Bienal de Veneza /
Caro Neville D'Almeida,
como eu lhe respeito, me sinto na obrigação de lhe dizer, um pouco constrangida, que o pavilhão do Brasil em Veneza é projeto de um dos maiores arquitetos brasileiros do séc XX: Henrique Mindlin (junto com Giancarlo Palanti, Walmyr Amaral e Nino Marchesin). É verdade que o pavilhão, projetado entre o final da década de 1950 e início da década de 1960, está em estado deplorável. Mas por que não cuidamos de recuperá-lo, devolvendo-lhe a sua dignidade? Seria também uma bela homenagem a Mindlin, cujo centenário de nascimento se celebra justamente este ano.
No mais, já pensou se todos os edifícios que estão em mau estado de conservação em Veneza fossem derrubados? E se fosse esse o caso, deveríamos entregar a tarefa de construir um pavilhão "ao nível da grande arte brasileira" a uma empreiteira, como você propõe? Não seria o caso de fazer um concurso público, convocar os melhores arquitetos brasileiros, ou quem sabe entregar o projeto a Paulo Mendes da Rocha, simplesmente?
Caro Neville, desculpe o meu tom assim um pouco aflito, mas por último quero lhe dizer também que em arquitetura, como em arte, tamanho nunca foi documento. Se o espaço expositivo é insuficiente, que se projete uma extensão, um anexo, outro pavilhão até. Já basta termos perdido o edifício do Jornal do Brasil, também projetado por Mindlin, no Rio.
Um abraço,
Ana Luiza Nobre
(a nota saiu hoje na coluna "Gente Boa", do jornal O Globo).
Ana,
ResponderExcluirlembrei de você quando li esse comentário do Neville D'almeida. Lembrei também de quando estive lá e de ter ficado maravilhado com o nosso pavilhão. Lembrei também do medíocre e se não bizarro pavilhão brasileiro da Expo Xangai, construído pelas empreiteiras, como sugere Neville. Lembrei de nossa arquitetura moderna e como muito bem você disse, que tamanho não é documento. Um grande abraço, Caio Calafate
Eu espero que haja uma certa ironia no comentário, o que ele quis dizer foi o seguinte: um país no qual empreiteiras e agro-business manda e desmanda e um país cujo Ministério da Cultura só tem a verba diminuida a cada ano que passa , talvez seja melhor entregar o pavilhão para uma empreiteira
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