6
Mar Morto / Será que a positividade com que continuamos a encarar a arquitetura é realmente benéfica para a sua prática? A interrogação me levou a propor aos alunos hoje uma discussão - propositalmente desviante em relação ao nosso percurso até aqui - em torno da relação entre Richard Serra, Robert Smithson e o contexto nova-iorquino (conduzida pela Martha Telles, que acaba de concluir tese sobre o tema). À perplexidade mais ou menos generalizada diante do Hotel Palenque (palestra de Smtihson aos alunos de arquitetura da Universidade de Utah, em 1972) seguiu-se então uma animada discussão sobre a ausência de um ambiente de discussão em arquitetura hoje no Rio, que me obrigou a reconhecer o papel limitado da minha própria ação, dentro da escola, em face dos inúmeros problemas que assolam atualmente a prática carioca da arquitetura, como a falta de referências intelectuais e projetuais contemporâneas, o descolamento entre arte e arquitetura, a escassez de concursos públicos e a inexistência de um debate capaz de ganhar a esfera pública, que se traduz no assombroso silêncio profissional diante da falta de foco das operações cada vez mais midiáticas da prefeitura carioca.

A situação é quase terminal. E no entanto não encontro nenhum sinal de mal-estar capaz de abalar a auto-confiança que segue escorando a disciplina da arquitetura entre nós, por mais que ela se mostre cada dia mais isolada e desimportante. Preferimos seguir mecanicamente projetando e cultuando monumentos do que aceitar o desafio de Rem Koolhaas, para livrar-nos da eternidade historicamente associada à arquitetura e enfrentar os riscos que envolvem a sua prática hoje.

Um comentário:

  1. Oi Ana, tudo bem?

    Realmente os sinais de mal-estar que envolvem a ciência arquitetura são raramente vistos. Estou não tento esconde-los mais.

    Um aluno seu, o Camillo Folly, escreveu um texto para a matéria Ética na Arquitetura que trata desse assunto muito bem e publiquei no blog.

    Precisamos debater esse assunto.
    A situação é realmente terminal.

    Hoje tive que engolir a seco que "fazer uma planta de layout é função do decorador e não do arquiteto"
    Doeu ter que ouvir isso e ficar quieto.

    Não é difícil descrever o que acontece no mercado carioca. A decoração de interiores, que poderia trabalhar paralelamente e em favor da arquitetura, está aos poucos tomando o lugar da nossa profissão.

    Como disse o Koolhaas, nossa profissão pode estar em extinção e talvez não existir mais em 2050.

    Felipe Botelho

    ResponderExcluir