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Sempre tive simpatia pelos blocos, mas passei a amaldiçoá-los nos últimos anos por me fazerem presa frequente de longos engarrafamentos, sob o sol escaldante de verão. Não é tanto o barulho que me azucrina; apenas não consigo entender porque, nestes dias de Carnaval, um grupo de amigos festeiros se dá o direito supremo de fechar subitamente uma rua (ou várias) durante horas, sem permitir a passagem de uma ambulância, que dirá de um carro qualquer. Mal os foliões passam, atropelando alegremente canteiros e calçadas, o que resta é terra arrasada: as ruas transbordam de lixo e mau cheiro e tudo parece meio perdido, meio afônico. Este ano, porém, me surpreendi: os jornais noticiaram diariamente horários e circuitos dos principais blocos – informações que até o ano passado alguns deles optavam por manter em sigilo, sem nenhum remorso, para evitar um inchamento talvez inevitável. Fiquei sabendo também que a prefeitura fez uma série de exigências aos blocos, incluindo seu cadastramento antecipado (ainda nos primeiros dias de janeiro) e a instalação de banheiros químicos em seu percurso. Não é muito, eu sei, mas foi o bastante para que eu me sentisse um pouco mais cidadã em minha cidade.

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