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Hadid e Schumaker no Fundão / Sinceramente, não me lembro de ter visto nada assim antes. Quando estudei na FAU-UFRJ, lá pelos anos 80, o sábado costumava ser um dia ainda mais morto do que os outros, em que a gente evitava a todo custo sequer passar por lá. Mas desta vez, uns 40 minutos antes da hora marcada a fila já atravessava o pilotis, o jardim e ia até a rua.
Calculo que deviam ter umas 2000 pessoas, entre alunos (de várias escolas) e professores (de várias escolas, áreas e gerações), esperando por Zaha Hadid e Patrick Schumaker ontem de manhã. E isso em pleno sábado de sol, na Ilha do Fundão. Um emocionante e inesquecível sinal de recuperação da escola onde estudei, e com ela, da própria arquitetura no Rio de Janeiro.
No telão instalado no hall, as formas maleáveis da “arquitetura paramétrica” de Hadid e Schumaker contrastavam com as linhas rigorosas da arquitetura de Jorge Machado Moreira, justamente num de seus edifícios mais emblemáticos (que finalmente e felizmente, começa também a ser recuperado).
Schumaker montou um breve esquema histórico para definir o “Parametricismo” como o “estilo do século XXI”, sucessor do Modernismo e do que ele chamou de “episódios intermediários” do Pós-modernismo e do Deconstrutivismo. Num percurso retilíneo, sempre acompanhado de imagens vistosas, e em boa parte já bem conhecidas, traçou um panorama que partiu de primitivas colônias africanas e passou à cidade medieval (ilustrada com Arles e Siena), ao Renascimento (o “Big Bang da Arquitetura”, ilustrado com Palmanova) e ao Barroco (Versalhes e o Palácio Carignano, de Guarini), e por fim ao Modernismo (o edifício da Bauhaus, de Gropius, e a Ville Radieuse, de Le Corbusier), o Pós-Modernismo (Venturi e Charles Jencks) e o Deconstrutivismo (Tschumi), e daí ao Parametricismo – ou seja, o seu próprio trabalho, em conjunto com Hadid.
Com um discurso enfático e assertivo, apoiado por sua partner (que se sentou ao seu lado e preferiu falar menos, mas mostrou-se igualmente disponível e bem-humorada), o confiante Schumaker defendeu, assim, sua tese central: a de que a arquitetura precisa reconstruir sua especificidade e poética própria, desligando-se de outras disciplinas (listadas num peculiar quadro comparativo que procurou relacionar a arquitetura à arte, ciência, medicina, educação, política e economia). E para isso, os arquitetos precisam “criar um impacto, como o Modernismo fez”. Mas sem repetir seus princípios (resumidos na tríade “separação, especialização e repetição”), e sim buscando outros: a saber, a variação, a diferenciação e a correlação, potencializados pelo uso das ferramentas oferecidas pelas novas tecnologias (modelagem e simulação digital, basicamente).
Isto é o que Schumaker denomina de "Parametricismo": uma “teoria unificada”, supostamente capaz de resumir e superar todas as outras teorias contemporâneas, e basicamente definido em termos de superfícies não planares e formas maleáveis, em vez de formas ideais e sólidos geométricos; e de sistemas interconectados e correlacionados, em vez de unidades autônomas e autosuficientes.
Foram indicadas rapidamente algumas referências, como os sistemas da natureza e as tensoestruturas de Frei Otto. E embora os edifícios ministeriais de Niemeyer em Brasília tenham surgido como exemplo da repetição e monotonia que se quer deixar para trás, o mesmo Niemeyer foi valorizado, num momento seguinte, por sua maneira muito peculiar de “manipular o solo”. Junto com Artigas, por seus “espaços profundos” e suas grandes coberturas.
Depois de duas horas, a dupla Schumaker+Hadid deixou no ar um otimismo contagiante, sobretudo para os mais jovens. Mas não avançou muito além do esquematismo, e assim não chegamos nem perto de uma reflexão sobre as complexas relações entre as redes digitais e a cidade contemporânea, nem ficamos sabendo minimamente como aquelas deliciosas formas se constroem, com que materiais e por que meios. E se a vertiginosa cascata de imagens com que Schumaker encerrou sua fala mostrou que a sua pesquisa tem dado muitos frutos notáveis (do qual o MAXXI, em Roma, é um dos exemplos mais recentes, e certamente um dos mais polêmicos), também indicou o risco de que essa mesma pesquisa venha a se esgotar numa especulação formal leviana, passível de servir indistintamente a um museu ou a uma sandália.
Calculo que deviam ter umas 2000 pessoas, entre alunos (de várias escolas) e professores (de várias escolas, áreas e gerações), esperando por Zaha Hadid e Patrick Schumaker ontem de manhã. E isso em pleno sábado de sol, na Ilha do Fundão. Um emocionante e inesquecível sinal de recuperação da escola onde estudei, e com ela, da própria arquitetura no Rio de Janeiro.
No telão instalado no hall, as formas maleáveis da “arquitetura paramétrica” de Hadid e Schumaker contrastavam com as linhas rigorosas da arquitetura de Jorge Machado Moreira, justamente num de seus edifícios mais emblemáticos (que finalmente e felizmente, começa também a ser recuperado).
Schumaker montou um breve esquema histórico para definir o “Parametricismo” como o “estilo do século XXI”, sucessor do Modernismo e do que ele chamou de “episódios intermediários” do Pós-modernismo e do Deconstrutivismo. Num percurso retilíneo, sempre acompanhado de imagens vistosas, e em boa parte já bem conhecidas, traçou um panorama que partiu de primitivas colônias africanas e passou à cidade medieval (ilustrada com Arles e Siena), ao Renascimento (o “Big Bang da Arquitetura”, ilustrado com Palmanova) e ao Barroco (Versalhes e o Palácio Carignano, de Guarini), e por fim ao Modernismo (o edifício da Bauhaus, de Gropius, e a Ville Radieuse, de Le Corbusier), o Pós-Modernismo (Venturi e Charles Jencks) e o Deconstrutivismo (Tschumi), e daí ao Parametricismo – ou seja, o seu próprio trabalho, em conjunto com Hadid.
Com um discurso enfático e assertivo, apoiado por sua partner (que se sentou ao seu lado e preferiu falar menos, mas mostrou-se igualmente disponível e bem-humorada), o confiante Schumaker defendeu, assim, sua tese central: a de que a arquitetura precisa reconstruir sua especificidade e poética própria, desligando-se de outras disciplinas (listadas num peculiar quadro comparativo que procurou relacionar a arquitetura à arte, ciência, medicina, educação, política e economia). E para isso, os arquitetos precisam “criar um impacto, como o Modernismo fez”. Mas sem repetir seus princípios (resumidos na tríade “separação, especialização e repetição”), e sim buscando outros: a saber, a variação, a diferenciação e a correlação, potencializados pelo uso das ferramentas oferecidas pelas novas tecnologias (modelagem e simulação digital, basicamente).
Isto é o que Schumaker denomina de "Parametricismo": uma “teoria unificada”, supostamente capaz de resumir e superar todas as outras teorias contemporâneas, e basicamente definido em termos de superfícies não planares e formas maleáveis, em vez de formas ideais e sólidos geométricos; e de sistemas interconectados e correlacionados, em vez de unidades autônomas e autosuficientes.
Foram indicadas rapidamente algumas referências, como os sistemas da natureza e as tensoestruturas de Frei Otto. E embora os edifícios ministeriais de Niemeyer em Brasília tenham surgido como exemplo da repetição e monotonia que se quer deixar para trás, o mesmo Niemeyer foi valorizado, num momento seguinte, por sua maneira muito peculiar de “manipular o solo”. Junto com Artigas, por seus “espaços profundos” e suas grandes coberturas.
Depois de duas horas, a dupla Schumaker+Hadid deixou no ar um otimismo contagiante, sobretudo para os mais jovens. Mas não avançou muito além do esquematismo, e assim não chegamos nem perto de uma reflexão sobre as complexas relações entre as redes digitais e a cidade contemporânea, nem ficamos sabendo minimamente como aquelas deliciosas formas se constroem, com que materiais e por que meios. E se a vertiginosa cascata de imagens com que Schumaker encerrou sua fala mostrou que a sua pesquisa tem dado muitos frutos notáveis (do qual o MAXXI, em Roma, é um dos exemplos mais recentes, e certamente um dos mais polêmicos), também indicou o risco de que essa mesma pesquisa venha a se esgotar numa especulação formal leviana, passível de servir indistintamente a um museu ou a uma sandália.
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