Roadtrip to Rem
"Terça-Feira, 23, estava fazendo minha inspeção diária aos posts sobre arquitetura e, por acaso, li em algum lugar, em que não me lembro de ter entrado antes, que Koolhaas daria uma palestra no Sesc Pompéia no dia seguinte. Umas semanas atrás, estava procurando intensamente alguma noticia sobre a “maratona” em que Hans Ulrich entrevistaria Rem Koolhaas, Vik Muniz e Hebe Camargo, entre outros, no Rio. Sem conseguir qualquer notícia muito concreta, e após conversar com amigos, concluí que o evento tinha sido cancelado. A notícia sobre São Paulo veio então substituir minha frustração. Desse momento em diante estava disposto a fazer o que fosse necessário para ouvir Koolhaas em São Paulo.
Liguei pro Sesc, e após ser redirecionado para todos os ramais internos, me perguntaram se eu tinha recebido um convite, sem o qual não seria possível entrar. Perguntei como tinha sido feita a distribuição dos convites e não souberam me informar, mas disseram que o Instituto Bardi havia organizado o evento. Liguei pro Instituto e fui de novo redirecionado algumas vezes, até chegar a uma moça simpática que explicou que o convite havia sido oferecido a poucas pessoas mas havia a possibilidade de enviar um e-mail solicitando uma vaga. Ela me passou o endereço, já dizendo que seria difícil, porém deixando alguma esperança. Liguei pra uns amigos, um deles disse da possibilidade de ficarmos na casa de uma amiga em SP, consegui o carro com meu pai e coloquei uma escova de dentes e um par de roupas na mochila. Mas até quarta-feira, às onze horas, não tive resposta. Liguei então novamente pro Instituto e fiquei sabendo da possibilidade de retirar ingressos na entrada, pois os convites que não fossem utilizados seriam distribuídos por ordem de chegada. Fiquei um tempo explicando que sairia do Rio de Janeiro especialmente pra isso, e como a palestra era importante pra mim, mas a moça simpática disse que não era possível garantir mais convites, e só. Saímos do Rio às 15h, sem convite e sem nunca ter andado de carro em São Paulo, mas confiantes no desempenho de um pequeno GPS que levávamos conosco. Na primeira hora de viagem o celular de uma amiga vibrou, com a confirmação dos nossos convites recebida por e-mail. Pelo visto a moça simpática se sensibilizou com o nosso caso, agora a viagem seria menos tensa.
Acredito que o episódio reflete dois problemas atuais da arquitetura no Brasil:
1) seu isolamento em relação às demais áreas do conhecimento. Um autismo que parece vir de uma tentativa (febril) de proteção ou auto valorização, culminando em uma especialização que impede a troca com outras disciplinas. É o arquiteto que só consegue conversar com arquiteto e desmerece qualquer comentário vindo de outra área, num processo de auto-exclusão que dá no que deu: um dos maiores arquitetos do mundo vem ao país e o que era pra ser do interesse de todos acaba passando quase em branco.
2) a ausência de um ambiente transparente de discussão critica sobre nossa profissão. O fato de uma palestra dessa importância ser fechada, ou tão restrita, mostra que ainda não estamos preparados para este tipo de debate. Acredito que isto tem a ver com a base do nosso sistema de ensino, ainda beaux-artiano, em que o arquiteto é ensinado a “fazer arquitetura”, e o debate e a critica são marginalizados.
RK começa sua fala definindo um herói: alguém sem defeito e admirado. Diz que o que fizemos até agora foi a construção e mitificação dos nossos próprios heróis. E propõe o processo inverso, de desmitificação, como alternativa para começar a construir um ambiente mais fértil à discussão e produção intelectual. Sempre cético, Koolhaas estrutura sua palestra com base num diagrama de sua trajetória pessoal. Um gráfico com dois componentes principais variando ao longo do tempo: a economia de seu escritório e a economia mundial. E dividido em 5 fases: “Starving artist, Start up, Take off, Star architect, Retreat”. O diagrama já tinha sido apresentado dois meses antes numa palestra no Berlage Institute em Rotterdam (ver “Three in one” aqui: http://vimeo.com/25071414). Desta vez, porém, RK opta por uma explicação mais detalhada da sua trajetória, volta e meia pautada por uma referência ao universo brasileiro – como quando citou os prédios da Esplanada dos ministérios em Brasília como um dos motivos de ter se tornado arquiteto.
Pessoalmente, achei a palestra fantástica. Gosto de como RK responde às perguntas, mesmo quando elas são péssimas. Parece que nunca descansa, está sempre contestando a posição em que ele mesmo se encontra. Ao ser perguntado sobre seu sentimento em relação à cidade de São Paulo, por exemplo, respondeu que era necessário distinguir sentimento de impressões, e disse que como intelectual não deveria passar impressões.
Vejo sua vinda como um marco do momento que nossa arquitetura está vivendo, uma fase de reajuste de valores e escolhas de novas direções. Fico feliz de ter feito este esforço pra ir assisti-lo e de ter feito parte do público jovem que estava lá. Mas espero que com isso coloquemos em debate a maneira como discutimos arquitetura e quais os meios que utilizamos para fazê-lo.
Aliás, filmaram a palestra, só falta divulgar. "
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Koolhaas / Por um telefonema recebido no meio da tarde de quarta, fiquei sabendo que Rem Koolhaas estava no Brasil. Se eu tivesse sabido antes, provavelmente teria ido ouvi-lo no SESC Pompéia, em S.Paulo, no dia seguinte. E acredito que muitas outras pessoas também. Mesmo que a informação - também incerta - fosse de que era necessário apresentar um convite, concedido não sei por quem, a um público bem restrito.
Bom, mas então estou aqui juntando as notícias que me chegam, daqui e dali: que ele contou que um de seus interesses pela arquitetura nasceu quando viu fotos de Brasília na revista Time, aos 15 anos. Que comparou São Paulo a Jacarta e Lagos. E que também transitou pelo Rio (pela segunda vez, pelo menos), onde visitou o MAM. Mas não é pouco para um arquiteto tão grande?
A foto acima é de Paulo Liebert e foi extraída de matéria publicada no Estado de São Paulo: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,sp-parece-jacarta-e-lagos-diz-koolhaas,763931,0.htm
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Parque Olímpico / Então é isto: o concurso foi vencido pelo escritório inglês AECOM, também responsável pelo plano geral urbanístico do Parque Olímpico de Londres. A equipe foi coordenada por um arquiteto americano, Bill Hanway, em parceira com o brasileiro Daniel Gusmão.
Sobre este, só o que sei, por ora, é o que o Google me diz: que é formado pela UFRJ e fez mestrado na Universidade da Pensylvania, onde trabalhou por oito anos no escritório KMD – Kaplan McLaughlin Diaz Architects. E desde 2004, tem escritório no Rio: http://www.dg-arq.com/
O segundo lugar ficou com o projeto do arquiteto americano Ron Turner, que trabalhou em associação com os escritórios cariocas Coutinho, Diegues & Cordeiro e Miguel Pinto Guimarães. E o terceiro foi dado a um arquiteto português, Tomás Almeida Fernandes Salgado.
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Parque Olímpico / Sexta agora, dia 19, às 9:30, sai a divulgação do resultado do concurso internacional de projetos para o Parque Olímpico. A cerimônia, aberta a todos, será no Parque Aquático Maria Lenk, na Av. Embaixador Abelardo Bueno, s/n° - Portão 4 (Complexo Esportivo do Autódromo, Barra da Tijuca). Todos os projetos concorrentes (60, no total) estarão em exposição lá mesmo na sexta, e a partir de terça-feira na sede do IAB.
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Dutão / Os viadutos são, em geral, deplorados como um dos piores legados do urbanismo modernista. Seu traçado, quase sempre alheio ao tecido urbano existente e justificado por argumentos estritamente técnicos (sobretudo do ponto de vista da eficácia do tráfego automobilístico), gerou, de fato, muitas cicatrizes e feridas que permanecem abertas no espaço urbano.
Mas o viaduto é também uma grande cobertura. Uma espécie de gigantesca marquise que aos poucos a cidade, bem ou mal, incorpora – como tudo ou quase tudo, parece - e passa a abrigar uma série de atividades imprevistas e surpreendentes: uma feira de usados (sob a Perimetral, na Praça XV), uma academia de boxe improvisada (sob o viaduto do Café, em São Paulo). Ou o Baile Charme em Madureira, subúrbio do Rio. O baile já completou vinte anos e transformou o Viaduto Negrão de Lima em “Dutão”, numa clara demonstração da relação afetiva que também pode surgir entre uma agressiva obra viária e a comunidade local.
Mas o viaduto é também uma grande cobertura. Uma espécie de gigantesca marquise que aos poucos a cidade, bem ou mal, incorpora – como tudo ou quase tudo, parece - e passa a abrigar uma série de atividades imprevistas e surpreendentes: uma feira de usados (sob a Perimetral, na Praça XV), uma academia de boxe improvisada (sob o viaduto do Café, em São Paulo). Ou o Baile Charme em Madureira, subúrbio do Rio. O baile já completou vinte anos e transformou o Viaduto Negrão de Lima em “Dutão”, numa clara demonstração da relação afetiva que também pode surgir entre uma agressiva obra viária e a comunidade local.
Difícil descrever o baile. O espaço é formado basicamente por dois recintos contíguos, definidos pela estrutura do viaduto e suas alças de acesso. Um cercado em chapa metálica envolve uma área onde há duas ou três barraquinhas de bebida e salgadinhos (o ingresso é pago: 3 Reais a dama e 5 o cavalheiro) e banheiros na extremidade oposta (sem água, mas com papel higiênico à vontade). Há também mesas e cadeiras de plástico vermelho, onde poucos se sentam, e só. O DJ fica diante de três pilares coloridos (um deles é rosa). E os freqüentadores são homens e mulheres – mais homens que mulheres, e em sua maioria negros – que se vestem com capricho para ir dançar sob o viaduto, ao som de uma versão eletrônica da black music dos anos 70, numa coreografia coletiva cujos passos a maioria conhece, intui ou pelo menos segue (a quem? difícil saber).
As fotos são da Cecilia e foram feitas ontem, por volta da meia-noite. Uma hora antes, quando chegamos, pensamos que não havia nada ali.
As fotos são da Cecilia e foram feitas ontem, por volta da meia-noite. Uma hora antes, quando chegamos, pensamos que não havia nada ali.
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Desconexão / Podia ser Matta-Clark. Mas é o estado atual da minha cozinha, depois que pisei outro dia numa misteriosa poça d'água, junto do fogão. Sou arquiteta e moro num edifício de classe média alta num dos bairros mais valorizados desta cidade que se transforma em ritmo cada vez mais acelerado para sediar os megaeventos que vem por aí. Mas se de repente aparece uma poça d'água no chão da minha cozinha, é isto: corro desesperadamente atrás de alguém cujo nome mal sei, mas a quem dou o direito de entrar na minha casa, cheio de ferramentas toscas, e sair quebrando a minha parede diante dos meus olhos incrédulos, até encontrar, sob o azulejo, um inofensivo - aparentemente - joelho de plástico. Rachado. Então basta dar um pulo na esquina, comprar uma nova conexão, idêntica à anterior, e colar ali, numa junção de materiais e elementos díspares que francamente não pode durar muito. Depois de uns dias, se eu tiver sorte e a água não voltar a jorrar noutro ponto da casa, o bom moço volta, corta uns azulejos, aplica-os de volta na parede e fecha tudo (usando, com enorme destreza, um pedaço gasto de sandália havaiana para nivelar a superfície). E então eu não vejo mais nada, só um pequeno remendo ali a me lembrar que haverá sempre uma infiltração qualquer, em estado de latência, em algum ponto cego da casa. Agora tenho uma cozinha semi-destruída diante de mim, mas agradeço ao bom-moço, acerto as contas com ele e rezo para que isso nunca mais me aconteça. Deus do céu, quando é que a arquitetura vai acertar o passo com a tecnologia?
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Bienal Buenos Aires / "RioNow" deve ser o título da minha apresentação na XIII Bienal de Arquitetura de Buenos Aires, que acontece entre 10 e 14 de outubro. E do que mais eu poderia falar, senão de como vejo minha cidade agora? A programação está aqui: http://www.bienalba.com/
Bienal Buenos Aires / "RioNow" deve ser o título da minha apresentação na XIII Bienal de Arquitetura de Buenos Aires, que acontece entre 10 e 14 de outubro. E do que mais eu poderia falar, senão de como vejo minha cidade agora? A programação está aqui: http://www.bienalba.com/
5
Parque Olímpico / Sexta que vem, dia 19, sai o resultado do concurso do Parque Olímpico. 60 equipes do mundo inteiro estão disputando o projeto. Ouvi dizer que há equipes fortes concorrendo, como as de Zaha Hadid, Rafael Vinoly e Paulo Mendes da Rocha. Mas a confirmação só virá mesmo quando o resultado sair e os projetos forem identificados. A divulgação do resultado será no Parque Maria Lenk, em Jacarepaguá.
Em tempo: a coordenação do concurso nesta reta final ficou a cargo do arq Alder Catunda (que substituiu o arq João Pedro Backeuser, vencedor do concurso do Porto Olímpico).
4
Metrô / As obras do metrô na Barra da Tijuca seguem em ritmo acelerado. Mas sua conexão com o sistema metroviário existente continua gerando polêmica. Amanhã, segunda, o movimento "O Metrô que o Rio precisa" promove uma discussão sobre o assunto no pilotis da PUC. O movimento é formado por 30 associações de moradores e representantes da sociedade civil e defende o traçado original da Linha 4 (Jardim Oceânico-Centro), passando pela Gávea, Jardim Botânico, Humaitá e Laranjeiras (conforme o mapa ao lado, e não como um prolongamento da já saturada linha 1, passando por Ipanema e Leblon, conforme opção anunciada pelo Governo do Estado). A mesa será composta por vereadores e especialistas em transportes. No pilotis, das 12 às 14 horas.
3
"A Cidade como logomarca" / É, acho que não vai dar pra passar sem o jornal. Todo o caderno Prosa & Verso d'O Globo de hoje é dedicado à arquitetura e à cidade, e alimenta a discussão sobre os megaeventos que estão transformando o Rio. Tem entrevistas e artigos de Carlos Vainer, Raquel Rolnik, Jean Comaroff, Beatriz Jaguaribe, Margareth Pereira, Sergio Bruno Martins, Paulo Thiago de Mello, além da minha resenha do catálogo do concurso Morar Carioca.
"A Cidade como logomarca" / É, acho que não vai dar pra passar sem o jornal. Todo o caderno Prosa & Verso d'O Globo de hoje é dedicado à arquitetura e à cidade, e alimenta a discussão sobre os megaeventos que estão transformando o Rio. Tem entrevistas e artigos de Carlos Vainer, Raquel Rolnik, Jean Comaroff, Beatriz Jaguaribe, Margareth Pereira, Sergio Bruno Martins, Paulo Thiago de Mello, além da minha resenha do catálogo do concurso Morar Carioca.
2
Jornal sem Beiras / Cansei de ler jornal. Mas não consigo suspender a minha assinatura. Nas últimas duas semanas, pelo menos uma vez por dia me liga uma moça muito gentil oferecendo descontos e vantagens cada vez maiores e mais tentadoras. Já tentei de tudo: disse a ela que estou de mudança pro exterior, que não tenho dinheiro, que morri. Já estou quase lhe dizendo a verdade: que não quero mais ler jornal. Procuro notícias que não estão nas bancas. E encontro: na minha calçada cotidiana, me deparo esta manhã com o "jornal de artigos não lidos". São notícias de favelas, pregadas aos tapumes da Gávea. O texto é longo e eu tenho pressa, mas paro diante do fusca-dinossauro, leio e gosto. Depois, já em casa, descubro que o jornal é projeto de uma designer de Bruxelas, Annelies Vaneycken, e integra o Europalia, festival bienal de arte que acontece em outubro na Bélgica, e este ano é dedicado ao Brasil (incluindo exposições de Paulo Mendes da Rocha, Lelé, Sergio Bernardes, Volpi, Neoconcretismo e mais) . Está aqui: http://www.reporter-sem-beiras.info/. Ou por aí, pela cidade.
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Annelis Vaneycken,
Europalia,
Jornal de artigos não lidos
Posto 8 / ago 10
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Art Déco / Entre os dias 14 e 21, o Rio vai sediar o 11º Congresso Mundial de Art Déco. Os "World Congress on Art Déco" são organizados pela International Coalition of Art Déco Societies (ICADS) e acontecem bienalmente desde 1991. Os três últimos congressos foram realizados em Nova York, Melbourne e Montreal. No Rio, o encontro vai se realizar no Hotel Windsor Atlântica, mas a programação inclui visitas a coleções particulares e até ao Cristo Redentor. Ver aqui: http://www.congressoartdecorio.com/index.html
Art Déco / Entre os dias 14 e 21, o Rio vai sediar o 11º Congresso Mundial de Art Déco. Os "World Congress on Art Déco" são organizados pela International Coalition of Art Déco Societies (ICADS) e acontecem bienalmente desde 1991. Os três últimos congressos foram realizados em Nova York, Melbourne e Montreal. No Rio, o encontro vai se realizar no Hotel Windsor Atlântica, mas a programação inclui visitas a coleções particulares e até ao Cristo Redentor. Ver aqui: http://www.congressoartdecorio.com/index.html
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