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Uma oportunidade, muitos desafios / Será a primeira Olimpíada a ser realizada na América do Sul, o que para muitos já é motivo suficiente para comemoração. Mas o Rio também sediará a abertura dos jogos da Copa do Mundo, em 2014, o que explica a onda de otimismo - e mesmo euforia - que vem tomando a cidade desde sexta-feira passada.
Somados a outros projetos urbanísticos propostos ou já em andamento – como a revitalização da zona portuária, numa área central que compreende cerca de 5 milhões de m2 – a realização quase simultânea dos dois eventos esportivos deverá de fato definir uma transformação profunda da cidade nos próximos anos, capaz de reverter a enorme degradação que o Rio vem sofrendo nos últimos 50 anos, desde que a capital foi transferida para Brasília.
Não resta dúvida, portanto, de que estamos diante de uma oportunidade única. O que dizer, no entanto, do modo como projetos de tamanho impacto – em termos urbanísticos, econômicos, sociais e ambientais – vem sendo tratados? Por que motivo todas essas operações tem se caracterizado, por ora, tanto pela imposição de projetos altamente questionáveis, do ponto de vista da sua contribuição arquitetônica e urbanística, quanto pela ausência de diálogo com a maior parte da população direta ou indiretamente afetada? Com relação às Olimpíadas, mais uma vez não foi anunciado, nem sequer cogitado qualquer concurso público de projetos. Pelo contrário. As imagens que seguem enchendo as páginas dos jornais só mostram propostas medíocres, feitas claramente a toque de caixa, quase sempre anônimas ou assinadas por arquitetos cujo currículo sequer justifica o encargo. De acordo com o dossiê apresentado a imprensa pelo Comitê de Candidatura do Rio às Olimpíadas, quem assina o projeto da Vila Olímpica, por exemplo, é uma das maiores construtoras cariocas. Ora, como é que uma cidade marcada por tantos exemplares arquitetônicos reconhecidos internacionalmente permite que grandes projetos como esse sejam apócrifos? E pior: entregues a grandes empresas do ramo imobiliário que surgiram e se firmaram nas últimas décadas multiplicando empreendimentos de nenhuma qualidade arquitetônica e urbanística pela cidade?
Que venham as Olimpíadas, então. E com elas a reativação econômica da cidade, a reversão do esvaziamento do centro, a despoluição da Baía de Guanabara, o freio no desmatamento da Mata Atlântica e no crescimento das favelas, o equacionamento dos problemas de transporte, lixo e violência urbana. Mas também a valorização e a recuperação da arquitetura e do urbanismo de qualidade. Não pode ser muito esperar que as Olimpíadas deixem como legado, afinal, também a revitalização da arquitetura carioca, que já foi tão vigorosa – com Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Sergio Bernardes e muitos outros - mas hoje encontra-se em estado terminal.
Que venham as Olimpíadas, então. E com elas a reativação econômica da cidade, a reversão do esvaziamento do centro, a despoluição da Baía de Guanabara, o freio no desmatamento da Mata Atlântica e no crescimento das favelas, o equacionamento dos problemas de transporte, lixo e violência urbana. Mas também a valorização e a recuperação da arquitetura e do urbanismo de qualidade. Não pode ser muito esperar que as Olimpíadas deixem como legado, afinal, também a revitalização da arquitetura carioca, que já foi tão vigorosa – com Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Sergio Bernardes e muitos outros - mas hoje encontra-se em estado terminal.
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