Posto 1 / jan 10

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Feliz Ano Novo / O ano mal começou e a Câmara dos Vereadores já aprovou, esta semana, a alteração da legislação que deu origem ao Corredor Cultural, no centro da cidade, para permitir a construção de uma torre de escritórios, com 44 pavimentos, junto aos Arcos da Lapa.

Apresso-me a dizer que não tenho nada contra as torres, e até penso, às vezes, que o Rio carece um pouco de edifícios altos. Mas não na Lapa, cuja paisagem arquitetônica mantém uma rara unidade.

Em todo caso, como ainda não disponho de informações mais precisas sobre o assunto, limito-me a transcrever aqui o alerta do arquiteto Roberto Anderson Magalhães, que recebi via IAB.

Devo dizer que não chego a lamentar - como muitos - a demolição, nos anos 70, do Palácio Monroe, pavilhão eclético instalado na Cinelândia no início do século XX.
Mas o texto contém argumentos a serem ouvidos:

"A licença para a construção da torre Cândido Mendes em pleno pátio do Convento do Carmo, na Praça XV, constituiu, no início da década de 1980, um terrível crime contra o Patrimônio Histórico de nossa cidade. Tal fato se seguiu à também traumática demolição do Palácio Monroe. A enorme indignação suscitada por tais fatos levou o IPHAN a criar uma área de proteção da arquitetura remanescente da Praça XV e gerou o clima favorável à aprovação da Lei do Corredor Cultural. Este último transformou-se numa das iniciativas mais bem sucedidas de proteção de nossa história urbana, tendo preservado centenas de sobrados na Praça XV, no Saara e na Lapa. A aprovação desta Lei na Câmara de Vereadores foi um belo momento de sintonia entre o interesse dos habitantes da cidade e a ação dos seus representantes e dirigentes.

No entanto, sem que o distinto público fosse chamado a opinar, a atual legislatura acaba de aprovar um projeto do executivo que, pela primeira vez, altera a Lei do Corredor Cultural. Esta previa para a Rua dos Arcos, na Lapa, uma altura máxima correspondente a seis pavimentos. Mas a alteração aprovada irá permitir a construção de um espigão da Eletrobrás no eixo de visada dos Arcos da Lapa. São diversos os interesses envolvidos. A empresa estatal passa uma mensagem de que se o projeto não fosse aprovado iria deixar a cidade. O instituto de previdência dono dos terrenos quer ver suas possibilidades de lucro maximizadas. As dívidas contraídas pelos gestores culturais ali presentes poderão ser redimidas pelo projeto. E os representantes da nova geração de administradores públicos adeptos da gestão de cunho empresarial se lixam para o dano à imagem da Lapa.

Naquela região, prédios altos só existem na Av. Chile, à direita dos Arcos, de quem os vê do Largo da Lapa. A torre proposta pela Eletrobrás poderá trazer para o meio da visão dos Arcos da Lapa um imenso elemento vertical, de 133 metros, com 44 pavimentos, que interferirá muitíssimo naquela paisagem. É impensável que algum órgão de proteção ao patrimônio tenha aprovado tal coisa. Na ocasião da construção da torre Cândido Mendes e da demolição do Palácio Monroe, o Instituto de Arquitetos – IAB foi muito ativo na luta pela preservação de nossa cidade. Seria muito desejável que novamente ele voltasse a defender esta causa tão ameaçada."

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