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Os corredores da FAU-UFRJ são longos, negros e escorregadios. Impedem a permanência, isolam corpos e acentuam o silêncio que ecoa por todo o edifício. Até hoje tenho medo de me perder nesse espaço com o qual não me comunico e que continua a me assombrar. Mas descobri, nos últimos dias, que uma das portas do terceiro andar abre para um oásis onde reina um misto único de sobriedade e cordialidade. Tudo aí permanece fiel à concepção projetual de Jorge Moreira e equipe, resistindo, sabe-se lá como, às demandas por atualização que quase sempre resultam na subdivisão grosseira dos ambientes e na substituição dos materiais originais por materiais supostamente mais “modernos”. Conservam-se as extensas divisórias baixas, de detalhamento e execução primorosa, que estruturam e articulam os interiores deste edifício público. Boa parte do mobiliário também é original, não há cortinas pesadas vedando o vazamento para o exterior e o piso de madeira segue brilhando depois de meio século. Os funcionários se movem com delicadeza, zelando por cada detalhe, da discreta exposição dos trabalhos de alunos ao cafezinho sempre fresco oferecido por D. Maria, cujo maior orgulho é preservar a integridade desse ambiente tão absolutamente antiornamental. Mal consigo entender como isso se mantém assim, em meio à degradação escandalosa que assola a Cidade Universitária. Mas respiro aqui o elevado ideal do projeto moderno, que se traduz, para mim, num bem-estar nunca antes experimentado nessa escola onde me formei.

Um comentário:

  1. Impressionante.
    E no quadro verde, uma votação para a escolha da cor dos estofados (?).
    g

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