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MIS.3 / Como não fui convidada a assistir as apresentações dos projetos para o novo MIS, só o que conheço até agora, além do relato do Vitor, são as matérias que saíram ontem na Folha e n’O Globo. Uma perspectiva de cada projeto, portanto, e nada mais. É claro que isso não é suficiente para avaliar um projeto de arquitetura, ainda mais quando se trata de um programa complexo como o de um museu, e de uma paisagem extraordinária como a da Av Atlântica. Mas como tenho recebido vários emails sobre o assunto, quero deixar claro que a minha primeira impressão também não é das melhores. Dentre os sete concorrentes, alguns têm grande prestígio internacional por projetos como o High Line, em Nova York (Diller & Scofidio, com James Corner), e a extensão do Museu Judaico de Berlim (Daniel Libeskind). Nenhuma das propostas apresentadas para o Rio, porém, parece estar à altura do seu próprio currículo. Pelas perspectivas apresentadas, é de se desconfiar mesmo que em alguns casos sequer o concurso tenha sido levado muito a sério. Pelo que foi divulgado até agora, pelo menos, não vejo porque qualquer uma das propostas mereceria tornar-se o mais novo “ícone arquitetônico do Rio, com projeção mundial”, conforme anunciado orgulhosamente ontem na primeira página do jornal O Globo. Um paralelepípedo inclinado...uma esfera metálica ligando o museu ao edifício vizinho...uma homenagem a Burle Marx...E o que dizer quando um arquiteto começa um projeto por um biquini? Seria ironia? Ou escárnio?
Desconheço (como todos) os critérios do júri, o programa arquitetônico e o histórico do processo que conduziu a esta etapa do concurso. Mas será que o resultado poderia ser diferente num concurso conduzido tal como este: cercado de silêncio e sem nenhuma transparência (embora envolva um investimento público da ordem de pelo menos R$ 13 milhões, relativos à desapropriação do terreno), com equipes que surgiram apenas na segunda etapa, e um júri (aparentemente formado por nada menos que 11 membros) cuja composição é, sob diversos aspectos, tão questionável?

Um comentário:

  1. Ana,
    concordo com você quando diz que, aparentemente, os arquitetos estrangeiros, principalmente, não tenham 'levado muito a sério' o concurso.

    Isso fica claro no projeto do Libeskind, que parece uma brincadeira boba de formas na fachada do edifício, enquanto quando se vê as plantas, percebe-se que não faria diferença se ele fosse um paralelepípedo, pois poderia ter a mesma organização espacial no interior. Não tive oportunidade de conhecer o Museu Judaico do Libeskind pessoalmente, mas pelo que já me falaram, as sensações que o arquiteto pretendia passar não são exatamente as que as pessoas sentem ao passar pelos espaços.

    Quanto ao projeto do Shigeru Ban a história não é muito diferente. Ele propôs usar como fechamento da estrutura convencional em concreto do edifício, uma grande cúpula formada por uma trama de madeira, que ele usou recentemente no novo Pompidou em Metz, mas de uma forma bem diferente.

    O casal Elisabeth Diller e Ricardo Scofidio foram os que mais impressionaram pela apresentação e os últimos que aceitaram o convite de entrar para o concurso. Não participaram da primeira fase que, segundo rumores, não deu certo, e fizeram sua proposta em duas semanas. Terminaram a apresentação em clima de 'já ganhou' —que, pessoalmente, espero que não se confirme—, principalmente pela qualidade da sua apresentação e da sua retórica. Tiveram até que ouvir de um dos membros do júri a frase "Me desculpem por quebrar o protocolo, mas tenho que dizer que esse é um projeto pra ser assistido de joelhos", que deixou Elisabeth claramente ruborizada.
    Devo dizer que, no entanto, eles não disseram ter se inspirado nas formas desenhadas nas calçadas da Avenida Atlânica por Burle Marx, mas somente que —diferente do que diz O Globo— depois de terem feito o projeto constataram a semelhança das formas do edifício com algumas das formas desenhadas por Burle Marx.

    Isso foi em relação aos estrangeiros. Quanto aos brasileiros já são outras histórias, mas posso adiantar que dentre eles os cariocas Thiago Bernardes e Paulo Jacobsen se deram melhor e claramente se dedicaram mais ao projeto. Mas não sei o que se pode esperar desse júri.

    Hugo Barreto, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, prometeu ainda que tentaria disponibilizar para as escolas de Arquitetura o material apresentado em Power Point, mas que dependia da autorização dos escritórios.

    Vou começar a escrever minha percepção de todas as apresentações e divulgo aqui quando publicar no blog.

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