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Surpreendente dádiva
Lucio Costa

“Como resultado de uma feliz conjugação de circunstâncias, "sans en avoir l'air" - como diria Marques dos Santos, antigo diretor do Museu Imperial de Petrópolis - a administração do Estado do Rio de Janeiro vai presentear a cidade com novas perspectivas urbanas que darão o devido destaque a mais quatro preciosos testemunhos do nosso passado colonial.

1º - A necessidade de nova articulação viária por causa do próximo bloqueio da rua Uruguaiana pelas obras do Metrô acelerou a demolição dos prédios remanescentes na área da Lapa, liberando assim, de ponta a ponta, o aqueduto da Carioca, os Arcos, como são conhecidos – monumento cujo patrono no IPHAN é José de Sousa Reis - o que levou à limitação do gabarito na encosta do morro a fim de incorporar para sempre ao logradouro a serena presença do convento de Santa Tereza.

2º - A feliz deliberação de deixar livre o triângulo contido entre a rua S. José e o edifício De Paoli, criou, com a praça também triangular fronteira ao BEG, novo eixo visual urbano, perpendicular à Avenida Rio Branco, que terá como remate contra o sol poente a extensa e rica silhueta do convento franciscano e respectiva ordem terceira. Esse conjunto será também valorizado pelo desafogo do Largo da Carioca, resultante igualmente das obras do Metrô, e pela iniciativa complementar de liberar a vista lateral, sobre a rua do mesmo nome, com os belos janelões da sacristia.

3º - O prolongamento do Elevado da Perimetral dará ensejo a que se descortinem as fachadas leste e norte do imponente mosteiro de São Bento com o seu famoso botaréu.

4 º - Finalmente, a necessidade da construção de uma passarela na Praça XV levou a administração a restituir aos pedestres o antigo Terreiro do Paço, procurando-se bloquear a vista, tanto do viaduto como do monumento ao General Osório, com um reforço adequado da arborização.

Esse aflorar de perspectivas coloniais que pareciam definitivamente sepultadas pelo indiscriminado adensamento urbano da massa edificada vai ser uma agradável surpresa para
todos os cariocas, pois com esta não contavam. "Il ne faut jamais désespérer".

Lucio Costa, 25/8/74

[Este texto foi entregue por Lucio Costa ao eng. Emilio Ibrahim, então secretário de Obras do Estado, em reunião do Conselho Superior de Planejamento Urbano do Estado da Guanabara - integrado, entre outros, também pelos arquitetos Paulo Santos e Jorge Machado Moreira. O original pertence ao arquivo pessoal do eng. Ibrahim, a quem agradeço. http://emilioibrahim.eng.br/]

Um comentário:

  1. Diria que o exemplo do link seria um "Surpreendente Mar Morto". Fazendo referência a seus dois bons posts.

    http://revistacrise.blogspot.com/2009/06/piscinoes-contra-enchente-nao-e-solucao.html

    E até quando isso continuará? Será que a blogosfera reverbera?

    Abraços.

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