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O fim da arquitetura carioca / Não se falou noutra coisa a semana toda. A foto do trio formado pelo prefeito, governador e presidente – todos sorridentes e portando quepes de almirante - resumiu a confiança que cerca o projeto “Porto Maravilha”, lançado oficialmente pela prefeitura na última terça-feira. Pela proposta, a área portuária do Rio de Janeiro vai passar por uma reforma completa nos próximos cinco ou seis anos, que inclui amplas intervenções urbanísticas e a construção de vários equipamentos comerciais e culturais, além de moradias. O lote de obras compreende a demolição de parte da av. Perimetral (entre o Mosteiro de São Bento e a Rodoviária) e sua substituição por uma via interna (paralela à av. Rodrigues Alves), a "urbanização" da Praça Mauá e do Pier Mauá e a construção de três novos piers. Deverão também ser construídas cerca de 500 unidades habitacionais (com a recuperação de imóveis antigos na região portuária, através do programa Novas Alternativas), uma garagem subterrânea (sob a Praça Mauá, com capacidade para até mil veículos) e equipamentos de cultura e entretenimento (a pinacoteca do Estado no palacete D. João VI, na Praça Mauá, e o Museu do Amanhã, nos armazéns 5 e 6 do cais). Na esteira do projeto, surgiu até um complexo de salas de escritórios e hotel a la Dubai, a ser construído na av. Rodrigues Alves, em frente aos armazéns 4 e 5. Tudo isso, claro, depende de mudanças na legislação, que terão que ser aprovadas agora pela Câmara dos Vereadores, já que a área atualmente é definida como industrial.
Em meio ao farto material de divulgação, não foi anunciado nenhum concurso público de projetos. Tampouco apareceu qualquer nome de arquiteto ou urbanista. Todas as imagens divulgadas têm mostrado projetos pífios, sem nenhuma qualidade arquitetônica ou urbanística – a começar pelo Pier Mauá, que pelo jeito vai se transformar numa pracinha de interior, com direito a quiosques, chafarizes e até um "arco triunfal". A degradação da área portuária carioca é um fato. Mas isso não pode justificar a realização de projetos sem nenhuma qualidade arquitetônica ou urbanística, feitos sabe-se lá por quem ou como. Somado aos projetos para as Olimpíadas, a Copa do Mundo e às novas instalações da Petrobrás na Cidade Universitária, os projetos para a zona portuária vão definir uma transformação profunda do Rio de Janeiro nos próximos anos. Isso poderia ser decisivo para retirar a arquitetura carioca do buraco em que está, dando estímulo inclusive a produção mais jovem. Mas se tudo seguir como está – com projetos surgindo a toque de caixa, sem nenhum concurso público à vista, e os arquitetos em total silêncio - será mesmo o fim da arquitetura carioca.
Na verdade os projetos tanto do Museu do Amanhã na Zona Portuária, quanto do Museu da Imagem do Som em Copacabana estão sendo desenvolvidos por arquitetos "Internacionais"(Daniel Libeskind e Shigeru Ban). A escolha dos arquitetos foi feita pela Fundação Roberto Marinho com alguns arquitetos da prefeitura. Da mesma forma que foi escolhido Christian de Poztamparc e Jean Nouvel, ou seja, não é feito concurso, nem licitação e se despreza totalmente a possibilidade de existir algum arquiteto no Rio, ou no Brasil mesmo, que seja capaz de desenvolver um bom projeto de Centro Cultural. De certa forma acredito que isto se justifique porque os grandes projetos feitos nos ultimos anos foram delegados a arquitetos medíocres (o projeto para o AquaRio na zona portuária de Alcides Horácio Azevedo, da Alhora Arquitetos Associados, bem como os ultimos projetos para a cidade do Índio da Costa e Paulo Casé, e muitos dos estádios projetados para a Copa 2014, são todos uma vergonha).
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