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Desconexão / Podia ser Matta-Clark. Mas é o estado atual da minha cozinha, depois que pisei outro dia numa misteriosa poça d'água, junto do fogão. Sou arquiteta e moro num edifício de classe média alta num dos bairros mais valorizados desta cidade que se transforma em ritmo cada vez mais acelerado para sediar os megaeventos que vem por aí. Mas se de repente aparece uma poça d'água no chão da minha cozinha, é isto: corro desesperadamente atrás de alguém cujo nome mal sei, mas a quem dou o direito de entrar na minha casa, cheio de ferramentas toscas, e sair quebrando a minha parede diante dos meus olhos incrédulos, até encontrar, sob o azulejo, um inofensivo - aparentemente - joelho de plástico. Rachado. Então basta dar um pulo na esquina, comprar uma nova conexão, idêntica à anterior, e colar ali, numa junção de materiais e elementos díspares que francamente não pode durar muito. Depois de uns dias, se eu tiver sorte e a água não voltar a jorrar noutro ponto da casa, o bom moço volta, corta uns azulejos, aplica-os de volta na parede e fecha tudo (usando, com enorme destreza, um pedaço gasto de sandália havaiana para nivelar a superfície). E então eu não vejo mais nada, só um pequeno remendo ali a me lembrar que haverá sempre uma infiltração qualquer, em estado de latência, em algum ponto cego da casa. Agora tenho uma cozinha semi-destruída diante de mim, mas agradeço ao bom-moço, acerto as contas com ele e rezo para que isso nunca mais me aconteça. Deus do céu, quando é que a arquitetura vai acertar o passo com a tecnologia?

Um comentário:

  1. É só olhar para as calçadas e trilhas (me recuso a considerar ruas) do Rio de Janeiro, completamente esburacadas e desniveladas ( e dá-lhe carro 4x4 e ônibus com chassi de caminhão)e agora com alguns bueiros explodindo. Operação asfalto liso, mas desnivelado e calçadas esburacadas e com acabamento pra lá de tosco, essa é outra preocupação vc já observou o acabamento das obras do Pan ?

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