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Berlim / Passei a semana inteira comemorando os 20 anos da queda do Muro de Berlim. Não consegui pensar noutra coisa. Cidades como Londres, Nova York, Paris, São Paulo e Rio são singulares e excitantes. Mas nenhuma é mais fascinante, para mim, do que Berlim. E fascinante porque inconcebível. Como pode uma cidade sobreviver a tanto?

Acompanhando a celebração ao vivo pela DW-TV, cheguei a me emocionar em vários momentos - sobretudo quando vi a chanceler Angela Merkel, acompanhada de Lech Walesa e Mikhail Gorbachev, atravessando a ponte de Bornholmerstrasse envolvida por uma multidão de anônimos que pareciam saídos de um filme de Fassbinder. Só dias depois, quando comecei a me perguntar pelo lado B dessa festa, lembrei-me dos Wagenburg.

Formados no contexto da queda do Muro e da Reunificação da Alemanha, essas "aldeias moventes", semelhantes a acampamentos precários, se multiplicaram por Berlim nos últimos 20 anos, ocupando áreas vazias e degradadas da cidade numa resistência pacífica contra as convenções sociais e a voracidade do capital financeiro que domina desde então as operações urbanas da atual capital da Alemanha. Hoje eles somam 12 Wagenburg, que guardam muito do espírito libertário das comunidades hippies dos anos 60 e destoam por completo do espetáculo arquitetônico em que Berlim se transformou. Há mais de 300 pessoas - entre adultos e crianças - morando nos Wagenburg berlinenses. A comunidade mais conhecida e atuante é a que ocupa uma área junto a uma fábrica desativada às margens do Schwarzer Kanal. Os moradores instalaram seus trailers e caminhonetes aí depois de terem sido despejados de uma outra área, e no mês passado receberam um ultimato para deixar o terreno hoje ocupado, que é propriedade de uma construtora. Negaram-se a fazê-lo, e agora preparam-se para uma evacuação forçada pela polícia, a qualquer momento.

"Wir haben ganz schlechte Laune". Nós estamos muito mal-humorados, exclamam os moradores do Schwarzer Kanal, em sua espantosa doçura.

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