes está aí, na foto colhida do Google pelo arquiteto Rogério Cardeman: como tantos outros na cidade, os postes de Kelly são hoje considerados meros suportes para instalação de uma porção de caixinhas (câmeras, visores, caixas e medidores de luz) que vão sendo fixadas ali, de acordo com as necessidades que também vão surgindo. Isso vale para a Lagoa e Copacabana também. E supostamente, é até um avanço em relação às gambiarras que dominam os postes da orla de Ipanema-Leblon, por exemplo – e isso, só pra ficar em algumas das áreas mais valorizadas da cidade, do ponto de vista ambiental e paisagístico. Mas quem vai ligar pra poste, numa cidade tão bonita quanto o Rio?

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